As 32.760 doses do primeiro lote da vacina contra a covid-19 produzida pela Pfizer em parceria com a BioNTech a chegar ao Rio Grande do Sul serão aplicadas somente em postos de saúde de Porto Alegre, sem utilização de drive-thrus, afirmou a GZH o diretor da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) da capital gaúcha, Fernando Ritter.
A aplicação exclusiva em unidades básicas de saúde ocorrerá até servidores dominarem o complicado processo de manuseio do imunizante. Para o futuro, o uso de drive-thrus deve ocorrer, assim como ocorre com a CoronaVac e a vacina de Oxford.
As mais de 32 mil vacinas destinadas ao Rio Grande do Sul compõem o primeiro lote, de 1 milhão de unidades, entregue ao Brasil na quinta-feira (29). A remessa é a leva inicial das 100 milhões de doses acordadas pelo governo Jair Bolsonaro com a farmacêutica, previstas para chegarem ao país até o fim do terceiro trimestre deste ano.
Essa carga inicial foi produzida na Bélgica e chega após o governo federal ter negado, no ano passado, a compra de 70 milhões de doses da Pfizer, sob a justificativa de a farmacêutica impor “cláusulas leoninas” – o laboratório afirma que as condições são as mesmas exigidas a outros países.
Com eficácia superior a 90%, o imunizante da Pfizer é o carro-chefe da vacinação em Israel e nos Estados Unidos. Pode ser aplicado em pessoas a partir de 16 anos, com intervalo de 21 dias entre as doses.
Em termos totais, o número entregue ao Rio Grande do Sul é baixo – Porto Alegre já chegou a aplicar 16 mil doses em um único dia. O Ministério da Saúde prevê distribuir o imunizante até este sábado (1º) aos Estados, enquanto a prefeitura da capital gaúcha aguarda a chegada entre segunda-feira (3) e terça-feira (4).
O imunizante será restrito às capitais brasileiras por recomendação do governo federal, uma vez que a logística de armazenamento, distribuição e aplicação do imunizante é mais complexa do que para a CoronaVac e a vacina de Oxford.
As dificuldades ocorrem porque a vacina da Pfizer utiliza a tecnologia do RNA mensageiro, o que exige armazenamento sob temperaturas baixas – a molécula de RNA é muito frágil e “desanda” quando permanece no calor.
Como consequência, a vacina da Pfizer pode durar seis meses sob -70ºC (em ultrafreezers), 14 dias sob -20ºC (em congeladores especiais ou caixas com gelo seco) e cinco dias entre 2ºC e 8ºC (em geladeiras comuns encontradas em postos de saúde de todo o país).
Nesta primeira remessa, as vacinas chegarão aos Estados em caixas com gelo seco, armazenadas entre -35ºC e -25ºC, segundo o Ministério da Saúde. Do aeroporto, irão para a Central Estadual de Distribuição e Armazenamento de Imunobiológicos da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES), localizada em Porto Alegre. O local abriga freezers com refrigeração a -20ºC, o suficiente para reter o imunizante por 14 dias.
A partir daí, a prefeitura da capital gaúcha colherá as doses em pequenas levas para distribui-las nos postos de saúde, onde geladeiras armazenarão os frascos entre -8ºC a -2ºC – neste ambiente, a vacina da Pfizer suporta cinco dias.
— Temos que usar 34 mil doses em 14 dias, o que é tranquilo. Já fizemos 16 mil doses em um único dia. Não vamos tirar todas as 34 mil doses da Central de Distribuição do Estado de uma vez. Vamos retirar aos poucos, com foco para uso de segunda a sexta ou de terça a sábado, porque domingo tem menor movimento (nos postos de saúde). Mas esse lote de agora deve durar uma semana — explica Ritter.
Diluição em soro
Para a aplicação, servidores não extraem com a seringa a dose diretamente do frasco: é preciso diluir o conteúdo em soro fisiológico, um preparo a ser feito em, no máximo, duas horas. Após a mistura, a injeção com a vacina da Pfizer está pronta e deve ser aplicada em até seis horas.
Planejamento do governo do Estado aponta que, neste primeiro lote, serão 8,36 mil injeções para idosos com 60 anos, 18,22 mil para pessoas com comorbidades entre 54 e 59 anos, 2,88 mil para gestantes e puérperas, 2 mil para diagnosticados com síndrome de down e doença renal crônica e 1,21 mil para indivíduos com deficiência permanente entre 55 e 59 anos cadastrados para o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Sem reserva de segunda dose
O Ministério da Saúde orientou Estados e capitais a usarem todas as 1 milhão de vacinas recebidas para a primeira dose. A decisão ocorre em meio à falta do reforço da CoronaVac.
— As vacinas virão a -20ºC, então sou obrigado a usá-las em 14 dias. Não conseguiria guardar para aplicar a segunda dose mesmo se eu quisesse — diz o diretor da Vigilância em Saúde, Fernando Ritter.
Mas Ritter afirma que há a expectativa de que o Ministério da Saúde envie um segundo lote de vacinas da Pfizer, destinadas ao reforço, na terceira semana de maio – portanto, uma semana antes do prazo da segunda aplicação. GZH questionou o Ministério da Saúde sobre quando há previsão de um novo lote de vacinas da Pfizer e o que a pasta fará para evitar que haja falta da segunda dose, como registrado com a CoronaVac, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.
Uso dos ultrafreezers
Para lotes futuros, cujo quantitativo maior de doses incluirá também a reserva da segunda dose, Fernando Ritter prevê o uso de ultrafreezers, capazes de refrigerar em temperatura de -70ºC, o suficiente para guardar a vacina por seis meses.
Para isso, a prefeitura de Porto Alegre fechou parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cuja capacidade é de armazenar até 4 milhões de doses em ultrafreezers, no Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS).
Caso seja necessário, há estrutura na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A vacina da Pfizer está em uso em mais de 80 países e foi a primeira a obter da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o registro definitivo no Brasil — antes mesmo de o governo federal conseguir fechar contrato de compra. Somada aos imunizantes CoronaVac e o de Oxford/AstraZeneca, o país tem agora três vacinas contra a covid-19 para aplicar na população.