Depois de um primeiro turno em que a disputa presidencial mexeu pouco com os humores do mercado, desde a última segunda-feira (24) o mercado financeiro entrou em modo estresse. Nos últimos três dias úteis, a bolsa só caiu e o dólar só subiu, embora sem a intensidade do day after da violenta reação à prisão de Roberto Jefferson (PTB), aliado a Jair Bolsonaro (PL).
Para entender melhor a virada na percepção - no primeiro turno, não houve susto nem diante da possibilidade de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - a coluna ouviu analistas. Como o tema era político, pediram que seus nomes não fossem citados.
À pergunta se o mercado financeiro havia assumido lado, como em 2018, ouviu "aparentemente, sim". Um sinal adicional seria a baixa das ações das estatais e a alta, ainda que moderada, de ações de varejistas e grupos de ensino, que seriam potencialmente beneficiados em um Lula 3.
O assunto assumiu tamanha proporção que a gestora de recursos gaúcha Warren fez um levantamento, em parceria com a Renascença, sobre as apostas no mercado financeiro. Conforme a enquete, a maioria (40,8%) espera que, em caso de vitória de Lula, o ministro seja Henrique Meirelles. Foram citados, ainda, os ex-governadores petistas Wellington Dias e Rui Costa, o candidato a governador de São Paulo Fernando Haddad, o coordenador do programa da chapa Lula-Alckmin, Aloízio Mercadante, e até o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
Se Bolsonaro vencer, 95% acreditam que Paulo Guedes se mantenha no cargo. Conforme o levantamento, para 39,2% a definição da equipe econômica é a principal inquietação em relação a Lula. Se o vencedor for Bolsonaro, 32,5% estão preocupados com turbulências institucionais.
Conforme apuração da coluna, a pressão por uma definição do ministro da Fazenda em um eventual terceiro mandato do petista tem origem pragmática: o nome pode "definir algumas apostas", como juro, ações, câmbio. Adicionalmente, veem risco de que um "petista-raiz", como Mercadante, assuma a área econômica. A coluna ouviu uma curiosa comparação: "quando esconde muito, o filho é feio".
Nas consultas da coluna, apareceu até um nome dos sonhos, o do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Foi uma citação pontual, considerada improvável até por outros ouvidos. Também surgiu o do deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que tem exercido, nesta campanha, o papel que foi de Antônio Palloci em 2002, o de contato para o meio empresarial e o próprio mercado financeiro.
Padilha foi citado, inclusive, em um curioso texto de Armínio publicado na Folha de S.Paulo. Em uma entrevista inventada com Lula, o ex-presidente do BC atribui ao candidato a seguinte frase (para deixar bem claro e evitar má interpretação nestes dias conturbados, trata-se de uma ficção bem-humorada do ex-presidente do BC, não ocorreu de fato):
— Padilha, cansei desse mistério, vou abrir o jogo com a turma. Pode publicar (menção ao esperado programa de governo detalhado do PT, leia a íntegra do texto de Armínio clicando aqui).
É o modo Armínio de dar apoio, sem poupar da ironia pelo "mistério econômico".
Atualização: em sabatina do jornal Correio Braziliense, Lula traçou o "perfil" do candidato ideal. Afirmou que terá de "ser alguém com inteligência política, compromisso social e com senso de responsabilidade fiscal". O candidato do PT à Presidência também voltou a apresentar, em lugar de um programa detalhado, o seu "CEP" - credibilidade, estabilidade e previsibilidade".