Os gaúchos acordaram mais uma vez com notícia sobre mescla de política institucional e crime organizado. Desta feita uma a Operação Confraria, deflagrada em conjunto pelo Ministério Público Estadual e Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil, mira contratos suspeitos firmados pela prefeitura de Parobé, no Vale do Paranhana. Os favorecidos em processos licitatórios, entre outros, seriam "laranjas" que gerenciam empresas ligadas à maior facção criminal do Rio Grande do Sul, com base no Vale do Sinos.
A manipulação seria retribuição de auxílio prestado na facção durante a eleição municipal de 2020. Um integrante do crime organizado teria virado Cargo de Comissão (CC) e ameaçado opositores políticos, enfatiza a investigação, que resultou em bloqueio de 33 imóveis e apreensão de 59 veículos.
A triste realidade é que as dezenas de facções criminosas que assolam o Brasil não se contentam mais em tentar controlar o submundo. Buscam investimentos legítimos, para disfarçar os lucros com atividades ilegais. Uma dessas apostas é corromper políticos ou, em alguns casos, colocar criminosos em cargos-chave da administração.
Em setembro, às vésperas da eleição, foram presos em Bagé (região da Campanha) criminosos ligados a uma facção teriam realizado espancamentos e desfechado tiros contra opositores políticos da atual administração (que acabou derrotada na eleição). Em Santana do Livramento e São Borja, na fronteira, candidatos a vereador são investigados pela Polícia Federal por suspeita de serem financiados pelo crime organizado. Um deles se elegeu, o outro, não.
Em São Paulo a Polícia Civil cumpriu em agosto 20 mandados de prisão temporária em 15 municípios, contra políticos suspeitos de trabalharem para a maior facção criminosa do país. Mais de 30 candidatos são investigados por recebimento de valores, mas ainda não está claro se eles sabiam que o dinheiro vem da facção.
Na Paraíba, a Polícia Federal desencadeou uma ação contra servidores municipais em João Pessoa suspeitos de negociarem apoio eleitoral de uma facção. No Acre foi necessário usar as Forças Armadas para impedir assédio a eleitores por parte de criminosos. No Ceará, a Polícia Civil investiga a atuação de milícias que ameaçaram candidatos em Fortaleza e Sobral, entre outros municípios. No Rio de Janeiro, a Justiça Eleitoral mudou o endereço de mais de 400 locais de votação em 10 cidades para tentar evitar interferências sobre eleitores em regiões dominadas pelo tráfico.
Esse é o novo normal. É preciso mais investigações como a realizada em Parobé nesta quarta-feira (18). Sob pena de o Brasil vivenciar no futuro o que o México experimenta hoje, a mistura completa de política e crime.