O jogo está pesado. No Congresso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não é mais "Posto Ipiranga". Seu novo apelido é Evergreen — para quem não lembra, o nome da construtora do navio que aparecia ao lado do casco.
Para os parlamentares do Centrão, o ministro impede a passagem do orçamento. Neste caso, ao menos na opinião da coluna, Guedes não deve ser removido, em nome do interesse público.
A manifestação do secretário do Tesouro, Bruno Funchal, nesta quinta-feira (8) é uma advertência ao Centrão. É o primeiro integrante da equipe econômica que reforça, em público, a posição do Evergreen, digo, de Guedes.
— Da forma como está, o Executivo não chega até o fim do ano.
A coluna já detalhou o que, de forma resumida, pode ser descrito assim: para liberar recursos para emendas parlamentares, o Congresso "cortou" (no papel) destinações para despesas básicas, do pagamento da previdência ao custeio. Entre economistas, há quase consenso: trata-se de maquiagem e pedalada, com risco de configuração de crime de responsabilidade.
Agora, é preciso corrigir, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já avisou que não aceita veto presidencial porque tudo teria sido combinado com a equipe econômica. Com seu hábito de pintar a situação de cor-de-rosa, Guedes já disse até que o assunto está encaminhado e será resolvido "bem antes" do dia 22, prazo em que o presidente Jair Bolsonaro precisa decidir o que fazer com o orçamento.
O novo apelido de Guedes é um detalhe. Em Brasília, circula a informação de que os conselheiros do Tribunal de Contas da União (TCU) teriam sido avisados a não pesar a mão no exame da adequação do orçamento. Se o fizessem, poderiam sofrer represálias. Em conferência internacional nesta quinta-feira (8), o ministro da Economia disse que, como está, o orçamento representa uma "sombra legal" para o Executivo.
Nas últimas duas semanas, tempo em que Guedes obstrui a passagem de um orçamento que não flutua, em cada fala do ministro e do presidente Jair Bolsonaro, é preciso reiterar sua permanência no cargo. Foi o que aconteceu no famoso jantar da quarta-feira (7) em São Paulo. Diante de alguns empresários, Bolsonaro disse que Guedes fica. Foi aplaudido, conforme relatos. E um novo aplauso ocorreu ao mencionar que manteria o teto de gastos.
Aliás, o BTG Pactual, banco de um dos convidados, André Esteves, no dia seguinte ao jantar, elevou a projeção do dólar no final deste ano para R$ 6,40. É claro que não é Esteves que faz as projeções macroeconômicas da instituição, mas a coincidência deu o que falar. E mesmo desconsiderado um eventual sincronismo, é inquietante por si mesma.
Mais transparente do que Guedes, e chancelado pelo mercado financeiro, de onde vem, Funchal disse o óbvio: não só nada está resolvido como, se não for, será um desastre. O conteúdo foi estritamente técnico, mas o alcance foi político. A turma do Centrão esqueceu que o nome da embarcação é Ever Given, mas acha que dinheiro público é "sempre dado" (tradução literal do nome do navio).