Com um misto de dados objetivos e indicadores subjetivos como felicidade, raiva, preocupação, estresse, tristeza e divertimento, a pesquisa Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia, da FGV Social, mostra um cenário mais alinhado à realidade do que o retratado no PIB.
É formado por recorde de desigualdade e alto desconforto, expressado pelo diretor do centro de estudos, Marcelo Neri, em um verso bem conhecido dos gaúchos: "felicidade foi-se embora", como na letra de Lupicínio Rodrigues.
A pesquisa fecha um trio – até agora – com levantamentos anteriores chamados Como Vai a Vida? e Percepções da Crise. Com base na renda efetiva do trabalho per capita é que a FGV Social aponta Índice de Gini (referência de desigualdade) de 0,674 no primeiro trimestre deste ano, considerada a média móvel de quatro trimestres. É o mais alto da série histórica que começa no último trimestre de 2012. Quanto mais alto for o Índice de Gini, maior é a desigualdade.
No capítulo que Neri titula de "felicidade foi embora" (sem a partícula "se"), o resultado foi uma nota de 6,1 – nesse caso, o menor ponto da série histórica iniciada em 2006. Essa avaliação é baseada em respostas diretas de pessoas a perguntas subjetivas sobre bem estar, com nota de avaliação de "satisfação com a vida" em escala de zero a 10. O que o pesquisador chama de "felicidade geral da nação" vinha caindo sem trégua desde 2013.
Conforme o estudo, o primeiro trimestre deste ano pode ser considerado – ao menos até agora – o pior ponto da crise social. Desse ponto de vista, diz Neri, não se podia falar em recuperação, mesmo que tímida, até a pandemia. A recuperação da renda média, explica, foi neutralizada pela contínua alta da desigualdade.
Na conclusão, o levantamento observa que indicadores objetivos do trabalhistas, como desigualdade, media e bem estar baseados em renda per capita do trabalho apresentam queda inédita na pandemia. Indicadores subjetivos, como "felicidade" apresentaram queda maior na base da distribuição de renda. Na comparação do Brasil com a média de 40 outros países, foi apontada "perda relativa de felicidade brasileira", além de todos cinco outros indicadores subjetivos de emoções cotidianas estudados.