Parar de comer carne, começar a usar suplemento de vitamina B12 e pensar que não há diferença para o organismo é um erro que pode fazer mal à saúde. Essencial para o bom funcionamento do corpo humano, a B12 não pode faltar na alimentação e está presente em produtos de origem animal: todos os tipos de carne, ovos, leite e derivados. Uma realidade tem chamado a atenção nos consultórios de médicos e nutricionistas: um número maior de pacientes buscando informações sobre a suplementação de B12. A maioria porque aderiu ao veganismo, mas também há quem reduziu o consumo de carne com a alta dos preços.
A vitamina B12 atua no metabolismo de diversas células, especialmente dos sistemas neurológico e sanguíneo. Portanto, é arriscado ficar sem ela. Segundo a médica nutróloga Carolina Dias da Costa Morales, da Santa Casa de Porto Alegre, o corpo dá demonstrações quando há falta ou deficiência.
— Em um primeiro momento, são sinais mais leves, como dificuldade de concentração e de memória, sensação de cansaço, falta de rendimento no trabalho, dor e formigamento em membros inferior. Depois, aparecem irritabilidade, perda de memória mais grave, alguns quadros relacionados à depressão e à ansiedade — explica Carolina.
Conforme a nutricionista Daniela Fagioli, da diretoria da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), a falta de proteínas, metabolizadas pela vitamina B12, também pode deixar a pele mais flácida e os cabelos e as unhas mais quebradiços.
Os profissionais ouvidos pela reportagem concordam que cresceu a procura pelos suplementos, ainda que não consigam precisar a alta em números.
— Tem tido mais procura, sim. Não consigo te precisar em números, mas há aumento nos pedidos. Especialmente entre as mulheres, pelo que eu vejo no meu consultório —afirma Daniela.
A nutricionista cita que postagens em redes sociais podem colaborar para alarmar ainda mais as pessoas que, com medo de ter uma deficiência, correm para tentar suplementar antes mesmo de investigar.
— É aquela velha situação: é muito mais fácil você ir na farmácia comprar a vitamina pronta do que consultar, investigar e acompanhar — completa Daniela.
Os veganos precisam ter mais cuidado
Os veganos — indivíduos que não consomem nenhum tipo de proteína animal — precisam de suplementação de vitamina B12 na dieta e de acompanhamento profissional, de preferência de um nutricionista, nutrólogo ou endocrinologista.
— Eu aconselho que esta decisão de se tornar vegano não seja drástica, porque o nível de B12 vai despencar e é difícil regular depois. Quando é feita uma transição, o organismo vai se adaptando à escassez. De qualquer forma, uma pessoa vegana realmente não vai conseguir a B12 de forma natural e, por isso, vai precisar de suplementação. Antes de qualquer coisa, tem que investigar para verificar se tem deficiência ou uma ingestão adequada — diz Daniela.
— Qualquer suplementação tem que passar por uma avaliação médica clínica e laboratorial. A partir de dados objetivos, a gente consegue estabelecer que tipo de paciente é, qual deve ser a suplementação, qual a dosagem, por quanto tempo, se será por via oral, com comprimidos, ou injetável, enfim, várias informações relevantes. Muitas vezes, mais importante do que repor é identificar a causa da deficiência — acrescenta Carolina.
O endocrinologista Gustavo Cipriani orienta que a pessoa compre sempre suplementos aprovados pela Anvisa e siga a dosagem indicada.
— É importante ter um acompanhamento profissional até porque, ao deixar de comer carne, o paciente vai ter que ajustar toda a dieta para atingir os níveis adequados de proteína vegetal. Não é só repor a B12, tem que repor carboidrato, cálcio e, principalmente, proteína. Mas é preciso tranquilizar um pouco as pessoas. A vitamina B12 tem um risco de intoxicação muito baixo, pois todo o excesso do complexo B sai na urina, é uma vitamina hidrossolúvel. Mas, logicamente, não dá para sair tomando sem controle — alerta Gustavo.
Quando se trata de uma pessoa vegetariana, a suplementação pode nem ser necessária.
— O vegetariano ainda consegue a B12 no leite, nos ovos, no queijo, nos derivados do leite. Então, ela vai conseguir manter os níveis bons, desde que faça um acompanhamento com um profissional. Mas, de qualquer maneira, o risco é muito menor — acrescenta Daniela, referindo-se àqueles que não consomem carne mas ingerem ovos, leite e derivados.
Recorrer aos suplementos como uma substituição à carne para economizar é uma atitude questionada pelos especialistas, que fazem algumas ponderações:
— Para mim, isso não faz o menor sentido. Porque estaríamos igualando a carne à vitamina B12. E não é. A carne nos oferece ferro, zinco e, principalmente, aminoácidos essenciais que fazem parte da nossa formação muscular. Não é trocar seis por meia dúzia. A pessoa vai precisar de outras suplementações também, como de aminoácidos, que são mais caros. Então, quando a gente fala de suplementação a longo prazo, pode impactar nas finanças da pessoa. Dificilmente, ela vai comprar só uma vez. A dosagem varia conforme cada caso, daí, pode até custar mais caro — alerta Carolina.
A alternativa, no caso do consumo de carne ser reduzido por dificuldades financeiras é encontrar fontes de proteína mais baratas na alimentação.
— Se for meramente por uma questão financeira, existem outras fontes mais baratas do que a carne: fígado e coração, por exemplo — completa a médica nutróloga Carolina Morales.
Daniela Fagioli concorda que, se for só por uma questão de preço, não adianta tirar a carne e usar suplementação de B12. A matemática financeira pode, inclusive não compensar.
— O valor varia conforme o tipo: tem vitamina intramuscular, que é mais cara, e a de comprimido, que não tem um custo tão elevado, mas daí a gente entra em outro quesito: que indústria que está fazendo? Qual a procedência? Outro ponto: muitas vezes, a pessoa não sabe e compra o complexo B, sem precisar, porque é assim que vendem, geralmente. Se a deficiência é só de B12, tem que ingerir só a B12. Senão, corre o risco de o organismo se desregular — explica Daniela.
Onde buscar ajuda profissional
Fagioli,lembra que o serviço de nutrição existe no SUS e também em várias universidades particulares do país. A maioria das faculdades de Nutrição oferece atendimento e acompanhamento de forma gratuita à população.
Nutricionistas podem prescrever a vitamina B12 oral (comprimidos). Os médicos também podem prescrever a versão intramuscular, que costuma ter dosagem maior.