Vinte bairros da Capital concentraram 54% dos furtos e roubos de veículo ao longo do ano passado. A reportagem obteve, via Lei de Acesso à Informação, a lista de ocorrências em 94 bairros de Porto Alegre. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Entre as duas dezenas de regiões onde os crimes mais acontecem, 13 são da Zona Norte.
O Rubem Berta lidera o ranking: são 764 casos de roubo e furto de veículo em 2019. Em média, um veículo é levado por criminoso a cada 12 horas no bairro. Bem no limite, o Sarandi é o segundo da Capital onde criminosos mais subtraem veículos, com 515 registros no ano passado. Petrópolis, Passo da Areia, Jardim Itu, Vila Ipiranga, Jardim Leopoldina, Floresta, Passo das Pedras, Mário Quintana, São Geraldo, São João e Cristo Redentor também estão entre os mais visados por ladrões de carro.
Mais próxima às rotas de fugas, com fluxo de veículo maior e por fazer limites com outras cidades da Região Metropolitana como Canoas, Cachoeirinha e Alvorada, a Zona Norte torna-se o local favorito para este tipo de crime, frisa o delegado Marco Guns, da Delegacia de Roubo de Veículos.
Quinto bairro da Capital com mais ocorrências de roubo e furto, o Petrópolis sediou 231 casos em 2019. Embora um carro seja levado a cada 37 horas na região, a sensação entre os moradores é de que o crime recuou.
— Sentimos uma queda nos últimos meses, mas nossa mobilização também aumentou. Criamos grupos de WhatsApp com a polícia e passamos a nos conhecer melhor para trocarmos informações quando vemos algo suspeito — afirma o presidente da Associação Conviver Melhor do bairro Petrópolis, Marcos Otton.
No bairro, a comunidade também se mobilizou para reformar a 3ª Companhia do 11º Batalhão,o que trouxe reforço ao policiamento ostensivo do bairro.
Por outro lado, na Zona Sul, há mais dificuldade para o criminoso movimentar o veículo para uma cidade vizinha e retirá-lo da mira do cercamento eletrônico. Entre os 20 bairros onde o crime menos acontece, 16 são da Zona Sul. Destes, uma dezena não tiveram nem 10 ocorrências de roubo e furto em 2019, como Ponta Grossa, Chapéu do Sol e Guarujá.
"Aconteceu em questão de segundos"
Um comerciante que mora e trabalha no Rubem Berta teve o seu Cobalt levado em setembro do ano passado. Por volta das 22h30min, ele e a esposa estavam chegando na casa de amigos na Rua Carlos Estevão. No momento em que estacionavam o carro em frente a um condomínio e o motorista puxava o freio de mão, um carro preto se atravessou em frente ao veículo. Antes mesmo que os criminosos terminassem a manobra, a porta traseira do carro abriu e um homem saiu com uma arma apontada para o casal.
Quatro homens estavam no veículo. Uma dupla permaneceu no carro e outros dois saíram.
— Foi tudo muito sincronizado, enquanto um homem apontava a arma pra nós, outro fez a limpa. Aconteceu em questão de segundos. Além do carro, levaram dinheiro e nossos celulares — lembra a vítima, de 34 anos.
Na época, ele trabalhava como motorista de aplicativo. Ao disparar o recado para diversos grupos de WhatsApp, conseguiu, com a ajuda de outros colegas, encontrar o carro 50 minutos depois, abandonado no bairro Algarve, em Alvorada. Dois meses após o crime, deixou de trabalhar para o aplicaitivo devido à alta probabilidade de ser assaltado e à pressão da família.
— Minha esposa não dormia enquanto eu não chegava. A chance de ocorrer um assalto ou uma tentativa, é muito grande. Aí deixou de valer a pena.
A esposa ficou quase 60 dias sem querer sair de casa à noite e ainda hoje se nega a permanecer no carro sozinha. Junto, o casal abriu recentemente um comércio no Rubem Berta. No futuro, planejam morar em Florianópolis para fugir da violência na Zona Norte.