Há cerca de 10 dias, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mencionou a intenção de tirar do papel o Bônus de Inclusão Produtiva (BIP), uma tentativa de qualificar jovens nem-nem, ou seja, que não estudam e não trabalham.
Nesta segunda-feira (17), um estudo da FGV Social sobre o impacto da pandemia sobre os nem-nem reforça: faz sentido ter um olhar mais cuidadoso sobre essa população.
O Rio Grande do Sul tem a segunda menor proporção dos que não têm trabalho nem vão à escola na população entre 15 e 29 anos, atrás apenas de Santa Catarina. Mas também sentiu o impacto da pandemia, com aumento de 15,34% para 17,13%. Também é um dos mais baixos do país o percentual dessa faixa etária sobre a população total.
Conforme Marcelo Neri, diretor da FGV Social e autor do estudo com base em microdados da Pnad Contínua, do IBGE, choques como o provocado pelo coronavírus podem deixar marcas permanentes, o chamado efeito-cicatriz, sobre a trajetória de ascensão social de toda uma geração. Na média nacional, a taxa de nem-nem saltou de 23,66% dos jovens de 15 a 29 anos, no quarto trimestre de 2019, para o recorde histórico de 29,33% no segundo de 2020, para depois se acomodar em patamar intermediário de 25,52% no período de outubro a dezembro de 2020.
Na pandemia, reforça o estudo, a desocupação na faixa de 15 a 29 anos subiu de 49,37% para 56,34%, aumentando a proporção de nem-nem. Por outro lado, revela uma surpreendente queda da taxa de evasão escolar, que atingiu o nível mais baixo da série no último trimestre do ano passado, com 57,95% entre pessoas de 15 a 29 anos. Doze meses antes, era 62,2%. Na avaliação de Neri, a combinação entre falta de oportunidades de trabalho com menor cobrança escolar (presença e aprovação automáticas) pode explicar a menor evasão.
Mas afirma que é preciso aproveitar essa oportunidade para promover inclusão digital e novos conteúdos educacionais. Pondera que o estudo aponta, em tempo hábil, o que é fundamental para reações de política, especialmente para tentar reverter as perdas de ocupação, muito superiores às observadas nos últimos seis anos. Sua proposta é a criação de um Índice de Inclusão Produtiva (IIP) que inclua variáveis específicas a esse segmento da população.
— Se nada for feito, há risco de rebaixarmos de forma duradoura as possibilidades de ascensão trabalhista dos jovens hoje, a geração covid.