O preço das fotos que Jair Bolsonaro mencionou em seus discursos em Brasília e São Paulo ainda precisa ser determinado.
As imagens mostraram grandes atos de apoio ao presidente, mas o efeito líquido é um país com previsibilidade ainda menor do que a existente antes de Sete de Setembro.
Os primeiros sinais das manifestações convocadas por Bolsonaro contrariaram a imagem que o presidente supostamente cultiva, de Ordem e Progresso. Na noite de segunda-feira (6) houve invasão à área que deveria ter ficado isolada na Esplanada dos Ministérios. Nesta terça-feira (7), o dia começou com bloqueio ao menos parcial de rodovias.
A adesão dos caminhoneiros é emblemática: a greve da categoria, estimulada por Bolsonaro em maio de 2018, abortou um ensaio de recuperação e provocou prejuízos ao longo de meses. Os caminhoneiros levavam cartazes com a inscrição "Bolsonaro 2022". É disso que se trata, e está sob escrutínio: tratou-se, afinal, de um ato de campanha?
Se sim, Bolsonaro pode ser responsabilizado, inclusive com a inelegebilidade que tanto teme. Nada de muito grave aconteceu – não houve, por exemplo, confronto entre manifestantes de alas opostas –, mas os discursos de viés antidemocrático foram suficientes para manter elevado o nível de tensão e baixas as expectativas de alguma estabilidade no pós-Sete de Setembro.
O presidente encerrou o dia provavelmente se sentindo mais forte diante de seus seguidores, mas nada disse ou fez – e não há indicativo de que fará – em favor dos brasileiros acossados pelo aumento de preços, pela crise energética e pela falta de recursos para sustentar programas sociais robustos. Diante desse público, com a piora objetiva das condições de vida, o presidente está mais fragilizado. Prometeu muito, entregou pouco. São soluções para esses problemas que o povo de verdade espera.
No discurso de São Paulo, Bolsonaro elevou o nível de incerteza ao dizer que que não cumprirá decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Avisou, como se fosse normal, que vai descumprir uma ordem da Suprema Corte. O presidente gosta, mesmo, de campanha, como fez neste Sete de Setembro. Governar é muito complicado. E não se resolve com fotos de multidão.