No Brasil que vive a maior inflação em 25 anos, é bom ouvir um dos autores do Plano Real, que livrou o país do medo da hiperinflação. Antes do batismo oficial, o programa era conhecido como "Larida", combinação dos nomes de André Lara Resende e Persio Arida.
— Sem ter uma boa agenda para resolver a falta de produtividade e a desigualdade, o Brasil não sai do atoleiro onde está — disse Arida, ex-presidente do Banco Centra e do BNDES, em palestra virtual, nesta quarta-feira (16), feita a convite da presidente do BRDE, Leany Lemos, para marcar os 60 anos da instituição financeira interestadual.
Segundo o economista, o Brasil enfrenta um "problema crônico de crescimento" que foi agravado pela pandemia. Disse que a reação do país neste momento é cíclica, ou seja, é uma volta ao patamar anterior. Mas deve voltar ao ritmo baixo dos anos anteriores que tem sido abaixo do potencial de um país com atividade tão diversificada e o tamanho da população economicamente ativa que tem.
— O segredo não está nas políticas fiscal e monetária, mas na produtividade. A grande questão a resolver é como dar um ganho de produtividade para a economia. Essa parece um conceito abstrato, mas não é. O corte de cabelo é muito mais caro nos Estados Unidos do que no Brasil. E uma pessoa que corta cabelo nos EUA vive muito melhor do que uma que faz o mesmo aqui. Isso é porque uma vive em uma economia de alta produtividade, outro em uma de baixa produtividade — afirmou.
Arida sustenta que a agenda da produtividade é "mais complexa" do que as demais porque exige "medidas radicais". Disse que os governos Lula e Dilma tentaram superar esse desafio "da maneira errada", com subsídios a empresas, isenções fiscais e "turbinando" (expressão dele) o BNDES. E agora, observou, deixou de ser considerada:
— No governo Bolsonaro, a agenda da produtividade desapareceu.
Frisando que o Brasil tem "um problema crônico de produtividade", disse que privatizações são um dos instrumentos para resolvê-lo. Mas opinou que quem mantinha a "ilusão" de que esse governo é liberal, já a perdeu. Ponderou que privatizar não é vender subsidiárias (referência ao que a Petrobras tem feito com vários ativos), mas quando o Tesouro vende companhias e põe dinheiro no caixa. Ao comentar a privatização da Eletrobras, em que o governo tenta avançar, disse que "quando grupos de interesse se apropriam das reformas, é melhor não fazer". Mas a produtividade não é o único grande problema do Brasil, pontuou:
— A tremenda desigualdade social do Brasil não tem sido encaminhada a contento pelo governo Bolsonaro. E esse problemas são como doença. Sem tratamento, crescem.
Na avaliação de Arida, o Brasil passa por um "estado de entropia organizacional no funcionamento do Estado (no sentido de poder público)". Citou os julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a incidência de PIS/Cofins no recolhimento de ICMS e a anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como exemplos do "mau funcionamento das instituições públicas", por criar tal grau de incerteza que cria ainda mais dúvidas.
— Isso é claramente catastrófico do ponto de vista da gestão pública. Mas isso terá de ser encaminhado por outro governo, não este, que claramente não tem condições para lidar com o problema — diagnosticou.