Em jogo que não valeu só um título, mas que se estabeleceu como um marco no combate ao racismo, o Grêmio sagrou-se campeão da Ladies Cup. Neste domingo (22), o time da técnica Thaissan Passos derrotou o Bahia por 2 a 1 nas penalidades e levantou a taça no estádio do Canindé, em São Paulo, na final da competição.
No tempo normal, a partida terminou empatada em 1 a 1, com gol de Maria Dias para o Grêmio e Kaiuska para o Bahia. Nas cobranças decisivas, Vivi pegou três pênaltis, enquanto Dayana Rodríguez e Shashá converteram.
É a primeira vez que o Tricolor conquista a Ladies Cup. Além da taça, clube fica com o prêmio de R$ 50 mil. São Paulo (2021), Flamengo (2022) e Inter (2023) venceram as outras edições do campeonato. As Gurias Gremistas conquistaram a taça na categoria sub-20, em 2023.
A decisão
Debaixo do calor e do abafamento da tarde paulistana, o primeiro tempo foi de poucas oportunidades. Gisele quase abriu o placar para o Grêmio, mas desperdiçou chance dentro da pequena área e chutou para fora.
O Bahia tentou com Ju Oliveira pouco depois. A atacante arrematou de longe, e a goleira Vivi defendeu.
O gol das Gurias Gremistas partiu do cruzamento preciso da venezuelana Dayana Rodríguez pela ponta direita. De cabeça, Maria Dias, perto da marca do pênalti, balançou as redes aos 19 minutos.
Na volta do intervalo, o time gaúcho seguiu na pressão. Dayana Rodríguez quase marcou novamente em contra-ataque, após belo lançamento de Raquel. No primeiro chute, a goleira Yanne pegou. No segundo, a zagueira Aila salvou.
O empate, contudo, veio aos 20 minutos. Dani Barão afastou lançamento, e a bola sobrou nos pés de Luana. A camisa 10 encontrou Kaiuska nas costas de Shashá, e a atacante fez o 1 a 1.
Nos 28 minutos que se seguiram — com três de acréscimos na etapa final —, ninguém conseguiu a vantagem no tempo normal. E tudo ficou para o nervosismo nas penalidades.
Combate ao racismo
Grêmio e Bahia entraram no gramado do Canindé com duas faixas. "Não ao racismo", eram os dizeres.
— Nós, do Grêmio, um clube de todos, ergueremos a nossa voz, e combateremos o racismo sempre, dentro e fora das quatro linhas — leu, em manifesto, Dani Barão, lateral-direita do Grêmio.
A zagueira Aila Santana, do Bahia, também leu um pronunciamento sobre o assunto. Atletas de ambos os times ficaram de punhos cerrados e erguidos antes de a bola rolar, como posição simbólica de combate à discriminação racial.
As Gurias Gremistas vestiram o terceiro uniforme, inspirado no lateral-direito Everaldo, jogador negro e primeiro atleta do clube a ser campeão do mundo com a Seleção Brasileira, em 1970. As camisetas tinham o patch do Clube de Todos, projeto voltado à luta contra a intolerância e à discriminação.
A ação foi motivada pelas injúrias raciais cometidas por jogadoras do River Plate, na sexta-feira (22), pela última rodada da fase classificatória da Ladies Cup.
A câmera da transmissão do canal SporTV flagrou a meio-campista Candela Díaz fazendo um gesto que parece fazer alusão a um "macaco" contra um gandula. O fato aconteceu logo depois de o Grêmio empatar a partida, aos 34 minutos, e deu início a uma briga generalizada.
O Tricolor informou, por meio de nota, que as Gurias Gremistas também foram vítimas de palavras e gestos racistas ao defender o gandula. Seis jogadoras do River Plate foram expulsas, o que deu fim à partida.
As atletas Candela Díaz, Camila Duarte, Juana Cangaro e Milagros Diaz foram presas por injúria racial. O River Plate foi excluído da competição e suspenso por dois anos do torneio por conta do caso.