Três elementos são apontados como imprescindíveis para explicar como o roubo de veículo despencou 42% em Porto Alegre no ano passado. A GaúchaZH, as polícias civil e militar e a prefeitura elencaram um tripé que derrubou as ocorrências ao menor número desde 2004: o cercamento eletrônico da Capital, que dispõe de câmeras com tecnologia para identificar carros roubados e furtados, a atuação de uma delegacia especializada, focada em investigar os casos da cidade e a criação de um grupo inédito na Brigada Militar, que usa inteligência para rastrear a rota de veículos levados e prender criminosos. Isso permitiu uma redução de 3,4 mil carros levados em 2019, em comparação com o ano anterior – os registros caíram de 8.215 em 2018 para 4.762 em 2019. Em 2004, foram 4.542 veículos levados em assalto.
O furto baixou timidamente, com decréscimo de 5%. Os dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) mostram que 2.816 carros foram levados de 1º de janeiro a 31 de dezembro frente a 2.961 no mesmo período do ano anterior. Apesar do tombo dos indicadores, todos os dias, em média, 20 veículos ainda são levados por criminosos na Capital – 13, em média, durante um assalto.
Ações integradas de inteligência e repressão retiraram das ruas criminosos reincidentes como um jovem de 19 anos que já carrega uma extensa ficha policial. Segundo o setor de inteligência da Brigada Militar, ele participou de 25 roubos de veículos apenas em 2019 em bairros da Zona Sul como Tristeza, Camaquã, Hípica, Vila Nova e Campo Novo.
No ano passado, foi preso pela BM em três oportunidades: uma em junho e outra duas em novembro. Agora. está detido na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan). A Delegacia de Repressão ao Roubo de Veículos o indiciou três vezes por assalto a veículos utilizando arma de fogo. Também há outros dois inquéritos nos quais foi responsabilizado por receptação de veículo roubado.
— Temos conhecimento que ele participou de dezenas de crimes. Isso é fato indiscutível. Só não foi indiciado mais vezes porque algumas vítimas têm medo de reconhecerem ou não olharam para ele na hora da ação — afirma o titular da Delegacia de Repressão ao Roubo de Veículos, Marco Guns.
Delegacia blindada
Desde agosto do ano passado, a Delegacia de Repressão ao Roubo de Veículos foi blindada para investigar exclusivamente casos que acontecem na Capital – deixando de ter a atribuição estadual. O trabalho resultou na prisão de 208 pessoas envolvidas em assaltos e furtos de veículo em Porto Alegre. Além disso, na avaliação do delegado Guns, a integração entre os órgãos de segurança mudou o cenário de enfrentamento ao crime:
— É visível que se estabeleceu uma mudança de panorama para o ladrão de carro em Porto Alegre. A possibilidade de ele ir preso em flagrante é real.
Na avaliação de Guns, o perfil da vítimas é muito parecido: são pessoas que estão chegando ou saindo para tarefas do cotidiano. O crime é praticado em via pública, especialmente no momento de estacionar ou quando se está aguardando outra pessoa _ é incomum que ocorra em ambientes fechados. A ação é capitaneada por organizações criminosas que atuam no Estado, ligadas ou não ao tráfico de drogas, que atuam sob encomenda de determinado veículo.
— O que nos impede de ser mais efetivos é a progressão de regime, 95% dos criminosos que prendemos possuem antecedentes ou estão no regime semiaberto. A nova onda drástica de redução de roubo de veículo vai ocorrer quando exterminarmos com o regime semiaberto — considera o delegado.
BBB da Capital
Das 1,3 mil câmeras de monitoramento espalhadas pelas ruas da Capital, quase 300 delas possuem uma tecnologia que detecta se o veículo foi roubado ou furtado por meio da placa. Um termo de colaboração permitiu que a Brigada Militar e a Polícia Civil tenham acesso ao banco de dados. O sistema monitora, por dia, 850 mil veículos, no Centro Integrado de Comando da Cidade (Ceic) e está interligado ao Departamento de Comando e Controle Integrado (DCCI) do Estado. Nos dois locais, um alarme é gerado quando a placa de um veículo roubado ou furtado é verificada pelas câmeras.
— O operador do vídeo confirma a placa e dá o alarme. BM, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal (PRF), Guarda Municipal e ETPC recebem a mensagem. A guarnição que está mais próxima do veículo se desloca até o local — explica o secretário de Segurança da Capital, Rafão Oliveira. A meta é que tudo isso ocorra em três minutos.
Por dia, o sistema identifica, em média, cinco veículos em situação de furto ou roubo e 35% deles são recuperados, segundo o secretário.
— Essa tecnologia fez com que todos começássemos a conversar. E o município entrou decididamente para dentro da equação da segurança, somando esforços — avalia.
A implementação das câmeras se iniciou em 2018 e foi concluída há três meses. Até o final de março, mais 22 pontos de entrada e saída da Capital receberão câmeras com esta tecnologia, completando o monitoramento de todas os acessos do município.
Grupo de inteligência na BM
Desde março de 2019, a Brigada Militar possui o Grupo de Combate ao Roubo de Veículo que trabalha com inteligência, em conjunto à Polícia Civil e ao Ministério Público, no combate à subtração de carros com foco na Capital.
Toda ocorrência de roubo de veículo registrada em Porto Alegre é estudada e monitorada individualmente pelo grupo de inteligência, segundo o comandante-geral da BM, coronel Rodrigo Mohr Picon. Isso permite, por exemplo, acompanhar as diferentes características dos crimes na Zona Sul e na Zona Norte:
— Pegamos vídeos e todo o tipo de informações. Geralmente, os marginais são reincidentes, temos fotos de cada um e, a cada ocorrência em que a vítima os reconhece, vamos guardando, para o dia em que ele for pego, possamos ter uma prisão mais qualificada, porque já temos um relatório sobre o indivíduo — explica o comandante-geral.
O grupo também faz o monitoramento dos veículos roubados que, de acordo com o coronel, não circulam muito tempo com a placa original – quadrilhas rapidamente a trocam por uma clonada. No entendimento do comandante-geral, a partir do início do trabalho integrado do núcleo foi possível verificar a redução: 2019 se iniciou com média de 20 veículos roubados por dia, número que baixou para 13 no final do ano.
Furto de veículo
Enquanto o roubo de veículo apresentou queda de 42%, o furto de carros baixou 5%. Segundo a Polícia Civil, uma grande quantidade das ocorrências dizem respeito a simulação de furto para receber o valor do seguro do veículo. A suspeita aumenta no caso de um veículo recente:
— É bem difícil que um veículo novo, de tecnologia de ponta, seja possível entrar, acionar o motor e levá-lo. Uma coisa é subtrair um estepe. É muito incomum com carro novo. Já em veículo antigos, é algo simples — afirma o delegado Marco Guns.
Também há casos em que o motorista esquece onde estacionou o carro, registra ocorrência e depois lembra do local.
Devolução de veículos
Inaugurada em agosto, a Delegacia de Polícia de Controle Técnico e de Fiscalização (DCT), pretende acelerar a liberação de veículos subtraídos de seus donos em todo o Estado e localizados pelas forças de segurança na Capital. Para devolução, os automóveis passam por uma vistoria preliminar realizada por policiais especializados em fiscalização. Entre agosto e dezembro do ano passado, 92% dos carros, motos e caminhões localizados em Porto Alegre e que passaram por análise na unidade estavam em condição de serem devolvidos aos donos em até 24 horas.
Onde fica
Delegacia de Polícia de Controle Técnico e de Fiscalização
Endereço: Avenida das indústrias, 915, na sede do DEIC, em Porto Alegre
Telefone: 3288-9833 ou 3288-9841