Você não fez grandes mudanças na alimentação, continua ingerindo aproximadamente a mesma quantidade de calorias e, mesmo assim, ganhou peso? Se já passou dos 60 anos, a explicação pode estar relacionada ao funcionamento do organismo. Na terceira idade, o corpo continua executando as mesmas funções, mas com a diferença de que passa a despender menos energia.
Com o tempo, a chamada taxa metabólica de repouso, o gasto energético realizado durante o sono, vai se reduzindo. Por isso, mesmo que a pessoa não aumente o consumo calórico, acaba acumulando quilos a mais, explica o médico endocrinologista João Salles, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
— É a fase da vida em que é mais fácil a gente ganhar peso — resume Salles, também professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. — Por gastarem menos calorias à noite, essas pessoas acabam ganhando peso. O fato de engordar acaba gerando uma vontade maior de comer. Você vai comendo errado, deixa de fazer exercício, já tem um metabolismo mais baixo — explica.
Fernando Gerchman, médico endocrinologista, membro do Departamento de Obesidade da Sbem e diretor da Abeso, acrescenta que o indivíduo adquire massa gorda no decorrer dos anos:
— Como a gente diminui nosso gasto energético ao redor de 2% por década, tende a acumular mais gordura corporal.
O ganho de peso pode se juntar a outro problema na velhice: a redução de massa muscular típica do avanço da idade (sarcopenia). A partir dos 50 anos, perde-se 1% de músculo por ano, destaca Salles. Esse processo acontece também nos obesos, sendo chamado de obesidade sarcopênica.
— Quando se comparam o quadro de obesidade com sarcopenia e o quadro de obesidade sem sarcopenia, a obesidade com sarcopenia tem mais doença cardiovascular, diabetes, doença renal, síndrome de imobilidade associadas. A pessoa fica pesada, o músculo é fraco, ela não consegue andar, não consegue fazer exercício. Entra num círculo vicioso — diz Salles.
No tratamento, é imprescindível que o paciente consiga perder gordura preservando a massa muscular. Isso se dá, ressalta Salles, com a prática de exercício resistido, como musculação, e pelo consumo de proteínas adequadamente.
— O paciente da terceira idade, principalmente com mais de 75 anos, come menos proteínas. Se deixar, ele fica só com pão e café com leite de oito em oito horas. Temos que lançar mão de estratégias que o façam ter uma ingestão adequada de leite, carne, ovos — comenta Salles, apontando que também pode ser necessária a prescrição de um suplemento proteico.
A obesidade nessa fase pode significar a existência de problemas da ordem musculoesquelética. O paciente pode apresentar condições como estenose de coluna, hérnia de disco, artrose de quadril e lesões no pé. O recomendado é passar por uma avaliação médica para que se defina o tratamento adequado.
— Também se utiliza medicamento além de exercício e dieta — detalha Gerchman.
Saiba mais
- A obesidade é mais comum a partir dos 65 anos.
- O ganho de peso está relacionado a uma redução na taxa do metabolismo basal ou de repouso, à noite. A maior parte do gasto calórico do indivíduo se dá nessa fase e se reduz muito depois dos 60 anos.
- O tratamento prevê mudança de estilo de vida, com prática de exercícios físicos e reeducação alimentar, e pode incluir a prescrição de medicamentos. Há remédios eficazes para a redução de apetite que também diminuem o risco de doença cardiovascular e renal, por exemplo.
- O obeso da terceira idade está mais sujeito a desenvolver comorbidades. A obesidade pode levar a mais de 200 doenças.