
Principal parceiro comercial do Rio Grande do Sul, a China está comprando menos produtos gaúchos neste ano. O acumulado de exportações para lá de janeiro a abril mostra uma diminuição de 19% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Os embarques, em valores totais, foram de US$ 1 bilhão para US$ 840,1 milhões, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). É o pior resultado desde 2016, considerando só os primeiros quatro meses do ano.
Com o acordo anunciado por americanos com a China, há mais incertezas sobre o futuro desses negócios, embora seja importante observar que a incerteza segue elevada e a tarifa de 10% cobrada pelos Estados Unidos de praticamente todos os países, ao menos até o início de julho.
O que provocou o declínio até abril foi a queda nos preços das commodities (matérias-primas), das quais o Brasil é grande exportador. Houve redução de 22%, em valores totais, nos envios de soja para a China, principal produto exportado em 2024.
— Já havia uma tendência de queda nos preços das commodities. Com as tarifas e a possibilidade de recessão americana, os preços caíram mais, afetando a soja — afirma Marcos Lélis, professor de Economia da Unisinos.
É bom observar que, em volume, houve baixa menor na exportação gaúcha de soja para a China, de 12%. No entanto, o especialista lembra: a base de comparação é alta.
Carne bovina desaba
O que mais preocupa, complementa Lélis, são as exportações gaúchas de carne bovina para China terem desabado 92%. Foram de US$ 23,4 milhões, de janeiro a abril de 2024, para US$ 1,8 milhão, considerando o mesmo período neste ano.
O que pode ter ocorrido é um possível redirecionamento de comércio, já que as exportações gaúchas de carne bovina para os EUA, em valores totais, saltaram 590% — ou aumentaram sete vezes até abril em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Importações crescem
Enquanto as exportações gaúchas para China diminuíram até abril, houve aumento de embarques na via oposta. Os embarques, em valores totais, do país asiático para cá aumentaram 21%, de US$ 589,7 milhões para US$ 712,2 milhões.
É o que faz setores da indústria nacional pedirem ao governo novos mecanismos de defesa. O temor é de "invasão" de produtos asiáticos, que têm porteira fechada para entrar no mercado americano.
— Desde o primeiro governo Trump, a China vem perdendo participação no mercado americano. O problema é que outros países também vão perder exportação para lá, com atividade econômica mais fraca e tarifas mais altas, e podem direcionar a produção para o Brasil — diz Lélis.
Apesar da mudança na circulação de mercadorias, a balança comercial do Rio Grande do Sul coma China ainda registra superávit até abril, de US$ 127,8 milhões.
*Colaborou João Pedro Cecchini