Nesta quinta-feira (6), os economistas mais associados à criação do Plano Real anunciaram, em nota, adesão à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência, assinada por Edmar Bacha, Pedro Malan, Pérsio Arida e Armínio Fraga. Os dois últimos já haviam declarado apoio de forma individual.
Dias antes, outro economista com igual peso nesse capítulo da economia, André Lara Resende, havia aberto voto para o antigo adversário comparecendo no comitê de campanha. É uma reviravolta irônica na história dos criadores da moeda e do petista.
Na nota curta, Arida, Armínio, Bacha e Malan afirmam que votarão em Lula por ter "expectativa é de condução responsável da economia". Até a véspera, Bacha afirmava que queria mais informações sobre temas econômicos da campanha.
Embora a equipe que estruturou o processo tivesse outros integrantes, antes de receber o nome definitivo o plano que estabeleceu as bases da nova moeda era conhecido como Larida - "La" de Lara Resende e "rida" de Arida. Ambos atuaram sob a coordenação de FHC, que na época era ministro da Fazenda. Bacha é considerado o mentor intelectual desse grupo e atuou como conselheiro na implantação da mudança, Malan, era presidente do Banco Central na época, depois se tornou um dos mais longevos ministros da Fazenda.
A reviravolta irônica, que confirma a máxima das redes sociais que o mundo não dá voltas, mas cambalhotas, é que o PT e Lula foram críticos ácidos do Plano Real. Na hora de aprovar a nova estratégia de combate à inflação, toda a bancada petista votou contra, com o PDT e o PC do B, sob o argumento de "prejudicaria os pobres". Mesmo depois que o sucesso da nova moeda elevou o consumo de frango e iogurte - dois símbolos da melhora do acesso ao consumo na época -, em 1998 Lula caracterizou como "fantasia" que "congelaria a miséria".
Entre os pais do Real, o que mais se afastou do grupo foi Lara Resende, que ajudou a fazer o programa econômico de Marina Silva (Rede) em 2018 e se tornou um crítico do que chama de "dogmatismo fiscal". Malan e Bacha seguem focados na necessidade de controle estrito das contas públicas e Arida vem adotando posição intermediária, mais centrada na necessidade de aumentar a produtividade e reduzir a desigualdade.
Atualização: depois da publicação da nota lacônica, Armínio Fraga deu entrevista à GloboNews detalhando os motivos do apoio. Afirmou que o apoio a Lula está mais relacionado a "aspectos não econômicos", argumentando que "os riscos à democracia aumentaram depois do resultado de domingo". Disse ainda que a nota reflete uma "esperança" de que a economia seja bem conduzida, frisando que a situação não está complicada só no Brasil, mas no mundo, com aumento de juro e guerra. Acrescentou que há "temas qualitativos" envolvidos, como a questão ambiental, "uma oportunidade transformada em desperdício", a facilidade de compra de armas, "outra loucura", e o "desprezo pela ciência". E admitiu que o grupo espera uma movimentação de Lula rumo ao "centro econômico" nos próximos debates.