Primeiro economista dos que passaram pelo governo de Fernando Henrique Cardoso a declarar apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República, Armínio Fraga atuou como cabo eleitoral do petista em jantar com cerca de 650 empresários e executivos do mercado financeiro na segunda-feira (17) na casa de Candido Bracher, ex-presidente e integrante do conselho de administração do banco Itaú.
Embora Simone Tebet, que havia reunido apoio da maioria dos presentes no primeiro turno, tenha sido a origem do encontro, o incisivo engajamento de Armínio, muito criticado por petistas quando presidia o Banco Central (BC), acentuou a especulação sobre o futuro ministro da Fazenda caso Lula vença a eleição.
Ao declarar apoio a Lula, antes dos colegas que criaram o Plano Real - Armínio não estava na equipe original -, o ex-presidente do BC havia afirmado que havia pensado em anular o voto. Agora, porém, virou argumento de voto: conforme descrições do encontro, havia algumas sugestões de frase para gravação de vídeos de apoio ao petista, entre as quais "estou com Armínio Fraga e meu voto agora, no segundo turno, é Lula".
A campanha de Lula é cobrada por definições na área da economia - um dos pontos mais sensíveis é o fim do teto de gastos, previsto no programa protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sem indicação de substituto.
Ao lembrar que chegou a ser citado como possível ocupante do cargo pelo então candidato Aécio Neves (PSDB), na disputa presidencial de 2014, Armínio disse ser "complicado" para Lula apresentar ministeriáveis durante a campanha. Afirmou, ainda, que seu apoio independe de detalhamento do plano econômico do PT. Segundo o ex-presidente do BC, "as ideias têm tudo para serem razoáveis" porque "ao longo desses anos, alguma coisa eles devem ter a aprendido".
Na manhã desta terça-feira (18), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou à GloboNews que Lula não fará indicações de ministros antes de ser eleito. Confirmou a extinção do teto de gastos e, questionada sobre um substituto, ponderou que o Brasil já tem legislação suficiente, citando a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a regra de ouro, que impede endividamento para pagar despesas correntes.
Há algumas semanas, circularam informações da campanha de que Lula quer um ministério mais jovem do que ele, que fará 77 anos no dia 27. O "vazamento" foi interpretado como sinal de que Henrique Meirelles, com a mesma idade, não se ajusta a esse perfil. Aos 65, Armínio é de uma safra mais recente. Os mais próximos ao ex-presidente do BC têm dificuldade de vê-lo em um governo comandado pelo PT, mas lembram que o vice é Geraldo Alckmin, muito próximo a Armínio.
Atualização: depois da publicação desta nota, Armínio Fraga publicou em seu espaço de colunista da Folha de S.Paulo um texto chamado "Entrevista com Lula por telepatia", que caracteriza como "'transcrição' (aspas dele) de uma conversa que imaginei ter tido com Lula". Diz confessar "a influência de uma pitada de esperança, mas acredito que ele foi sincero em tudo que disse". Irônico, Armínio "pergunta" para Lula como vai lidar com a questão fiscal e "psicografa" a seguinte resposta: "Só um instante que tenho que atender um telefonema. Padilha, cansei desse mistério, vou abrir o jogo com a turma. Pode publicar." É uma referência ao programa detalhado do PT, que foi prometido e mas não publicado até agora. Para ler, clique aqui.