Constrangedora e capaz de levar ao isolamento, a incontinência urinária tem a frequência de ocorrência aumentada na terceira idade. Precisa ser logo encarada e adequadamente tratada.
É um problema que afeta mais as mulheres. Estudo da Sociedade Internacional de Continência realizado nos Estados Unidos mostrou que a prevalência da perda involuntária de urina entre elas é de até 10% na faixa etária de 20 a 30 anos, percentual que se eleva para 40% a 60% aos 60 anos e pode chegar a 80% acima dos 80 anos, sobretudo em instituições geriátricas. Ainda assim, considera-se que haja subnotificação, dada a dificuldade de se encarar a situação e porque muitos acreditam se tratar de condição inerente ao envelhecimento.
São três os tipos de incontinência: de esforço, relacionada ao aumento da pressão intra-abdominal, como no caso de tossir, espirrar, pular, rir ou levantar peso; de urgência, com a chamada bexiga hiperativa, quando não se consegue armazenar adequadamente a urina (a pessoa sente a vontade e precisa sair correndo); e mista, se as incontinências de esforço e de urgência ocorrerem juntas. Há ainda a enurese, que ocorre durante o sono, mais comum na infância mas também possível na velhice.
De acordo com a médica urologista Karin Jaeger Anzolch, diretora de Comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), os três tipos se tornam mais comuns com o avanço da idade.
— Isso se deve a uma série de fatores. A incontinência é mais comum na mulher porque a uretra é mais curta, e os mecanismos de continência são um pouco mais deficientes. Ela está sujeita a gestações, o que aumenta o peso sobre a bexiga. Quanto mais gestações e maiores os nenês ou quanto maior o aumento de peso na gestação, aumenta também a possibilidade de incontinência, principalmente a de esforço. O homem também pode ter incontinência de urgência, mas consegue controlá-la melhor — explica Karin, mestre e doutora em Ciências Cirúrgicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que recebe pelo menos um caso diário de incontinência em seu consultório.
A menopausa representa particularidades para a parcela feminina dos pacientes.
— Por diminuir e depois acabar a produção de estrogênio, o principal hormônio feminino, pode haver uma atrofia da região urogenital (área do períneo). A uretra e a vagina ficam com mucosas fininhas, e isso acaba favorecendo a incontinência. O envelhecimento e a deficiência hormonal também levam a uma maior chance de flacidez do assoalho pélvico — acrescenta Karin.
Outros fatores estão associados à incontinência urinária, como o diabetes, que pode prejudicar o funcionamento da bexiga, a obesidade, questões neurológicas como as doenças de Alzheimer e Parkinson e acidente vascular cerebral (AVC). Os problemas causam diminuição da percepção da vontade de urinar e alterações de funcionamento. Para os homens, cirurgias da próstata (por aumento da glândula ou pela presença de um tumor) podem deixar como sequela a dificuldade de controlar a urina, que demanda tratamento complementar.
Gustavo Franco Carvalhal, médico urologista e chefe do Serviço de Urologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), destaca que um componente comum do dia a dia feminino pode levar ao retardamento da busca por ajuda. Como estão habituadas a usar absorventes higiênicos durante o ciclo menstrual, as mulheres se adaptam ao incômodo da urina escapando e demoram, em média, seis anos para ir ao médico.
— A incontinência causa muito constrangimento. Homens e mulheres com incontinência mais severa, muitas vezes, saem do convívio social com medo de passar vergonha — observa Carvalhal.
Adiar o tratamento pode ocasionar desconforto, assaduras e infecções por fungos e bactérias. A vida íntima também tende a ser impactada pelo cheiro de urina ou pelo escape de líquido durante as relações sexuais.
— A incontinência de urgência realmente atrapalha a qualidade de vida. A pessoa vive fazendo mapeamento dos banheiros quando chega a um lugar — constata Karin.
Homens e mulheres devem buscar a orientação de um urologista — mulheres, especificamente, podem recorrer ainda ao ginecologista. Será feita uma análise detalhada de cada caso para a definição do tratamento, que pode incluir desde mudanças de hábito, passando por tratamento de doenças crônicas (obesidade e diabetes), fisioterapia, medicação e aplicação de botox na bexiga, até a realização de cirurgias, como o implante de um marcapasso no órgão.
— Às vezes, basta a pessoa se habituar a urinar mais frequentemente para ter menos episódios de incontinência. É comum meninas e mulheres serem orientadas a não urinar fora de casa, não ir a qualquer banheiro. Isso é errado. A bexiga fica muito cheia, e pode haver infecção urinária porque a urina fica parada — comenta Carvalhal. — Outra coisa importante é ver se a pessoa não está ingerindo uma substância irritativa da bexiga, que provoca vontade de urinar com mais frequência, como, por exemplo, a cafeína. Investigamos a dieta para ver se não tem café ou chimarrão demais — complementa o médico da PUCRS.
Quanto menor o grau de incontinência, aponta Karin, mais fácil é a solução:
— Se a pessoa percebe que não tem o controle urinário na maior parte do tempo, se está tendo urgência, se existe preocupação com banheiros, tem que procurar ajuda. Temos muitos tratamentos a oferecer.
Familiares podem ajudar a alertar o idoso e a convencê-lo da importância de procurar orientação especializada.
— A pessoa mais idosa acha, muitas vezes, que é normal perder urina porque está ficando velha. Não é normal — assegura Carvalhal.