O câncer de pele é um dos tumores mais frequentes no Brasil e no mundo, de acordo o Ministério da Saúde. A doença costuma aparecer em pessoas acima de 40 anos, com pele, cabelos e olhos claros e que tiveram períodos de exposição solar contínua e cumulativa ou episódios recorrentes de queimaduras de sol. Entre os diversos tipos existentes, três se destacam como os mais comuns: carcinoma basocelular (CBC), carcinoma epidermoide (CEC) e melanoma.
Os tumores são separados em dois grupos classificatórios, os cânceres de pele não-melanoma e os melanomas. No primeiro, o CBC e o CEC, considerado os dois mais frequentes. No segundo, o melanoma, um dos mais raros, mas mais graves. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que o Brasil registrou 176,9 mil novos casos de câncer não-melanoma em 2020, e 8,4 mil casos de melanoma.
— O sol, neste contexto, age de duas formas. Uma pela queimadura, aquele vermelhão que os veranistas têm no verão. Com o tempo, a recorrência dessas queimaduras vai alterando o DNA dos melanócitos e a alteração dessas células pode gerar um melanoma. A outra forma é pela exposição progressiva e cumulativa ao sol, como trabalhadores rurais ou pescadores têm, por exemplo. A longo prazo, altera o DNA dos queratinócitos e aumenta as chances de causar os cânceres de pele do tipo não-melanoma — explica a dermatologista da Oncoclínicas do Rio Grande do Sul Clarissa Prati.
Ela explica que o câncer de pele surge de um dano solar já estabelecido. Ou seja, o paciente que já teve muitas queimaduras ou anos de exposição solar pode receber o diagnóstico no futuro, ainda que fique anos sem contato exagerado com os raios solares.
Tipos de câncer de pele
Carcinoma basocelular
Considerado o mais comum e também o menos agressivo, o carcinoma basocelular (CBC) costuma aparecer em pessoas de pele clara, com mais de 40 anos e com longa bagagem de exposição solar. Segundo a dermatologista do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre Sabrina Dequi Sanvido, o CBC normalmente surge com uma bolinha nas áreas da pele que foram expostas ao sol, podendo ser vermelha ou acastanhada.
— Também pode ser uma ferida que não cicatriza nunca. Pode aparecer na área H do rosto. Em volta do nariz, dos olhos e das pálpebras são consideradas áreas de risco. Outra característica é que cresce lentamente. Às vezes, leva anos para uma manchinha se tornar uma bolinha. E, se não for tratado, vai continuar crescendo — relata.
A boa notícia é que esse tipo de câncer não costuma ter metátese. Ou seja, cresce localmente, sem se espalhar pelo resto do corpo.
Carcinoma epidermoide
O carcinoma epidermoide (CEC) também está relacionado à exposição solar progressiva e cumulativa. Sabrina conta que, assim como o CBC, o CEC costuma surgir com uma bolinha na pele vermelha, mas com uma casquinha, semelhante a uma verruga. Segundo ela, é essa crosta que pode diferenciar os dois tipos.
— O CEC é mais agressivo que o CBC e é o segundo subtipo mais comum. Em pacientes transplantados e imunossuprimidos, é até mais frequente que o CBC. O CEC, quando aparece em alguma área da cabeça ou pescoço, tende a ser mais grave. Mas é mais comum que apareça em áreas que ficam expostas ao sol, como a face, o tórax e os membros superiores — descreve a dermatologista.
A maior gravidade do carcinoma epidermoide se deve à possibilidade de apresentar metástase.
Melanoma
Esse é o mais raro, mas mais grave, uma vez que tem mais chances de se disseminar pelo resto do corpo. O melanoma pode aparecer em qualquer parte do corpo, em forma de manchas, pintas ou sinais. O método ABCDE, segundo a dermatologista da Santa Casa, pode ajudar a identificar se uma pinta ou sinal pode ser um melanoma.
— Se dividir a pinta em quatro e as partes não forem iguais entre si, significa que é assimétrico e isso pode ser um sinal. Se a borda for irregular, tiver mais de duas cores e diâmetro superior a 6mm, também é para ficar alerta. O melanoma também é caracterizado pela rápida evolução. Se a pinta surgiu de uma hora para outra ou dobrou de tamanho em poucos meses, é bom ficar atento — conta.
Ela ressalta que se uma pinta ou sinal tiver essas características, não significa necessariamente que é um melanoma. A maioria das lesões, afirma a Sabrina, não será câncer de pele. Mas especialistas entendem que perceber esses sinais é importante porque o melanoma tem altas chances de cura quando diagnosticado precocemente.
Prevenção, diagnóstico e tratamento
Para evitar qualquer um desses três tipos de câncer de pele, as recomendações são simples. Usar e abusar do filtro solar, independentemente da estação do ano ou da temperatura do dia, e evitar a exposição solar proposital sem proteção das 10h às 16h, quando o sol está mais forte. Para aqueles que trabalham sob o sol, a dica é usar chapéus, óculos de sol – uma vez que o melanoma pode surgir no olho também – e proteger o corpo com roupas próprias para a exposição solar.
— Outra forma de prevenção é o diagnóstico precoce. Quem já teve muitas queimaduras de sol, tem histórico familiar de câncer de pele, pele claras e olhos claros, deveria passar anualmente por uma revisão geral da pele com objetivo de diagnosticar precocemente, uma vez que têm mais chances de desenvolver um desses tipos de câncer — defende a dermatologista da Oncoclínicas.
A biópsia é a principal forma de diagnóstico. No consultório, o dermatologista aplica uma anestesia local, corta um pedaço do sinal e manda para análise em laboratório. Caso o resultado confirme um câncer de pele, o paciente tem duas opções de tratamento. Para câncer de pele não-melanoma, o paciente pode optar pela cirurgia de retirada do tumor, ou a radioterapia, para os casos aplicáveis e para pessoas que não podem ser operadas.
— A cirurgia é resolutiva e, com ela, tem menos chances de o tumor voltar. Para o câncer de pele melanoma, o tratamento é a cirurgia. Em alguns casos, se tiver algum gânglio comprometido ou se a lesão não estiver só na pele, é necessário associar alguma terapia, como a imunoterapia, ao tratamento cirúrgico. Mas é apenas para uma porcentagem dos casos. Na grande maioria, a cirurgia resolve — relata a dermatologista da Santa Casa.
As especialistas garantem que, em ambos os tipos de câncer de pele, as chances de cura são altas. Mas pontuam que é importante diagnosticar o mais rápido possível. O Ministério da Saúde afirma que os três tipos podem ser tratados, de forma integral e gratuita, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
*Produção: Yasmim Girardi