Após a repercussão negativa da falta de segunda dose da CoronaVac no Brasil, que no Rio Grande do Sul afetou cerca de 70% dos municípios, governos se organizam para evitar que o mesmo cenário se repita, no futuro, com a vacina de Oxford, produzida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O Rio Grande do Sul começou a aplicar a segunda dose de Oxford na semana passada, nos 116 mil profissionais da saúde da linha de frente vacinados pela primeira vez entre o fim de janeiro e o início de fevereiro – dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) mostram que 29,2 mil pessoas haviam tomado o reforço até esta quarta-feira (28).
A SES informa que já distribuiu todas as injeções de reforço do primeiro lote às prefeituras. A normalidade da aplicação foi confirmada pelo Conselho dos Secretários Municipais da Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS) e pela prefeitura de Porto Alegre.
Ainda não chegou a hora de a população em geral receber a segunda aplicação de Oxford por causa do intervalo entre as doses, que é de quase três meses – diferentemente da CoronaVac, que tem prazo de 28 dias. Mas isso deve mudar a partir de 18 de maio, quando quem buscará a segunda dose de Oxford serão 135 mil gaúchos com 80 anos ou mais vacinados com o segundo lote, recebido no fim de fevereiro. Em seguida, a partir de 11 de junho, será a vez de 36,5 mil idosos entre 69 e 75 anos e quilombolas que receberam Oxford por volta de 20 de março.
O risco de escassez do imunizante de Oxford no reforço é menor, avaliam gestores, porque a vacina representa apenas 30% das primeiras doses do Rio Grande do Sul (as outras 70% são CoronaVac). Avalia-se também que o ritmo de entrega da Fiocruz é mais regular, com previsão de novo lote a cada semana.
— Não há falta de segunda dose de Oxford hoje. A falta (no futuro) vai depender da não haver problemas com insumos, mas o Ministério da Saúde já orienta, em nota técnica divulgada em 26 de abril, para que seja reservada a dose dois a cada dose um aplicada — diz Maicon Lemos, presidente do Cosems/RS.
Na nota técnica, divulgada na segunda-feira (26), o Ministério da Saúde afirma que “as localidades que alcançarem a vacinação do grupo vigente poderão avançar na vacinação dos grupos subsequentes, desde que assegurada a vacinação em esquema completo (D1 e D2) conforme as distribuições das doses de vacinas pelo Ministério da Saúde”. A pasta não respondeu aos questionamentos enviados por GZH.
A SES informou por e-mail que depende do envio de remessas regulares para distribuir as doses e avançar na imunização, mas não respondeu se já está reservando vacinas de reforço para o futuro nem qual será a estratégia a ser adotada para evitar que faltem doses de Oxford.
Mas, em entrevista a GZH na terça-feira (27), a diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Tani Ranieri, observou que o governo deve defender junto a secretários municipais de saúde a reserva de vacinas nas próximas remessas a serem recebidas.
— Acho prudente termos um percentual de doses reservadas caso haja algum problema de desabastecimento — declarou Tani.
Diretor da Vigilância em Saúde da prefeitura de Porto Alegre, Fernando Ritter diz que gestores “aprenderam a lição” com a atual falta de CoronaVac e que o cenário atual é outro, com o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, recomendando a reserva da segunda dose.
— Como não temos certeza de quanto e quando vão chegar os novos carregamentos, faremos uma análise em cada carga para calcular a reserva de segunda dose. Vou trabalhar sempre com margem de segurança. Em março, o ministro da Saúde dizia que não era para reservar, mas agora o atual ministro diz que é para reservar. A situação da pandemia está menos tensa, então dá para segurar a reserva de segunda dose. As pessoas sentiram na pele a dificuldade de não ter — diz Ritter.
RS recebeu 815,1 mil unidades
Até agora, o Rio Grande do Sul recebeu 815,1 mil doses da vacina de Oxford em oito lotes, das quais 676,6 mil foram aplicações iniciais. A primeira remessa enviada ao Estado foi em 24 de janeiro, destinada a profissionais da saúde, que começaram a receber o reforço na semana passada. Na capital gaúcha, o reforço para esses trabalhadores é aplicado em hospitais e será oferecido no próximo sábado (1º), no Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), a médicos que se vacinaram no mesmo local no início de fevereiro.
A prefeitura destaca que não chegou a hora de a população em geral buscar o reforço. Quando o calendário vacinal de idosos exigir o reforço de Oxford, postos de saúde e drive-thrus estarão abertos para receber os porto-alegrenses, afirma Fernando Ritter, da Vigilância em Saúde da Capital.
— Tenho segunda dose para profissionais da saúde. Não tenho segunda dose para a população em geral porque a população em geral não fechou ainda 90 dias da primeira aplicação. Não há idoso que precise da segunda dose da vacina de Oxford, hoje. Pessoas que buscam segunda dose em postos de saúde hoje estão se antecipando, se vacinaram em outra cidade e querem buscar vacina em Porto Alegre ou precisam esperar o mutirão de aplicação da segunda dose do próximo sábado. Assim que recebermos novos lotes de vacina e chegar o prazo da população em geral, vamos disponibilizar nesses locais — diz Ritter.