Antes de chegar à manifestação da Avenida Paulista, o presidente Jair Bolsonaro já tinha conseguido atingir o que era seu objetivo desde que passou a viver para o Sete de Setembro: imagens em profusão de apoiadores vestidos de verde e amarelo e sons de gritos contra seus principais alvos. O presidente, que despreza a vacina, conseguiu uma espécie de antídoto para usar sempre que as pesquisas mostrarem que está em desvantagem ou que seu governo é mal avaliado. Ou para hipnotizar os seguidores diante das notícias desfavoráveis da vida real, como a inflação, a crise energética ou as acusações de irregularidades envolvendo a prole.
Em Brasília, no meio da massa verde-amarela, liam-se pregações antidemocráticas, francamente golpistas, que encorajaram o presidente a atacar outro poder, incitar a multidão contra o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, falar em convocar o Conselho da República e repetir as ameaças que se tornaram rotina nos últimos meses, até aqui sem reação dos agredidos.
Para além da multidão que foi às ruas expressar seu apoio ao governo ou o protesto contra as instituições que difama, Bolsonaro contou com a ajuda dos opositores desnorteados, que cometeram erros estratégicos em sequência. O primeiro foi subestimar a capacidade de mobilização das tropas bolsonaristas, apoiadas pela força do agronegócio, dos caminhoneiros e das redes sociais visíveis e invisíveis. O segundo, decorrente dessa avaliação equivocada, foi marcar protestos para o mesmo dia, sem considerar que as imagens lhes seriam amplamente desfavoráveis, dada a dispersão dos contrários.
A massa bolsonarista mostrou-se monolítica. Mesmo que parte dos que foram às ruas sustentem que o fizeram por patriotismo ou defesa da liberdade, a verdade é que desde 2016 a bandeira brasileira foi sequestrada por esse fenômeno que atende por antipetismo, anticomunismo, antiesquerdismo, anticorrupção, antitudo "o que está aí".
Os que não querem a continuidade de um governo que ataca as instituições democráticas e despreza valores civilizatórios estão pulverizados em pequenas bolhas, incapazes até aqui de produzir qualquer coisa próxima da unidade. Tanto é assim que mesmo os líderes dos partidos que estão fechados contra Bolsonaro se dividiram em relação a ir ou não ir para as ruas no Sete de Setembro. E uma parte, que apoiou Bolsonaro em 2018, marcou sua própria manifestação para o dia 12.
As imagens produzidas no Sete de Setembro desmentem as pesquisas que, invariavelmente, mostram avaliação negativa do governo amplamente superior à positiva? A resposta é não. Bolsonaro tem, em média, 25% do eleitorado, índice mais do que suficiente para levá-lo ao segundo turno em um ambiente de polarização. São esses mesmos que avaliam seu governo como ótimo ou bom. À maioria silenciosa, que ainda não entrou no clima eleitoral, falta um catalizador.
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