Como para grande parte das questões de saúde, a prevenção da osteoporose é um esforço de longo prazo, dependente de bons hábitos que devem se estender pela vida inteira. Mas há um momento determinado em que o possível enfraquecimento dos ossos precisa ser observado com mais atenção.
Para os homens, a densitometria óssea, exame de imagem que avalia a densidade dos ossos e pode diagnosticar a osteoporose, pode ser realizada aos 70 anos. Para as mulheres, muito antes: o início da menopausa sinaliza o momento de saber como está a qualidade do esqueleto. O problema é bem mais comum na parcela feminina da população, numa proporção de três a cinco mulheres para cada homem. Estima-se que de 30% a 35% das mulheres após a menopausa terão osteoporose.
— Mulheres na pós-menopausa têm que se preocupar com a osteoporose. Parou de menstruar, entrou na menopausa, começa a pensar nisso. Antes, não. Em geral, o ginecologista acompanha. O endocrinologista também tem o papel de lembrar isso. Vale para quem tem histórico familiar e para quem não tem. Com os homens, nos preocupamos mais tarde. Se não tem histórico, nada que sugira osteoporose, faz densitometria a partir dos 70 anos, pedida pelo geriatra, clínico geral, cardiologista ou urologista — resume Marise Lazaretti Castro, médica endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia — Regional São Paulo (Sbem-SP) e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A osteoporose é uma doença progressiva que aumenta o risco de fraturas, ocorrências que podem ter consequências graves, como perda da mobilidade, e até fatais para os idosos — há os que nunca se recuperam de um osso quebrado e acabam morrendo.
— A osteoporose leva a fraturas com baixo trauma, traumas que não deveriam fraturar ou até espontâneas. Isso prejudica muito a qualidade de vida e reduz a expectativa de vida. Como estamos sempre querendo viver mais e viver bem, temos que prevenir, se possível — afirma Marise.
O estrogênio, hormônio feminino, tem uma função importante na preservação da massa óssea, e a perda dessa massa ocorre à medida em que diminuem os níveis de estrogênio, em geral por volta dos 50 anos.
— A construção do osso se dá, principalmente, nos 30 primeiros anos de vida, para homens e mulheres. Dos 30 aos 50, é a fase de platô, com declínio a partir dos 50. E a mulher é mais acometida por causa da menopausa. Entrou na menopausa, já está em mais risco, principalmente nos cinco primeiros anos. Acontece uma queda de hormônios muito violenta. A queda do estrogênio faz aumentar a destruição do osso — explica o reumatologista Marcelo de Medeiros Pinheiro, professor da Unifesp e vice-presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso).
De acordo com o médico, há um perfil mais acometido pela doença:
— O biotipo mais comum é a mulher magrinha e branca.
Existem outros fatores que predispõem ao problema, como histórico familiar, deficiência de cálcio e vitamina D, sedentarismo, tabagismo e consumo excessivo de álcool (leia mais abaixo). A alimentação é a base da prevenção, sustentada pelo consumo regular de laticínios (leite, iogurte, queijo). Os médicos falam na necessidade de se fazer uma poupança óssea ou de cálcio.
— A poupança deve começar na infância. Uma alimentação rica em laticínios na infância e na adolescência é muito importante. E seguir fazendo, senão você acaba gastando a poupança — recomenda Pinheiro.
Para quem tem intolerância à lactose, valem os produtos sem lactose. Aqueles que não consomem derivados do leite devem fazer suplementação de cálcio, mas médicos reforçam que a prioridade é sempre a incorporação de cálcio à dieta. A prática regular de atividade física é outra das medidas essenciais para garantir o aporte necessário do mineral ao organismo.
— Tomar o remédio e não fazer nada seria o mais fácil, mas está errado. Queremos conscientizar sobre as medidas não medicamentosas. Toda vez que você ganha músculo, você ganha osso. Musculação é um exercício superimportante. Não queremos só a caminhada, queremos a musculação também. Não adianta tomar o remédio, não fazer nada, ficar cambaleando para subir escadas e cair. As estratégias não medicamentosas são muito importantes para o osso e para a saúde global — destaca o reumatologista.
Todo mundo terá osteoporose um dia?
Não, nem todas as pessoas desenvolverão osteoporose, mas boa parte delas. Depois dos 80 anos, praticamente 50% dos indivíduos têm a doença, destaca a reumatologista Marise Lazaretti Castro, da Sbem-SP.
A osteoporose é bem mais comum nas mulheres, que são mais acometidas a partir da entrada na menopausa. Até os 70 anos, a proporção é de oito mulheres para cada homem. A partir dos 70, a incidência aumenta entre a porção masculina da população, com três mulheres para cada homem.
O que é
A osteoporose é caracterizada pela perda progressiva de massa óssea, o que enfraquece os ossos e os predispõe a fraturas.
Fatores de risco
- Doenças endócrinas, como diabetes ou hiperparatireoidismo
- Doenças inflamatórias (artrite reumatoide) e inflamatórias intestinais (Crohn)
- Alimentação inadequada
- Deficiência de cálcio e/ou vitamina D
- Sedentarismo
- Menopausa
- Histórico familiar
- Tabagismo
- Anorexia nervosa
- Alcoolismo
- Uso prolongado de alguns medicamentos, entre eles os corticoides
- Deficiência na produção de hormônios
- Câncer, HIV, hemofilia, insuficiência renal e talassemia
Prevenção
- Alimentação saudável, que inclua cálcio e proteínas, além de outros elementos importantes
- Consumir três porções de laticínios (leite, iogurte, queijo) por dia. Cálcio é fundamental para o fortalecimento dos ossos
- Para quem não toma leite de vaca e prefere extratos vegetais (leite de castanhas ou arroz, por exemplo), optar pelos produtos fortificados com cálcio. Verduras de folhas escuras (brócolis, espinafre, couve) têm cálcio, mas em pouca quantidade se comparadas aos laticínios. Quem tem baixo nível de cálcio precisa de suplementação
- Expor-se ao sol de forma moderada, por alguns minutos, sem protetor solar, para estimular a produção de vitamina D, fundamental para a absorção do cálcio pelo organismo. Quem tem baixo nível de vitamina D precisa de suplementação
- Não fumar e evitar o uso excessivo de álcool
- Não abusar da ingestão de café preto. Considerar quatro cafezinhos ou duas xícaras grandes ao dia como limite
- Praticar atividade física regularmente, sobretudo musculação
- Manter peso adequado
- Mulheres que entraram na menopausa devem consultar um médico e passar por uma densitometria óssea. Homens podem realizar o exame aos 70 anos
- Fazer reposição hormonal na menopausa, se não houver contraindicação
Fonte: Marcelo de Medeiros Pinheiro, reumatologista, Marise Lazaretti Castro, endocrinologista, Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde (OMS)