A Polícia Civil vai ouvir novamente vítima e suspeita de envenenamento por arsênio em bolo que matou três pessoas em Torres, no Litoral Norte. Os depoimentos devem ocorrer nas próximas semanas, enquanto durar os 30 dias da prisão temporária de Deise Moura dos Anjos, 42 anos, investigada pelo crime.
Na segunda-feira (6), a suspeita passou por audiência de custódia. Nora de Zeli Teresinha Silva dos Anjos, 61 anos, que preparou o bolo, Deise foi presa temporariamente no domingo (5). A investigação aponta que Deise teria colocado arsênio na farinha que Zeli utilizou para preparar o bolo. A motivação seria uma desavença de cerca de 20 anos entre as mulheres.
A suspeita está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres e responde por suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e com emprego de veneno, e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.
Zero Hora entrou em contato com a defesa de Deise na manhã desta terça-feira (7), mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Na manhã de segunda-feira, os advogados dela informaram que ainda não haviam tido acesso integral à investigação em andamento.
Ainda na segunda, após 16 dias, Zeli, a mulher que fez o bolo, deixou a unidade de tratamento intensivo (UTI) do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres. Um menino de 10 anos que comeu o bolo também ficou hospitalizado, mas já está em casa.
O envenenamento por arsênio foi a causa da morte de três mulheres da mesma família após comerem um bolo em 23 de dezembro de 2024.
Mulher pesquisou arsênio
Segundo o Tribunal de Justiça do RS, Deise fez pesquisas na internet sobre arsênio antes do caso. Um relatório preliminar dos dados extraídos do telefone da suspeita mostra que houve "busca na internet, inclusive no Google shopping, pelo termo arsênio e similares".
Arsênio é um elemento químico liberado no ambiente de maneira natural ou pela ação do homem e um componente usado na fabricação de alguns pesticidas. A exposição a arsênio pode causar intoxicação alimentar e reações similares a alergias, câncer em caso de exposição recorrente, e até morte.
Segundo a Polícia Civil, a mulher fez pesquisas sobre a substância antes do caso, em novembro. A investigação segue em andamento e a motivação não foi informada pelos investigadores porque, segundo a polícia, isso pode atrapalhar a investigação.
Veneno na farinha
De acordo com Marguet Mittman, diretora do Instituto-Geral de Perícias (IGP), a fonte da contaminação foi a farinha usada para fazer o bolo consumido pelas vítimas.
— Foram identificadas concentrações altíssimas de arsênio nas três vítimas. Tão elevadas que são tóxicas e letais. Para se ter ideia, 35 microgramas já são suficientes para causar a morte de uma pessoa. Em uma das vítimas, havia concentração 350 vezes maior — diz Marguet.
A polícia confirmou que a farinha estava na casa de Zeli, que fez o bolo, mas as investigações não apontam para ela como responsável pela contaminação. Em 23 de dezembro, havia sete pessoas no local onde o bolo foi consumido. Apenas uma delas não foi hospitalizada.
Entenda o caso
Seis pessoas da mesma família passaram mal e precisaram procurar atendimento médico em 23 de dezembro após consumir o bolo, que continha arsênio, conforme análise da perícia da Polícia Civil.
Três delas morreram: Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza.
Zeli, responsável por fazer o bolo, permanece hospitalizada. Ela deixou a UTI na manhã de segunda, de acordo com o boletim médico. Um menino de 10 anos, neto de Neuza e filho de Tatiana, também ficou hospitalizado, mas já está em casa. Uma sexta vítima, um homem da família, foi liberado após atendimento médico.