A lista de nutrientes essenciais para o funcionamento do corpo humano não é pequena. Obtida por meio da exposição solar e da suplementação, a vitamina D é uma das mais conhecidas. A falta dela pode causar fraqueza óssea e muscular, cansaço e, em crianças, raquitismo. Por outro lado, o excesso de vitamina D é o que mais preocupa os especialistas.
A vitamina D é considerada um hormônio. A principal forma de absorção é pela pele, por meio da exposição solar. A radiação ultravioleta estimula a síntese da vitamina, que é responsável pela regulação do metabolismo do cálcio. O hormônio atua na saúde óssea, com papel fundamental na formação e fortalecimento dos ossos.
Estudos recentes demonstram que a vitamina D tem funções vitais, isto é, regula a expressão de mais de mil genes, participando decisivamente do funcionamento de vários órgãos e sistemas.
Segundo a nutricionista clínica Lohane Rocha, do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o ideal é que as pessoas se exponham ao sol diariamente, por alguns minutos, e, de preferência, sem protetor solar.
— A orientação é que esses minutinhos de exposição sejam entre às 10h e 16h, que é o período em que o sol está mais forte e a absorção será melhor. Para garantir a vitamina D, é importante pegar sol no tronco, ou seja, nos braços, cabeça e nuca — afirma Lohane.
Uma preocupação comum atrelada a essa recomendação é o risco de câncer de pele, uma vez que evitar a exposição solar nos horários em que o sol está mais forte e usar protetor solar são maneiras eficazes de diminuir as chances da doença. A dermatologista do Hospital Moinhos de Vento Suzana Hampe reitera que a exposição solar precisa ser segura. Se essa indicação oferecer ao paciente mais riscos do que benefícios, formas de suplementação ou reposição de vitamina D devem ser consideradas.
— Aquele paciente que tem muitos sinais na pele, já teve câncer de pele, tem histórico familiar ou risco de desenvolver câncer de pele, não deve usar a exposição solar como fonte de vitamina D. Nestes casos, a pessoa tem que ter uma dieta adequada e suplementar a vitamina D de outra forma — explica a dermatologista. Suzana defende que o protetor solar bloqueia apenas parte da radiação solar, então o paciente que fizer exercícios físicos ao ar livre usando protetor solar, por exemplo, ainda conseguirá absorver um pouco de vitamina D.
Dependendo da região e da estação do ano, os dias de sol são mais raros. Mas a nutricionista Lohane Rocha garante que os níveis de vitamina D no sangue se mantêm por um tempo. Então, ainda que o ideal seja a exposição diária, três dias de sol por semana já podem ser o suficiente em períodos de tempo instável. Ainda, o médico endocrinologista e metabologista e professor da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Jivago da Fonseca Lopes, alerta que, em alguns casos, a recomendação pode variar:
— Para maioria das pessoas os 15 minutos diários são o suficiente, mas existem variações, como idade, exposição e tipo de pele. A luz solar induz a produção de melanina, que reduz a produção de vitamina D na pele, exigindo, portanto, que pessoas de pele negra tenham maior tempo de exposição.
Além disso, os especialistas aconselham o consumo de alimentos que contenham vitamina D ou que potencializem a absorção do hormônio. Na lista, estão itens ricos em gordura vegetal, como azeite de oliva, e animal, como laticínios, ovos e peixes variados.
Falta de Vitamina D
A deficiência de vitamina D acontece, principalmente, quando a exposição solar é insuficiente ou quando o paciente tem alguma condição de saúde que dificulta a absorção da vitamina. Nestes casos, há uma série de sintomas que aparecem. Mas o geriatra, nutrólogo e professor da Universidade Feevale, Leandro de Avila Minozzo, ressalta:
— A deficiência costuma ser assintomática. Quando a pessoa começa a sentir os sintomas, como fraqueza, dor muscular e óssea, é porque a deficiência já está em um nível mais severo.
A nutricionista Lohane Rocha, do HSL, conta que outros sintomas comuns são a sensação de cansaço, falta de equilibro e o sistema imunológico debilitado. Como a deficiência costuma ser assintomática, a nutricionista defende que a melhor forma de prestar atenção nos níveis de vitamina D no sangue é manter os exames em dia.
Os valores de referência, estabelecidos pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), definem que níveis menores a 20 ng/mL (nanograma por mililitro) são considerados deficientes. Para pacientes de risco, como idosos, obesos e com outras doenças, o nível mínimo pode subir para 30 ng/mL.
Entre as doenças oriundas da falta da vitamina D, estão o raquitismo, no caso das crianças, e osteomalácia, para adultos. O raquitismo é uma doença que afeta crianças, normalmente na primeira infância, causada unicamente pela falta de vitamina D, que enfraquece a estrutura óssea. A doença pode causar dor e, ainda, fazer com que os ossos das pernas e dos braços fiquem tortos.
— A osteomalácia é diferente da osteoporose. Na osteomalácia, os ossos doem, enquanto na osteoporose, o paciente só sente os ossos fracos — diferencia Minozzo. Em mulheres, porém, a falta de vitamina D, segundo a endocrinologista do Hospital Mãe de Deus Melissa Barcellos Azevedo, também pode causar osteoporose.
Ela pontua que, diferentemente do raquitismo, uma situação pouco comum, a osteoporose em mulheres é bastante frequente. Ainda mais no período anterior e durante a menopausa, que costuma acontecer a partir dos 45 anos.
— As duas alterações que mais causam osteoporose são a falta do hormônio estrogênio, que acontece quando entra na menopausa, e a falta de vitamina D. Então, neste período, aumenta o risco de osteoporose e as mulheres acabam tendo que ser mais cuidadosas que os homens com os níveis de vitamina D — enfatiza.
Suplementação
Caso os níveis de vitamina D estejam próximos ou abaixo dos valores limite para o considerado saudável, a solução é suplementar a vitamina, com comprimidos prontos ou manipulados em farmácias. Embora os medicamentos sejam vendidos sem a necessidade de prescrição médica, os especialistas reiteram que o acompanhamento médico é essencial para o sucesso do tratamento.
— Qualquer médico é capaz de prescrever quando há deficiência, mas a sugestão é procurar médico endocrinologista. A dose de reposição deve ser cuidadosa, conforme a literatura, para evitar intoxicação — recomenda Lopes, o professor da UCPel. A dosagem e a duração do tratamento, assim como a frequência da suplementação, deverão ser prescritas pelo médico, após análise dos exames necessários.
Excesso de vitamina D
Aquele ditado “quanto mais, melhor” não se aplica à vitamina D. O excesso do hormônio, comum em pessoas que suplementam a vitamina sem orientação médica, pode causar uma série de problemas.
É mais fácil corrigir deficiência de vitamina D do que corrigir um excesso.
MELISSA BARCELLOS AZEVEDO
Endocrinologista
— A vitamina D em excesso vai afetar a absorção de cálcio no corpo todo. Além dos níveis tóxicos de cálcio, o paciente com excesso dessa vitamina pode ter insuficiência renal aguda, arritmia cardíaca, fraqueza muscular constante, episódios de convulsão, cálculos renais — explica o professor da Feevale.
Os casos de excesso de vitamina D não acontecem naturalmente. Ou seja, um alto nível de exposição solar não resultará em altos níveis de vitamina D. A condição, normalmente, é causada pela suplementação inadequada do hormônio.
— São exceções, mas sempre tem algum caso de paciente que interna por causa de excesso de vitamina D. Já atendi pacientes com níveis superiores a 150 ng/mL. Isso acende um alerta. Não quer dizer que todo mundo com valor elevado de vitamina D vai ter um caso grave de insuficiência renal, e aí está a importância de analisar e acompanhar esse paciente — ressalta Melissa.
*Produção: Yasmim Girardi