O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Aos 45 do segundo tempo, o presidente Jair Bolsonaro sancionou na quinta-feira (22) o orçamento de 2021, mas o acordo entre governo federal e Congresso não é capaz de afastar a nuvem de incertezas que atinge as contas públicas. É que, mesmo com a sanção, analistas enxergam uma série de desafios para o governo colocar parte do projeto em prática.
O risco de paralisia de serviços públicos se mantém. O Censo Demográfico, por exemplo, teve o adiamento confirmado nesta sexta-feira (23), devido à escassez de recursos. O levantamento seria realizado pelo IBGE.
Pressionado pelas dificuldades fiscais, Bolsonaro vetou R$ 19,8 bilhões em emendas parlamentares e outras despesas do Orçamento. Também houve bloqueio adicional de R$ 9,3 bilhões em gastos não obrigatórios. Dependendo da evolução das contas públicas, essa quantia bloqueada (ou parte dela) até pode ser liberada até o final do ano.
– Uma coisa é o projeto de orçamento, e outra é como ele vai ser executado ao longo dos meses. Para ser fechado, foram retirados gastos com programas federais. A sanção é apenas um capítulo. Não terminamos de ler o livro ainda – define a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
Nesta sexta-feira, a bolsa de valores de São Paulo (B3) até operou em alta, com o alívio registrado no Exterior. O Ibovespa, principal índice da bolsa, fechou a sessão com avanço de 0,97%, a 120.530 pontos. Já o dólar subiu 0,78%, a R$ 5,497.
– O orçamento já estava precificado pelo mercado. Teve um alívio lá fora, e está começando a temporada de divulgação de balanços de empresas – frisa a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto. – Há um plano de orçamento, mas não sabemos ainda como será executado, porque tem muitas lacunas críticas – completa.
Dos R$ 9,3 bilhões bloqueados no governo, o maior impacto foi no Ministério da Educação, com R$ 2,7 bilhões represados. A pasta de Economia (R$ 1,4 bilhão) vem na sequência.
– Estamos organizando um orçamento no fio da navalha – sublinha Simone.