Dói o ombro. O quadril. A lombar. Quando o tempo está para chuva, o joelho incomoda. "Na minha idade, dói tudo." Para quem tem mais de 60 anos, a dor pode parecer condição indissociável da idade — mas não é. Um idoso não deve se conformar com desconfortos desse tipo, ainda que a terceira idade seja a faixa etária que mais sofre com dor crônica.
Há sinais de alerta bem estabelecidos que devem nortear a pessoa com dor para que busque avaliação e orientação profissionais. A dor progressiva — que vai aumentando — e tem duração superior a duas semanas, tão forte que é capaz de despertar o indivíduo à noite, podendo ser acompanhada de febre e perda de peso (muitas vezes, o apetite fica preservado, mas há emagrecimento mesmo assim), precisa ser investigada, segundo Roberta Rigo Dalla Corte, médica geriatra acupunturista com área de atuação em dor.
Dor crônica é aquela que se prolonga, estendendo-se por mais de seis semanas. A sensação dolorosa não sofre alterações significativas, podendo se apresentar sempre da mesma forma. Há medidas não farmacológicas que contribuem muito para diminuir a ocorrência de episódios dolorosos.
— Bom condicionamento a partir da prática de atividade física, musculação. O músculo dá sustentação para as articulações. Ter a massa muscular boa vai melhorar a qualidade da articulação e doer menos — explica Roberta, também chefe da Unidade de Geriatria do Serviço de Medicina Interna do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Ter pouca massa muscular e não se movimentar são fatores que contribuem para a dor crônica, aponta a geriatra. O idoso fica cada vez mais imóvel, e a massa muscular vai diminuindo (condição chamada de sarcopenia, que também aumenta a dor).
— A dor crônica prejudica a qualidade de vida. A pessoa tem alterações no humor, fica chateada, irritada. Em geriatria, o que nos preocupa é que o paciente abandona as saídas, o convívio social, a atividade física — observa Roberta.
Outras medidas de enfrentamento são fisioterapia, que pode aplacar a dor mais intensa e capacitar para o início ou a retomada da prática de exercícios, e a acupuntura, sem reações adversas quando executada por profissional adequadamente habilitado.
— A acupuntura cai muito bem para idosos, diminuindo o uso de analgésicos. É uma grande arma para a dor musculoesquelética. Já está estabelecida como tratamento eficiente — afirma Roberta.
A importância do estilo de vida
Abordagem que se baseia em hábitos saudáveis para a prevenção de doenças, a medicina de estilo de vida tem seis pilares: alimentação, atividade física, manejo do estresse, controle do consumo de substâncias de risco (álcool, cigarro), sono e relações pessoais.
— Se as pessoas, sejam doentes ou sem diagnóstico, com menos de 60 anos ou mais de 60, aderirem aos seis pilares anti-inflamatórios, elas têm menos chance de ter dor, menor risco de adoecer. Terão melhora da qualidade de vida e mais saúde — resume o oncologista Alexander Daudt, coordenador do Núcleo de Medicina de Estilo de Vida do Hospital Moinhos de Vento.
O médico explica que todos temos dores, independentemente da idade, por motivos variados, decorrentes de postura ou desgaste, por exemplo.
— Mas, se pudermos trabalhar a nossa rotina, tendo um estilo de vida adequado dentro desses seis pilares, certamente teremos outra qualidade de vida, com qualquer idade — complementa Daudt.
Essa orientação considera as restrições que cada indivíduo apresenta. Uma pessoa com a mobilidade comprometida pode se beneficiar de uma caminhada de curta distância, dentro de suas possibilidades.
— O sedentarismo vai se associar à dor e à mortalidade. Digamos que eu faça os meus 150 minutos de atividade física semanal recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Se passar oito horas sentado, isso é um fator independente de risco de mortalidade e de doença. Tenho que atender o telefone de pé, dar uma caminhadinha — comenta o especialista.
Segundo Daudt, a palavra-chave é conexão: consigo mesmo e com os outros. Perceber-se leva à possibilidade de desenvolver e adotar comportamentos mais saudáveis. E os seis pilares não precisam estar, sempre, recebendo o mesmo nível de investimento:
— Pode ter algum desnível. Um comportamento leva ao outro. Neste momento, estou motivado a me mover mais. Para me mover mais, percebo que o cigarro está atrapalhando. Posso começar a parar de fumar. Aí noto que tudo isso está me fazendo dormir melhor.
Fique atento
- Não se conforme com quaisquer dores que surjam. Busque avaliação profissional
- Sinais de alerta: dor progressiva que dura mais de duas semanas, febre, perda de peso
- Não se automedique. Idosos costumam tomar muitos remédios. Usar um medicamento sem orientação pode provocar interações indesejadas com outros remédios de uso contínuo