A data de 13 de setembro marca a preocupação de profissionais de saúde e a necessidade de informar a população sobre uma das causas mais frequentes de morte nos hospitais. O Dia Mundial da Sepse, que motiva campanhas internacionais, chama a atenção para as infecções que configuram emergências médicas e requerem atendimento imediato — cada hora é importante e essencial para que se inicie o tratamento adequado, impedindo a progressão para situações de maior gravidade.
Mais conhecida do grande público como infecção generalizada, a sepse é a resposta do organismo a uma agressão provocada por um agente infeccioso — bactéria, vírus ou fungo. Essa reação se dá de forma desorganizada, segundo o médico intensivista Fernando Suparregui Dias, coordenador médico do Serviço de Terapia Intensiva do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Sepse não é doença, mas uma síndrome. Pneumonia pode piorar e virar sepse. Infecção urinária também. Os sinais específicos, como escarro purulento ou urina de cheiro forte, dependem de onde está o foco da infecção.
— Em termos gerais, além dos sintomas locais, o paciente pode ter febre, dificuldade para respirar, aumento da frequência dos batimentos cardíacos. A inflamação em decorrência da infecção causa alterações em funções de órgãos — explica Dias.
Números no mundo
- Estima-se a ocorrência de 47 milhões a 50 milhões de casos de sepse por ano
- 40% dos casos são de crianças menores de cinco anos
- Pelo menos 11 milhões de pacientes não sobrevivem
- Uma a cada cinco mortes está associada à sepse
- Até 50% dos sobreviventes de sepse sofrem com complicações físicas e/ou psicológicas de longo prazo
- 80% dos casos de sepse ocorrem fora do hospital
Fonte: Global Sepsis Alliance
Para que se caracterize a sepse, deve haver alteração em pelo menos um de seis sistemas orgânicos: neurológico, cardiovascular, respiratório, renal, hematológico e hepático. A avaliação especializada considera diversas variáveis do estado do doente.
— Quando a resposta é intensa o suficiente para comprometer de maneira significativa o sistema cardiovascular, a pressão baixa. E quando baixa e não conseguimos fazer com que volte, precisando de medicamentos para que suba, aí temos o choque séptico. O ideal é que o paciente vá para a UTI antes da queda da pressão — acrescenta o intensivista do São Lucas.
O encaminhamento tardio para a terapia intensiva é um aspecto preocupante no Brasil, mas não só aqui.
— Pacientes acabam indo para a UTI quando a pressão já baixou. Muitas vezes, eles já vão entubados e com medicamentos para a pressão. Precisamos melhorar em processos. Além do reconhecimento do quadro, tem a questão de recursos. Nossas emergências vivem lotadas — observa Dias.
Ferimentos podem precisar de cuidados especializados
Roselaine Pinheiro de Oliveira, médica intensivista e coordenadora médica da UTI do Hospital Dom Vicente Scherer da Santa Casa de Porto Alegre, constata que há confusão sobre sepse e choque séptico inclusive entre colegas de profissão.
— O choque séptico é quando esse processo evolui com hipotensão (pressão baixa). Quanto mais rápido se identificar (o quadro) e se iniciar o tratamento, menos chance tem de evoluir para choque séptico — ressalta Roselaine, também professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
— Muita gente pensa que "tudo bem" ter uma infecção. As pessoas costumam ter medo do coração, do cérebro, mas precisam entender que infecção é algo sério — completa.
De acordo com a Global Sepsis Alliance, são registrados entre 47 milhões e 50 milhões de casos de sepse por ano no mundo, o que resulta em, pelo menos, 11 milhões de óbitos. Não se trata de um problema apenas para pacientes já hospitalizados. O objetivo não é alarmar a comunidade, sugerindo que a pessoa corra para o hospital ao menor indicativo de problema, destaca Dias. Há uma série de sinais e sintomas que podem sugerir que um ferimento, por exemplo, precisa de cuidado especializado, como um corte no pé que começa a expelir secreção e provoca inchaço, vermelhidão e calor local. A pandemia deixou ainda mais evidente a importância da higienização das mãos, que podem levar sujeira para dentro da ferida.
— Já atendi um menino que, jogando bola, chutou um botijão de gás e se infectou a partir da unha. Foi piorando e teve uma infecção grave. Às vezes, a pessoa banaliza ou acha que pode resolver se automedicando — diz o intensivista.
Integrantes de grupos de risco (diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca) ficam mais vulneráveis a complicações quando têm infecção e são os que devem buscar atendimento logo. Outras pessoas, se apresentarem manifestações muito intensas (febre alta, problemas para urinar), também.
— A sepse ou o choque séptico podem atingir qualquer um. As faixas mais suscetíveis são os extremos de idade: recém-nascidos, crianças e idosos — salienta Dias.
Entre os focos mais frequentes de sepse estão o sistema respiratório, seguido do intra-abdominal (apendicite que rompe, período pós-cirúrgico de um tumor no aparelho digestivo) e, em terceiro lugar, o trato urinário.
— Quem tem condição de risco precisa manter higiene corporal adequada, evitar situações que possam provocar agravamento, seguir as orientações médicas, corrigir hábitos como tabagismo ou álcool em excesso. Tudo isso minimiza infecções mais graves em quem já tem outros problemas — diz o intensivista do Hospital São Lucas.
— Se o paciente não urinou nas últimas oito ou 10 horas ou se o volume da urina caiu muito, está com odor forte, se há prostração, coração batendo mais rápido, todas essas são alterações que precisam ser levadas em conta — acrescenta Dias.
Sobre a febre (acima de 38ºC), Roselaine pontua:
— É um sinal de alerta. Quando tem febre, alguma coisa está acontecendo. Não se tem febre "do nada". Pode não ser nada de mais, mas alguma coisa está acontecendo.
Após a alta, pacientes que enfrentaram infecções graves, principalmente aqueles que se submeteram a tratamento intensivo com terapias de suporte (ventilação mecânica, diálise), podem ter algum tipo de comprometimento em decorrência dessas significativas alterações no funcionamento do corpo. A recuperação das funções cognitivas, da autonomia e da massa muscular pode demandar tempo e apoio de equipe multidisciplinar.
O que é sepse
Resposta do organismo a uma agressão provocada por agente infeccioso (bactéria, vírus, fungo). Qualquer pessoa pode desenvolver sepse, mas há grupos mais vulneráveis.
Pacientes sob maior risco
Prematuros, bebês de até um ano, idosos a partir de 65 anos, pacientes com câncer, HIV ou que se submetem a tratamentos que enfraquecem o sistema de defesa do organismo, doentes crônicos (insuficiência cardíaca, insuficiência renal, diabetes), doentes internados usando antibióticos, cateteres ou sondas.
Diagnóstico
Não há sintomas específicos, mas deve procurar serviço médico com urgência quem estiver com uma infecção e apresentar febre (acima de 38ºC), aceleração dos batimentos cardíacos, respiração mais rápida, fraqueza intensa, tremores e tontura, além de pelo menos um sinal de gravidade, como pressão baixa, diminuição da quantidade de urina (passar muito tempo sem urinar), falta de ar, sonolência excessiva, confusão mental e fala arrastada (principalmente em idosos). Na pele, equimoses (extravasamento de sangue que forma manchas roxas), manchas escuras ou palidez também são sinais que demandam atenção
Quadros que podem evoluir para sepse
Pneumonia, infecções abdominais e infecção urinária, em apresentações leves ou graves. Quanto menor o tempo passado com a infecção, menor o risco de que se estabeleça a sepse.
Tratamento
As primeiras horas são fundamentais. Devem ser administrados os antibióticos adequados, conforme avaliação médica e resultados de exames.
Fonte: Global Sepsis Alliance e Ministério da Saúde
Cuidados dos sobreviventes
Pacientes que passaram por um quadro de sepse e cuidadores devem observar determinados sinais e sintomas, entre eles:
- Problemas no coração
- Fraqueza muscular
- Novas infecções
- Dificuldade para engolir
- Depressão, tristeza e dificuldade de atenção
- Dificuldade para realizar tarefas do dia a dia (vestir-se, tomar banho)
- Piora do funcionamento dos rins e dos pulmões (diminuição da urina, dificuldade para respirar)
Pacientes a partir de 65 anos têm mais risco de desenvolver complicações após a sepse, precisando de nova internação.
Fonte: Instituto Latino-Americano de Sepse