Solange Lompa Truda (*)
Atualmente, falamos da violência escolar como um fenômeno que afeta a comunidade educacional e pode ser caracterizada de diversas maneiras. Temos exemplos de violência praticada contra professores, estudantes contra estudantes ou contra as instituições de ensino. Trabalhando na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental, dedicamos um olhar atento e observador às características singulares de cada criança, bem como aos movimentos de grupo, das turmas e suas relações dentro do espaço escolar.
Mais do que nunca, observamos práticas preocupantes de bullying e suas consequências na vida dos estudantes. Mas afinal, como entender qual o limite entre uma brincadeira escolar e o bullying?
Entendemos que, na brincadeira, todos se divertem com a atividade, enquanto no bullying a ação gera sofrimento, visando intimidar ou humilhar o outro, só há prazer para quem pratica a violência. Estas atitudes podem ser físicas ou verbais, repetitivas e intencionais e, ainda, exercidas por uma ou mais crianças.
Casos de bullying na escola permeiam notícias do nosso cotidiano, e precisamos falar e conhecer um pouco mais sobre isso. Muitas pessoas ainda acham que as vítimas são sensíveis demais ou que estão de exagero. Escutamos ainda que “não passa de brincadeira de criança”, então é importante salientarmos que brincadeira não envolve agressão ou danos emocionais.
Cabe aqui a reflexão acerca desse que consideramos um dos comportamentos mais nocivos dos nossos tempos, sobretudo entre os mais jovens, e compete não só a professores e equipe escolar, mas, acima de tudo, aos pais e familiares estarem muito atentos aos sinais de que esse tipo de prática e agressão, seja verbal ou física, produz na saúde mental das vítimas e de seus agressores.
A brincadeira é entendida como uma atividade prazerosa, que além de promover o desenvolvimento global, incentiva a interação entre os pares, a resolução construtiva de conflitos, oportunizando diversão e criatividade nas crianças ou jovens envolvidos. A brincadeira é ocasional e positiva e remete a uma relação de troca e de prazer.
Já no bullying, veremos uma relação desigual de poder entre os envolvidos, só o agressor está se divertindo e tendo prazer, é uma situação que machuca e deixa muitas cicatrizes emocionais. No bullying, a ação é repetitiva, intencional, e o comportamento é agressivo.
Temos certeza de que o diálogo ainda continua sendo a principal via de acesso para que o acolhimento e a ajuda cheguem aos que sofrem o bullying, ouvindo-os para que os agressores também possam ser alvo de atenções e auxiliados.
O que não podemos é ficar passivos a tais movimentos, pois como educadores sabemos que minimizar atitudes tanto virtuais como presenciais, considerando como “brincadeiras”, pode causar muitos danos emocionais no desenvolvimento do indivíduo, como autoestima afetada, transtornos de atenção e concentração, baixo rendimento, dificuldade de ir para escola, agressividade e dificuldades de relacionamento social. Além disso, o bullying contamina a comunidade escolar com ansiedade e medo. Por isso, se faz necessário um trabalho de prevenção com as famílias e os educadores das escolas, a fim de controlar os comportamentos agressivos nos espaços de socialização da infância e adolescência.
Acreditamos que o trabalho de prevenção começa dentro de casa, pois a família é um suporte e referência básica para a socialização saudável de crianças e adolescentes. É preciso incentivar o diálogo entre pais e filhos, conhecer os limites, prestar atenção nas mudanças bruscas de comportamento e respeitar as diferenças.
Entre as formas de bullying, podemos citar os insultos, intimidações, apelidos pejorativos, gozações, acusações injustas e de exclusão. No livro Mentes Perigosas nas Escolas, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva divide o bullying em cinco categorias: verbal (insulto, ofensa, xingamento, gozações, apelidos pejorativos), físico e material (bater, chutar, espancar, empurrar, beliscar, roubar, destruir pertences das vítimas ou atirar objetos nas vítimas), psicológico e moral (irritar, humilhar, ridicularizar, ignorar, isolar, ameaçar, difamar ou aterrorizar), sexual (abusar, violentar, assediar ou insinuar) e virtual ( agressão verbal, difamação e gozação pela internet).
Entretanto, nem todos os atos de agressividade que acontecem no ambiente escolar são considerados bullying, por isso precisamos reconhecermos a prática e contarmos com os professores, coordenadores e psicólogos das escolas, para a correta avaliação dos episódios, se foram atos isolados ou se recorrentes e repetitivos, e buscar a melhor forma de ajudar todos envolvidos.
(*) Psicóloga escolar, especialista em infância e adolescência