A escalada de violência na eleição de Bagé, na Região da Campanha, mobiliza as autoridades policiais do município. Em reunião na tarde desta segunda-feira (16), Brigada Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e Ministério Público discutiram uma atuação conjunta para reforçar a segurança nas campanhas e acelerar a investigação do ataque a tiros ocorrido no último domingo. Em função da gravidade e da repercussão do caso, o episódio será apurado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), unidade especializada em organizações criminosas.
De acordo com a delegada Gabrielle Zanini, que responde pela 2ª Delegacia de Polícia e deu início às investigações, a prioridade absoluta é prender o homem que fez ao menos cinco disparos durante comício do PT realizado no bairro Cohab. O atentado ocorreu por volta das 18h30min, em meio a cerca de 800 pessoas que participavam do ato eleitoral.
— Ainda não sabemos se os tiros foram em direção aos candidatos, se foram para o alto. Começamos uma investigação muito forte porque envolve a ordem pública e está todo mundo muito assustado na cidade — afirma Gabrielle.
Conforme a delegada, um homem vestindo máscara de caveira nas cores branca, vermelha e amarela surgiu no meio da multidão, atirando a esmo. Ninguém ficou ferido e o atirador fugiu para um matagal próximo aos blocos residenciais. Houve correria e algumas pessoas passaram mal, buscando atendimento no Pronto-Socorro.
Os investigadores buscam imagens do ataque para tentar identificar o atirador. Segundo relatos de testemunhas, ele deu uma corrida curta em direção ao caminhão de som, segurando a arma numa das mãos. Com a outra mão, filmava a própria investida com um telefone celular.
O candidato a prefeito pelo PT, Luiz Mainardi, estava ao lado do caminhão, no chão, esperando sua vez de falar. Ele foi retirado às pressas do local e reforçou a equipe de segurança. Por determinação do governador Eduardo Leite, com quem conversou ainda na noite domingo, haverá reforço policial no município e Mainardi está sob proteção de agentes à paisana da Brigada Militar.
"Este episódio vai contra os princípios fundamentais da nossa democracia, que se baseia no respeito às diferenças e no debate de ideias. A violência política é um ataque direto aos valores que defendemos e não será tolerada no Rio Grande do Sul", diz nota divugada pelo governador nesta segunda-feira.
— É minha sétima campanha para prefeito e a primeira vez que uso segurança. Já havia recebido avisos para me cuidar. Não sei se eu era o alvo do atentado, a investigação que vai dizer, mas o cara veio na minha direção — comenta Mainardi.
O trio elétrico usado no comício foi apreendido e será submetido à perícia. Quem discursava no momento dos disparos era o policial penal e candidato a vereador Ricardo Morais (PT). Há 23 anos atuando em presídios, Morais disse não ter nenhuma desavença pessoal, mas não descarta que o atirador tenha agido por vingança.
Outras duas linhas de investigação também estão sendo conduzidas pela Polícia Civil. Na quinta-feira, uma grande operação policial cumpriu 44 mandados de busca e apreensão, a maior parte na região do atentado, um bairro conflagrado pelo tráfico de drogas. Na madrugada seguinte, dois homens armados agrediram e ameaçaram um candidato a vereador pelo PT, cuja casa foi invadida.
— Estamos averiguando se esse ataque ao candidato a vereador pode estar relacionado aos tiros no comício. Por enquanto, não descartamos nenhuma possibilidade — diz a delegada Gabrielle.