Mais um aliado na batalha contra a covid-19 desembarcou no Rio Grande do Sul. Na noite desta segunda-feira (3), chegaram ao Estado 32.760 doses da vacina da Pfizer/BioNTech. O imunizante, chamado Comirnaty, é o segundo mais usado no mundo. Atualmente, é ministrado em populações de 90 países, segundo dados do site Our World in Data, da Universidade de Oxford, ficando atrás somente da vacina desenvolvida pela Oxford/AstraZeneca.
O Ministério da Saúde (MS) adquiriu 100 milhões de doses dessa vacina, que devem ser entregues até o final deste ano. O primeiro lote com 1 milhão de doses chegou ao Brasil na quinta-feira passada (29). E, de acordo com o MS, a previsão é de que sejam entregues 13,5 milhões de doses até junho.
A chegada da Pfizer no Brasil foi marcada por atritos com a pasta da Saúde. Isso porque governo federal recusou uma proposta da farmacêutica em 2020. O acordo previa o envio de cerca de 70 milhões de doses com entregas entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, o que teria adiantando a campanha de vacinação no Brasil. A justificativa da União para a recusa foi que o acordo continha cláusulas "abusivas" e "causaria frustração em todos os brasileiros". A finalização da compra do imunizante só se concretizou em março deste ano.
Semanas antes da oficialização das aquisição do imunizante, em 23 de fevereiro, a vacina se tornou a primeira com registro definitivo aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em seguida, foi dado o mesmo registro à vacina de Oxford, enquanto a CoronaVac tem apenas autorização para uso emergencial.
Confira perguntas e respostas sobre a vacina da Pfizer:
Quantas doses o Brasil vai receber, e quando?
O Ministério da Saúde comprou 100 milhões de doses da Pfizer/BioNTech e elas devem ser entregues até o final do ano. Como a vacina precisa de condições especiais de refrigeração, com armazenamento em temperaturas bem baixas, apenas capitais receberão as primeiras doses, porque dispõem de estrutura mais adequada para a conservação.
Em 21 de abril, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou que o governo federal está em tratativas para adquirir outros 100 milhões de doses, que poderiam servir para reforçar a imunização contra a doença em 2022.
Quantas vacinas serão enviadas para o Rio Grande do Sul?
Na noite desta segunda-feira, o Rio Grande do Sul recebe 32.760 doses da primeira remessa de imunizantes da Pfizer/BioNTech. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES), somente Porto Alegre receberá esse montante. A pasta não confirmou se os próximos carregamentos serão divididos com os demais municípios gaúchos.
A tecnologia da Pfizer é mais inovadora?
Assim como a vacina da Moderna, a da Pfizer possui tecnologia diferente, a de RNA mensageiro, ou mRNA, sigla para mensageiro de ácido ribonucleico, considerada um marco na história da ciência. O RNA é um "parente" do DNA que ensina as células a produzirem proteínas e indica quais aminoácidos devem ser usados e em qual sequência. No caso da vacina da Pfizer, o objetivo é ensinar a criação da proteína spike, substância que faz parte do coronavírus e é responsável por ajudá-lo a se grudar nas células e provocar a infecção.
De acordo com a Pfizer, uma vez que é produzida no organismo da pessoa, essa proteína (ou antígeno) estimula a resposta do sistema imune, provocando proteção.
A cientista Ada Alves, chefe do Laboratório de Biotecnologia e Fisiologia de Infecções Virais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, explicou que a tecnologia contida na vacina da Pfizer a torna mais protetora do que a CoronaVac e a AstraZeneca.
— Essas vacinas de RNA protegem mais por destruir as células infectadas, mas também porque auxiliam na produção de anticorpos. Precisamos dos resultados dos estudos que acompanham vacinados ao longo dos meses, mas, a princípio, as vacinas da Pfizer e da Moderna têm uma proteção mais robusta e duradoura. CoronaVac e AstraZeneca se tornaram muito eficientes em impedir a doença grave. Isso é o mais importante, que as pessoas não morram e não tenham sequelas. Agora, é fato que as vacinas da Pfizer e Moderna se mostraram mais protetoras — afirmou.
Qual o intervalo entre as duas doses?
O intervalo entre doses da Pfizer é de 21 dias, conforme recomendação da fabricante. A segunda dose da CoronaVac precisa ser tomada após 21 a 28 dias, e a de Oxford, após 12 semanas. Segundo a Anvisa, a vacina pode ser aplicada em pessoas com mais de 16 anos.
Ela é mais eficaz do que as outras vacinas?
Resultados de estudos em fase 3, feitos com mais de 44 mil voluntários e publicados em revista científica, indicam que a eficácia global da vacina da Pfizer contra a covid-19 é de 95% quando as duas doses são tomadas. A CoronaVac, do Instituto Butatan, tem eficácia global de 50,4%, enquanto a de Oxford/AstraZeneca, produzida no país pela Fiocruz, entre 76% e 82%.
No início de abril, a Pfizer anunciou que uma nova análise de 927 casos sintomáticas da covid-19 indicou que a vacina se mostrou eficaz em um prazo de até seis meses. Além disso, ofereceu proteção em 100% dos casos na África do Sul, onde prevalece a cepa B.1.351 — o que sugere que a vacina pode funcionar contra essa variante.
— A alta eficácia da vacina observada em até seis meses após uma segunda dose e contra a variante predominante na África do Sul oferece mais confiança na eficácia geral — disse o CEO da Pfizer, Albert Bourla.
Quais são os efeitos colaterais?
Os efeitos colaterais relatados para a vacina da Pfizer/BioNTech incluem dor na região da aplicação, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, calafrios, dores nas articulações, febre, inchaço na região da aplicação, vermelhidão na região da aplicação, náusea, mal-estar e linfonodos inchados. Vale lembrar que não necessariamente todas as pessoas apresentarão alguns desses sintomas.
Segundo a agência reguladora dos EUA, a Food and Drugs Administration (FDA), existe uma chance remota de a vacina causar uma reação alérgica grave. Ela geralmente ocorre no intervalo entre alguns minutos a uma hora após tomar uma dose do imunizante. Os sinais de reação alérgica grave podem inclui dificuldade para respirar, inchaço no rosto e garganta, batimentos cardíacos rápidos, erupção cutânea intensa por todo o corpo, além de tontura e fraqueza
Nos EUA, as autoridades analisaram relatórios de reações adversas desde o primeiro dia de vacinação até 16 de fevereiro. Conforme os dados divulgados pelo órgão, pouco mais de 100 mil notificações foram reportadas, das quais 94% foram consideradas não graves e 6% atenderam à definição regulamentar para graves.
Qual a temperatura necessária para transporte e armazenamento?
A orientação da Pfizer é de que os frascos da vacina sejam armazenados em temperaturas entre -90ºC e -60ºC, com validade de seis meses. No entanto, a Anvisa atualizou as exigências para permitir a logística no Brasil. Os frascos fechados poderão ser mantidos e transportados em temperaturas entre -25ºC e -15ºC por até duas semanas. Nos postos de saúde, podem ficar em refrigeradores com temperatura entre 2°C e 8°C, por cinco dias, o que possibilita a sua aplicação.
A SES anunciou que não pretende utilizar ultrafreezers para o armazenamento dos frascos — os equipamentos podem chegar a temperaturas de -80°C, o que cumpriria com a recomendação da farmacêutica.
O lote deverá chegar em caixas térmicas especiais e ser acondicionado em freezers comuns a uma temperatura de -20°C, conforme regulamentação da Anvisa. De acordo com a SES, depois que os frascos ficarem em geladeiras comuns ou refrigeradores, não poderão ser congelados novamente.
O imunizante foi testado em crianças e em adolescentes?
A Pfizer e a BioNTech disseram, em março, que a vacina é segura e demonstrou 100% de eficácia na produção de anticorpos em adolescentes. No ensaio clínico com 2.260 jovens de 12 a 15 anos, houve 18 casos de positivados no grupo que recebeu a injeção de placebo e nenhum no que recebeu a vacina. Segundo as duas empresas, isso resulta em 100% de eficácia na prevenção da doença.
Os efeitos colaterais para essa faixa etária não foram listados, mas as companhias informaram que os paraefeitos são compatíveis com os registrados em pessoas de outras idades. Ou seja, dor no local da injeção, dores de cabeça, febre e fadiga.
Em 25 de março, foram iniciados os testes em crianças de seis meses a 11 anos. Os resultados ainda não foram divulgados, e a assessoria de imprensa não informou a previsão para a publicação destes dados.
O que se sabe sobre os testes em grávidas?
O imunizante da Pfizer/BioNTech é seguro para as grávidas, de acordo com um estudo preliminar conduzido por pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos. A pesquisa, publicada na revista New England Journal of Medicine, em 21 de abril, analisou os dados de mais de 35 mil grávidas, com idades entre 16 e 54 anos.
Nas conclusões do estudo, é apontado que a vacinação protegeu as mulheres contra a covid-19 e suas complicações durante a gravidez. Além disso, destacou que há evidências de transferência transplacentária de anticorpos do coronavírus após a vacinação materna. Isso sugere que a mãe vacinada contra a covid-19 pode fornecer algum nível de proteção ao recém-nascido, dizem os cientistas.
A vacina é eficaz contra as novas variantes?
Uma pesquisa publicada na revista científica New England Journal of Medicine, em abril, apontou que a vacina da Pfizer protege contra a cepa sul-africana. Outro estudo, publicado no mesmo periódico, mas em março, mostrou que o imunizante foi capaz de neutralizar a variante P.1, que teve origem em Manaus, no Amazonas.
Uma análise preliminar publicada em fevereiro na revista Nature Medicine apontou que a vacina também mostra eficácia contra mutações do coronavírus.
Que países já usam?
Segundo o site Our World in Data, da Universidade de Oxford, 90 países utilizam esse imunizante. Além do Reino Unido, a vacina da Pfizer é largamente utilizada em países da União Europeia e nos Estados Unidos. Mas é em Israel que está se destacando, ao lado do imunizante da Moderna, já que o país do Oriente Médio é o que mais vacinou no mundo, proporcionalmente ao tamanho da sua população. Na América Latina, o Chile, país que mais vacinou em comparação a seus vizinhos, também conta com doses da Pfizer.