Ney Latorraca faleceu nesta quinta-feira (26) aos 80 anos. Desde 2019 ele tratava um câncer de próstata. Na época do diagnóstico, ele retirou o órgão. Com o retorno da doença em 2024, porém, já com metástase, ele retomou o tratamento e estava em internação hospitalar desde 20 de dezembro.
A morte ocorreu em decorrência de uma sepse - popularmente chamada de infecção generalizada - pulmonar. Entenda os dois quadros de saúde:
Câncer de próstata
O câncer de próstata é o segundo tipo de tumor mais frequente entre os homens no Brasil, depois do câncer de pele não melanoma. Conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa é que cerca de 72 mil novos casos sejam registrados anualmente no país. Desse total, três mil são previstos para o Rio Grande do Sul, reforçando a importância da conscientização sobre a doença.
Apesar da incidência, o tema ainda é cercado de preconceitos que podem atrasar o diagnóstico e reduzir as chances de cura. Segundo o chefe do Serviço de Urologia do Hospital Moinhos de Vento (HMV), Eduardo Carvalhal, cerca de 6% a 10% da população masculina vai ter, ao longo da vida, o diagnóstico de câncer de próstata.
— Ele pode ser identificado como uma doença de baixa agressividade, que permanece sem evoluir por anos, com comportamento indolente ou se manifestar desde o início com maior agressividade, levando ao óbito, o que chamamos de fenótipo letal — acrescenta o especialista.
Para ele, um dos grandes desafios da urologia não é apenas fazer o diagnóstico do câncer, mas sim detectar quais pacientes precisam ser tratados de maneira mais agressiva ou com estratégias mais conservadoras. Isso é chamado de estratificação de risco do câncer de próstata, que divide o risco a partir dos dados de biópsia, do nível do PSA e de outros parâmetros clínicos.
O que é o câncer de próstata?
A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino localizada abaixo da bexiga e à frente do reto. Sua principal função é produzir parte do líquido seminal. O câncer ocorre quando as células dessa glândula passam a se multiplicar de forma desordenada, formando um tumor.
O crescimento da doença pode variar. Em alguns casos, o tumor se desenvolve lentamente e pode ser tratado de forma simples; em outros, avança rapidamente, podendo invadir outros órgãos e se tornar fatal.
— A partir da identificação do risco, aliada à idade do paciente e às condições clínicas que decidimos, de forma individualizada e personalizada, qual será o tratamento adequado para o paciente — ressalta o urologista.
Quais são os sintomas?
O câncer de próstata geralmente é silencioso na fase inicial e, muitas vezes, só apresenta sintomas quando a doença já está em estágio avançado. Entre os sinais de alerta, estão:
- Dificuldade ou dor ao urinar
- Aumento da frequência urinária, especialmente à noite
- Sensação de que a bexiga não esvaziou completamente
- Presença de sangue na urina ou no sêmen
- Dor na região pélvica ou lombar
Por ser assintomático no início, exames preventivos regulares são essenciais para detectar a doença precocemente.
Prevenção
Por ser silenciosa, é essencial que homens brancos, a partir dos 45 anos, e pretos, a partir dos 40, devido a predisposições genéticas, comecem a realizar o acompanhamento preventivo.
— É recomendado que, a partir dessas idades, o paciente procure o seu urologista, para fazer uma avaliação inicial, discuta os aspectos envolvidos no rastreamento e se decidido, em conjunto, realizar periodicamente o exame de PSA, uma vez ao ano, associado ao exame de toque retal, pelo menos na avaliação inicial — avalia o médico.
O diagnóstico é baseado em dois exames principais:
- PSA (antígeno prostático específico): exame de sangue que mede a presença de uma proteína produzida pela próstata. Níveis elevados podem indicar alterações, incluindo câncer
- Exames de imagem, como a ressonância magnética
- Toque retal: permite ao médico avaliar o tamanho, a forma e a textura da próstata
Se houver suspeita, é realizada uma biópsia para confirmar a presença de células cancerígenas. Em casos confirmados, exames adicionais avaliam se o câncer se espalhou para outras partes do corpo.
Quais são os tratamentos para o câncer de próstata?
O tratamento depende do estágio da doença, da idade e das condições de saúde do paciente. As opções incluem:
- Vigilância ativa: indicada para casos de tumores pequenos e de crescimento lento, especialmente em pacientes mais idosos
- Cirurgia: a remoção da próstata (prostatectomia radical) é uma das alternativas mais comuns em casos localizados
- Radioterapia: uso de radiação para destruir células cancerígenas
- Terapia hormonal: bloqueia a produção de hormônios que estimulam o crescimento do tumor
- Quimioterapia: indicada para casos avançados ou metastáticos
Diagnóstico precoce
Quanto mais cedo o câncer de próstata é identificado, maiores são as chances de cura e menor o impacto dos tratamentos. A conscientização sobre os exames preventivos e a quebra de tabus em relação ao toque retal são passos essenciais para reduzir a mortalidade da doença, indica o urologista.
— Felizmente, esse é um tabu que vem sendo quebrado aos poucos na nossa sociedade, graças às campanhas de divulgação como o Novembro Azul e iniciativas da Sociedade Brasileira de Urologia e de instituições médicas — afirma Carvalhal.
Sepse
Mais conhecida do grande público como infecção generalizada, a sepse é a resposta do organismo a uma agressão provocada por um agente infeccioso — bactéria, vírus ou fungo. A sepse não é doença, mas uma síndrome.
Pneumonia pode piorar e virar sepse. Infecção urinária também. Os sinais específicos, como escarro purulento ou urina de cheiro forte, dependem de onde está o foco da infecção.
Entre os sintomas estão: febre, dificuldade para respirar, aumento da frequência dos batimentos cardíacos. Para que se caracterize a sepse, deve haver alteração em pelo menos um de seis sistemas orgânicos: neurológico, cardiovascular, respiratório, renal, hematológico e hepático. No caso de Ney Latorraca, a causa morte da morte é por uma sepse pulmonar.