Foi um final de semana estendido tenso para quem precisa de previsibilidade.
O impasse em torno do orçamento de 2021 aprovado no Congresso em 25 de março é um dos nós mais complicados entre economia e política no país.
O que foi aprovado no Congresso e espera sanção ou veto do presidente da República é chamado de "peça de ficção" por economistas, que advertem: contém pedaladas.
O relator, Márcio Bittar (MDB-AC), apoiado pelo Centrão, garante que tudo foi combinado com o Ministério da Economia. A equipe de Paulo Guedes manda dizer que havia aceito dotação maior para emendas, mas nada parecido com o resultado final. Especialmente sem que toda a despesa obrigatória deste ano estivesse contida no orçamento.
A cifra da farra é imprecisa: vai de R$ 48,8 bilhões a R$ 26 bilhões para emendas parlamentares focadas em obras públicas, para se cacifar para a eleição de 2022. É sobre o último valor que se dá a discussão de cortes. O relator acenou com R$ 10 bilhões, a equipe econômica pede ao menos R$ 13 bilhões.
No final de semana, a cabeça de Guedes repousou em especulações de bandejas pedidas pelo Centrão. Em tese, o ministro evita que Jair Bolsonaro assine uma peça que pode configurar crime de responsabilidade. Mas quem tem a caneta que pode abrir um processo de impeachment é o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão e, portanto, defensor das emendas.
Desta vez, Guedes poderia cair por ter razão. Acusado de ser ortodoxo em excesso, agora não está resistindo a criar um programa social que ampararia milhões de brasileiros, mas à captura de um orçamento asfixiado por políticos preocupados apenas com a própria reeleição, presidente incluído. Bolsonaro já avisou que não tem intenção de dispensar Guedes, e o ministro voltou a recorrer à sua justificativa para se manter no cargo: seria pior se ele não estivesse lá. Mas até quando?