No dia em que foi obrigado a promover uma dança de cadeiras no Ministério da Economia, seu titular, Paulo Guedes, teve um acesso de verborragia de alto custo.
Comprou briga com a China no momento de maior dependência do Brasil em relação ao parceiro ao incorporar o vocabulário do ex-colega das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, mas no país o que mais pegou mal foi reclamar que os brasileiros querem "viver 100 anos, 120, 130" e que, assim, "não há capacidade de investimento para que o Estado consiga acompanhar".
Sem saber que estava sendo gravado e transmitido, Guedes repetiu Araújo ao atacar a China na terça-feira (27). Consciente do resultado desastroso, tentou consertar nesta quarta-feira (28), falando em "mal-entendido". Mas quando atribuiu as dificuldades no financiamento do sistema de saúde pública ao desejo de longevidade, sabia que sua participação na reunião do Conselho de Saúde Complementar (CSC) era pública e seria registrada.
Com frequência crescente, Guedes tem sido atacado pelos motivos errados. Foi assim quando tentou barrar a gastança com emendas parlamentares no orçamento da União e ganhou o apelido de "Evergreen" (empresa dona do navio que ficou encalhado no Canal de Suez) no Congresso. Nesse meio, outro apelido, mais longo, do que já foi o "Posto Ipiranga" é "ex-ministro no exercício do cargo".
Quando tem de justificar sua permanência, Guedes costuma dizer que , sem ele, o governo Bolsonaro seria ainda pior. Mas quando, em vez de controlar os ruídos presidenciais e fazer valer sua missão de manter alguma racionalidade econômica, o ministro ajuda a fazer barulho, acaba reforçando a imagem que o Centrão dissemina. O presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP), chamou o ministro de "fanfarrão" e disse que ajuda a transformar o Brasil em "hospício". Presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PDS-AM) se exasperou:
— O ministro Paulo Guedes não pode se comportar como se tivesse no Big Brother, que o cara faz uma besteira de depois sai e vem pedir desculpa aqui fora. Não dá. Ministro Paulo Guedes, você é uma referência, formador de opinião, não é uma pessoa qualquer no contexto da República brasileira e se preservar e falar menos não faz mal para você.
O resultado, nesta quinta-feira (28), é que o ministro virou trending topic do Twitter - e não pelos motivos certos, além de virar alvo de uma avalanche de memes que tentam transformar em risível seu humor negro.