O Rio Grande do Sul registrou queda de 24,5% nos homicídios (1.601 em 2017 contra 1.208 neste ano) e 35,6% nos latrocínios (73 contra 47) entre janeiro e junho deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (10) pelo titular da Secretaria da Segurança Pública (SSP), Cezar Schirmer.
Em Porto Alegre, os assassinatos apresentaram queda de 15% (368 registros em seis meses de 2017 diante de 312 neste ano), e os roubos com morte se reduziram em 30% (10 para 7 vítimas). O roubo de veículos foi o único indicador que teve elevação na Capital: acréscimo de 2,4%. Em meio à apresentação dos dados, o secretário criticou a decisão da Justiça que permite a volta de 17 líderes de facções para o RS – que estão em prisões federais.
— Acho péssima decisão. Um desastre. Argumentos pífios.
Schirmer demonstrou preocupação com o aumento da criminalidade caso a volta dos presos seja efetivada. Segundo o secretário, há a possibilidade de as facções se reorganizarem e de a disputa se intensificar:
— São criminosos com longa tradição do crime, têm mais de 840 anos de pena, fora o que já cumpriram. Não são bandidos de crimes menores, não é ladrãozinho de chinelo. São assassinos contumazes. Em tese, não deveriam sair da cadeia.
Em resposta aos juízes que não aceitaram a permanência dos 17 presos líderes de facções fora do Estado por supostamente não ter impacto na redução da criminalidade, Schirmer apresentou dados comparativos antes e depois da Operação Pulso Firme.
Segundo a SSP, houve redução de 18,3% nos homicídios e 28,4% nos latrocínios no Estado. O levantamento comparou o período de 1º de julho de 2016 a 30 de junho de 2017 e 1º de julho de 2017 a 30 de junho de 2018. No caso dos assassinatos, o decréscimo foi de 2.799 para 2.288. Já os latrocínios diminuíram de 141 para 101.
Além das críticas à decisão, Schirmer reconheceu que o número total de homicídios ainda é alto. Destacou que estão sendo feitas ações para deter a criminalidade. Entre as quais, citou a construção de prisões em Bento Gonçalves e em Porto Alegre.
– Em agosto, fica pronto o presídio atrás do Central – referindo-se à prisão erguida pelo grupo Zaffari na Capital em troca por um terreno na Avenida Praia de Belas.
O secretário observou ainda que seguem as negociações para a construção de uma penitenciária federal em Charqueadas. Segundo o titular da pasta, a área foi transferida para a União:
– O ministro da Segurança, Raul Jungmann, me disse que o projeto está em processo de elaboração. Gostaria que a penitenciária viesse o quanto antes.
A metodologia adotada pela Secretaria de Segurança Pública
No levantamento da SSP, são levados em conta o número de casos de homicídio (um crime pode ter mais de uma morte) e, também, o de vítimas. O gráfico a seguir apresenta ambos os registros, com ênfase em quantas pessoas morreram.
A análise dos especialistas
A socióloga e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Fernanda Vasconcellos se diz cética sobre a redução dos casos de homicídios no RS. Estudiosa do assunto, a pesquisadora salienta que os dados podem apresentar distorções e não levar em conta encontros de cadáveres e mortes em confrontos com a Brigada Militar.
— Estudando nessa área, fico com o pé atrás. Tudo vai depender de como vão construir banco de dados, de como a Secretaria da Segurança Pública vai alimentar essa planilha — salientou.
Em 2011, Fernanda participou de pesquisa encomendada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) para avaliar como eram construídas as bases de dados dos Estados. Ficou responsável por analisar a situação no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A conclusão?
— Cada Estado preenche de maneira diferente — explica.
Diante a possibilidade de distorção e a proximidade das eleições, a pesquisadora entende que números positivos podem ter caráter publicitário.
— Estamos em ano eleitoral e, honestamente, acho que está sendo divulgado para se obter dividendos políticos.
Já o presidente do Instituto Cidade Segura e doutor em sociologia, Marcos Rolim, avalia positivamente a redução:
Estamos em ano eleitoral e, honestamente, acho que está sendo divulgado para se obter dividendos políticos.
FERNANDA VASCONCELLOS
Professora da UFRGS, socióloga e especialista em segurança pública
— É sempre boa notícia uma queda na taxa de homicídios, qualquer que seja a queda.
Mas Rolim pondera que houve pico de violência entre 2016 e 2017 em Porto Alegre e na Região Metropolitana, uma situação atípica.
— O mais provável é que as taxas tenham, agora, voltado ao patamar em que se encontravam antes desse pico e que já eram muito altas. Se for isso, a tendência de aumento nas taxas de homicídio pode não ter sido revertida. É preciso tomar esses números com cautela, portanto — conclui.
Ataque às facções e efetivo maior, explica chefe de Polícia
O ataque ao crime organizado é um dos fatores apontados pelo chefe da Polícia Civil, Emerson Wendt, para a redução da criminalidade. Entre as frentes utilizadas na luta contra organizações criminosas estão investigações de lavagem de dinheiro – que ajudaram a descapitalizar o crime – e a transferência de presos a três prisões federais.
— Só um dos transferidos foi investigado em mais de cem inquéritos de homicídios. É um dos que vai continuar por lá, não vai voltar. O período de renovação dele ocorreu antes dos outros e foi renovado com antecedência — afirma Wendt.
A contratação de novos agentes é outro fator apontado pelo delegado para a queda na criminalidade. Conforme o policial, o novo contingente de 550 policiais acabou suprimindo o déficit gerado pelas aposentadorias de outros agentes.
— Focamos em locais com maiores índices de criminalidade — disse.
Na Brigada Militar, o porta-voz, major Euclides Maria Neto, manifestou-se por nota e disse que a corporação “tem buscado atuar com base na análise criminal de cada região. As ações fazem parte das diretrizes estratégicas para atividades do policiamento, visando melhorar o serviço oferecido à população com a otimização dos recursos disponíveis e a redução de crimes de maior potencial ofensivo.”