A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Domingo (9) é dia de festa para o ensino superior agrícola. É quando a Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) comemora 125 anos de histórias, pesquisa e tradição. Em celebração desde o início do mês, uma das cinco faculdades mais antigas da UFRGS está elaborando uma série de eventos que devem se estender até o fim do ano.
— Nossa ideia é refletir o passado e projetar o futuro — salienta Alberto Bracagioli Neto, professor e integrante da Comissão Organizadora do aniversário de 125 anos.
As homenagens não estão partindo apenas de dentro do campus Agronomia. Na última quinta-feira (6), a instituição foi lembrada na Assembleia Legislativa, em homenagem proposta pelo deputado estadual Miguel Rossetto.
Na ocasião, o diretor da Faculdade de Agronomia, Carlos Alberto Bissani, defendeu a relevância da instituição para o país:
— A Faculdade de Agronomia é uma das principais escolas de Ciências Agrárias do Brasil e da América Latina, com histórico de grandes contribuições na formação de pessoas, pesquisa, extensão e difusão de tecnologias, que se traduz em forte apoio à geração de conhecimento e a toda a diversidade de atividades agropecuárias do Rio Grande do Sul e do Brasil.
Como tudo isso começou? A coluna foi atrás de relatos que contam esta trajetória centenária.
A história
A semente da história da Faculdade de Agronomia foi plantada em 1895, quando ocorreu a primeira tentativa governamental de criar uma estrutura de ensino agrícola superior no Estado. Na época, houve a criação da Escola Superior de Agronomia Taquariense, na antiga fazenda Canabarro, em Taquari. Dois anos mais tarde, uma primeira turma de seis agrônomos foi formada, mas o curso não vingou. Por falta de recursos, a escola foi fechada.
Meses mais tarde, o então “presidente do Estado”, como se chamava na época, Júlio de Castilhos, propôs um novo curso de agrônomos à Escola de Engenharia de Porto Alegre, recém fundada em 1896. Com duração de três anos, o curso foi criado em 1898 e começou a funcionar em 1900, formando a primeira turma, com dois agrônomos, em 1902.
— Já naquele tempo, o ensino de nível superior era mais voltado para as atividades urbanas, como a Medicina, a Farmácia, o Direito e a Engenharia. E se percebeu que o meio rural precisava de avanços e que esse tipo de educação poderia oferecer isso — contextualiza o diretor da faculdade.
Em 1910, foi construído o prédio que até hoje se vê da avenida Bento Gonçalves, em Porto Alegre. Na época, levou o nome de Instituto de Agronomia e Veterinária e, em 1917, passou a se chamar Borges de Medeiros. Em 1934, foi criada a Universidade de Porto Alegre, que transformou o Instituto Borges de Medeiros na Escola de Agronomia e Veterinária.
Com a criação em 1950 da UFRGSm passou a se chamar Faculdade de Agronomia e Veterinária em 1959. Em 1970, os cursos de Veterinária e Agronomia são separados e a faculdade passa a ser conhecida como Faculdade de Agronomia — como é hoje.
As pessoas
A Faculdade de Agronomia já formou mais de 4 mil agrônomos e 120 zootecnistas — curso que existe desde 2012. Na pós-graduação, são mais de 2,2 mil mestres e 850 doutores qualificados.
Entre nomes conhecidos que passaram pelo campus, há o folclorista Paixão Cortes, o agrônomo José Lutzenberger, o ex-ministro da Agricultura Luís Fernando Cirne Lima e o deputado Aldo Pinto da Silva.
E, se tem alunos, tem professores. Na instituição, são cerca de 80 professores, mais 48 servidores técnicos administrativos e outros 30 servidores de empresas terceirizadas.
A estrutura
Atualmente, a unidade oferece, além do curso de Agronomia, a graduação de Zootecnia e três programas de pós-graduação: em Ciência do Solo, Fitotecnia e Zootecnia. Dentro da UFRGS, mas em outras faculdades, há ainda um programa de pós-graduação em Agronegócio e outro em Desenvolvimento Rural.
Além do prédio na Bento, no campus Agronomia, há também o "braço direito" do ensino agrícola, a chamada Estação Experimental Agronômica, em Eldorado do Sul. Além da Agronomia, a unidade funciona para apoiar diversos cursos, como Veterinária, Ciências Biológicas e Geociências. São 1,56 mil hectares onde se realizam aulas práticas, atividades de pesquisa e de extensão rural, dias de campo, eventos com produtores rurais e cursos técnicos.
É nesse espaço também que, mais do que laboratórios e estufas, é onde se concentra boa parte do rebanho da universidade. São cerca de 900 bovinos de corte, 35 búfalos e outros animais como aves, ovinos e abelhas. Oliveiras, laranjeiras, bergamoteiras, limoeiros, pessegueiros, macieiras, videiras e espécies florestais são alguns dos tipos de árvore que também compõem a paisagem da unidade, além de pastagens naturais do Bioma Pampa.
As contribuições
Como é uma universidade pública, uma das prerrogativas é a de retornar algo produzido na faculdade para a sociedade. Na avaliação de Bissani, entre as principais contribuições desenvolvidas nesses 125 anos até agora estão o desenvolvimento do programa de melhoramento genético de aveia para consumo humano.
— Segundo as estatísticas, essa variedade feita na UFRGS representa mais de 80% do consumo brasileiro — acrescenta o diretor.
Há também contribuições no desenvolvimento de variedades de forrageira nativas e de práticas visando o melhoramento da fertilidade do solo.
Bissani reforça ainda que há também uma forte preocupação de manter a instituição, que é histórica, atual.
— O avanço na parte de ensino é bem atrelado à pesquisa. Há também uma comissão de graduação dos dois cursos onde estão continuamente avaliando isso. Na área da Zootecnia, há outras marcadas pela preocupação com o bem-estar animal, que também é atual — elenca o diretor.