Questões relacionadas à sexualidade seguem sendo permeadas por tabus e preconceitos quando se trata da terceira idade. Esses fatores fazem com que os idosos fiquem mais suscetíveis a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como sífilis e HIV.
De acordo com especialistas, é preciso falar abertamente sobre o assunto para desfazer os estigmas ainda existentes, inclusive entre os profissionais de saúde.
Andressa Alves da Silva, geriatra associada à Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Rio Grande do Sul (SBGG/RS), comenta que o aumento da expectativa de vida tem feito com que as pessoas cheguem à terceira idade bem mais funcionais e, por consequência, sexualmente ativas. Também reforça que, embora seja comumente associada à juventude, a vida sexual é algo que precisa ser considerado ao pensar no envelhecimento saudável e na qualidade de vida dos idosos.
Vida sexual de idosos e os tabus
Mas apesar das mudanças sociais e nos hábitos de vida, os tabus em torno do assunto ainda afastam esse público de medidas de prevenção como o uso de preservativo. Isso resulta em um cenário que vem gerando preocupação nos especialistas: o aumento de casos de ISTs na população com mais de 60 anos.
— O que percebemos a partir da série histórica é que estamos tendo um aumento crescente desde 2011 nos nossos números de detecção de HIV na população 60 mais. As demais ISTs também são prevalentes, visto que é a mesma forma de exposição. E vinculamos esse aumento considerável de quatro vezes mais desde 2011 à mudança no nosso perfil de idoso — reforça Cristina Bettin, assessora técnica da Coordenação da Atenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (Caist) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre.
A assessora técnica aponta que muitas pessoas da terceira idade ainda pensam que existem grupos de risco específicos para o HIV, como homossexuais e profissionais do sexo. Enquanto, na verdade, atualmente se fala em comportamentos de risco — como ter relações sem uso de preservativo —, já que a região metropolitana de Porto Alegre enfrenta uma epidemia generalizada do vírus causador da aids.
— A população mais velha não se enxerga nessa posição de estar suscetível à infecção pelo HIV. Mas temos números cada vez maiores e acreditamos que estejam subnotificados por dois motivos: um deles é porque essas pessoas acham que não precisam fazer o teste e o outro é porque os próprios profissionais de saúde acreditam que é uma população para a qual não precisa ter esse olhar e oferecer testagem — afirma Cristina.
Cuidados necessários
As especialistas enfatizam que o uso de preservativo é uma das principais medidas de prevenção para todas as idades e comentam que, por serem casados há muito tempo ou terem poucos parceiros, os idosos acreditam não precisar dessa proteção.
— Eles associam o preservativo mais à questão da gravidez e acabam esquecendo de usar na terceira idade. Mas também pelo próprio fato de não estarem habituados, de virem de uma época em que não se falava tanto em prevenção. E hoje em dia sabemos que existem preservativos masculinos e femininos — comenta Andressa.
Cristina ressalta, contudo, que a camisinha não é o único recurso disponível e que há diferentes opções de prevenção que podem ser combinadas entre si, de acordo com a preferência de cada indivíduo.
Entre as medidas, a enfermeira cita o uso de gel lubrificante, que diminui o risco de microfissuras nas regiões genitais, a profilaxia pré-exposição (PrEP) — medicamento que pode ser tomado diariamente para evitar a infecção em caso de exposição ao HIV — e a profilaxia pós-exposição (PEP), que é iniciada após uma possível exposição.
Conforme as especialistas, outro ponto importante é que existam campanhas de conscientização voltadas para esse público em específico e que os profissionais de saúde abordem essas questões. Ambas também julgam necessário falar abertamente sobre o assunto em casa para que deixe de ser um tabu e passe a ser tratado com a naturalidade que merece.
— Claro que sempre com respeito, mas deve ser falado. Acho que os familiares devem orientar e garantir que os idosos mantenham um acompanhamento médico regular, para que possamos fazer essa abordagem. Nós, geriatras, sempre tentamos enxergar a saúde como um todo, então a abordagem dessas questões sexuais também faz parte da nossa avaliação — destaca Andressa.