Em entrevista concedida ao jornal O Globo no final de semana, o ministro Paulo Guedes tentou oferecer uma novidade: um programa para qualificar jovens nem-nem, ou seja, aqueles que não estudam nem trabalham.
O plano já tem nome, Bônus de Inclusão Produtiva (BIP), e valor — entre R$ 200 e R$ 300 —definidos, para quem fizesse curso preparatório para o mercado de trabalho. Mas seu futuro é, na melhor das hipóteses, incerto.
Mesmo depois de ter sido obrigado a promover uma dança de cadeiras no Ministério da Economia, para tentar evitar um fatiamento do seu Posto Ipiranga, Guedes não se livrou da pressão do Centrão para separar, ao menos, a loja de conveniência, ou seja, o Ministério do Planejamento, que define o destino das despesas do orçamento.
Dizer que está fragilizado um ministro que repetiu o erro de um colega já defenestrado por equívocos reiterados na mesma direção parece eufemismo. Não é por acaso que, no Congresso, Guedes carrega o epíteto de ex-ministro no exercício do cargo. É nesse momento de intenso ataque que saca da gaveta um projeto que, conceitualmente, seria adequado.
Conforme ponderações do próprio ministro, faz sentido preparar para o mercado de trabalho um jovem que não teve outra oportunidade e corre o risco de se tornar o que Guedes chama de "invisíveis" mas são muito visíveis por muitos brasileiros.
Mas se não bastasse a incerteza sobre o orçamento e a voracidade dos parlamentares, as lamentáveis declarações recentes do ministro contribuíram para que a proposta fosse recebida com frieza. Além disso, concorre por recursos com a pressão pela extensão do auxílio emergencial, que ganha força conforme o atraso na vacinação adia o sonho da volta ao normal.