A prisão de pessoas supostamente envolvidas em atentados políticos em Bagé, na região da Campanha, chamou a atenção nesta quinta-feira (26) por ser mais um dentre vários episódios de interferência do crime organizado em eleições, país afora.
Em agosto, a Polícia Civil de São Paulo deflagrou a Operação Decurio, que mostrou a tentativa da maior facção criminosa do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), de lançar candidatos aos cargos municipais.
A Decurio bloqueou R$ 8,1 bilhões em bens e cumpriu 20 mandados de prisão temporária e 60 mandados de busca e apreensão. As investigações abrangem 15 municípios paulistas, incluindo a capital do Estado.
Mensagens de líderes da facção, interceptadas pelos policiais, são explícitas, com teores como: "Veja com o Gordo sobre as campanhas de vereadores". Mais de 30 candidatos são suspeitos de receber valores, mas ainda não está claro se eles sabiam que o dinheiro vem da facção.
Na Paraíba, a Polícia Federal desencadeou uma ação contra servidores municipais em João Pessoa suspeitos de negociarem apoio eleitoral da facção Nova Okaida, dominante naquele Estado. A facção teria ameaçado famílias ligadas a candidatos contrários aos interesses dos criminosos. O dono de um circo cancelou um evento eleitoral após ameaças.
No Acre, na fronteira com Peru e Bolívia, a Justiça solicitou apoio de tropas federais, porque a população tem medo de sair de casa para votar. O reforço militar deve acontecer em oito das nove zonas eleitorais, para evitar baixo comparecimento às urnas.
No Ceará, a Polícia Civil investiga a atuação de milícias que ameaçam candidatos em Fortaleza e Sobral, entre outros municípios.
No Rio de Janeiro, a Justiça Eleitoral mudou o endereço de mais de 400 locais de votação em 10 cidades para evitar interferências sobre eleitores em regiões dominadas pelo tráfico.
Estaria o crime organizado interessado em governar cidades e regiões, como acontece no México?
Não é para tanto, analisa o sociólogo Gabriel Feltran, um dos principais pesquisadores do crime organizado no país e autor de Irmãos: Uma história do PCC (Cia. das Letras, 2018). Em recente entrevista, ele disse que a principal forma de influência de facções e milícias na política brasileira hoje é a atuação junto ao poder político para obter vantagens econômicas. "Não querem se infiltrar na política, querem fazer lobby para influenciar as decisões", acredita o especialista.
O problema é que, no caso de Bagé, atentados foram cometidos diretamente contra políticos e um deles chegou a ser agredido e ameaçado dentro de casa por criminosos, caso insistisse em fazer campanha. Tudo indica que as facções não estão interessadas apenas em agir indiretamente. Mais direto que tiros e espancamentos, só a morte.