Os chamados ultrafreezers, que poderiam guardar doses da vacina produzida pela Pfizer/BioNTech contra o coronavírus, são equipamentos aparentemente simples, muito parecidos com os aparelhos de uso doméstico, porém mais possantes do que os que geralmente temos na cozinha.
O diferencial é sua capacidade de armazenar substâncias a baixíssimas temperaturas. Enquanto os freezers comuns chegam a no máximo -20ºC, os ultrafreezers alcançam temperatura de -86ºC, se necessário, mais do que suficiente para guardar com segurança as doses do imunizante desenvolvido pelo laboratório americano, que precisam ficar a -70ºC, e que já são administradas em países como Reino Unido e Estados Unidos . Outra característica que o torna raro é o preço. Não há fabricação nacional. Um ultrafreezer de 520 litros precisa ser importado dos EUA a no mínimo R$ 138 mil cada unidade.
Um levantamento realizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) constatou que a instituição dispõe de pelo menos 22 equipamentos desse tipo e que poderiam ser usados para armazenar a vacina contra a covid-19. Pela estimativa do professor Jefferson Simões, vice-pró-reitor de Pesquisa, esse montante poderia abrigar, com segurança, até 250 mil vasilhames do produto. Cada vasilhame, permite cinco aplicações. Isso significa que a UFRGS poderia guardar imediatamente 1,2 milhão de aplicações.
Seis ultrafreezers estão localizados em uma sala do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS), que reúne 24 cursos da área da saúde, no campus central da universidade, na Capital. Os demais estão distribuídos por diferentes campi, em prédios da Agronomia e Medicina Veterinária, na Avenida Bento Gonçalves, e da Física, da Biociências, no Vale, e da Educação Física, no bairro Jardim Botânico, em Porto Alegre. Quatro novos equipamentos estão sendo adquiridos pelo ICBS. Conforme a diretora do instituto, professora Ilma Simoni Brum da Silva, dos seis equipamentos em operação, três poderiam de imediato ser usados para armazenar vacina. Outros quatro estão sendo comprados pela instituição.
— São freezers muito caros, são poucos os laboratórios de pesquisas que têm esses equipamentos. E, normalmente, eles são compartilhados entre pesquisadores. Apenas amostras especiais são guardadas ali — explica.
Em tempos normais, os ultrafreezers armazenam material biológico utilizados em pesquisas, como soro de pacientes que precisam de dosagens específicas, enzimas raras e amostras de tecidos que desenvolveram câncer, que exigem investigação de materiais genéticos como o RNA, altamente sensível. Durante a pandemia, o instituto tem auxiliado a prefeitura e o governo do Estado na realização de testes de detecção de coronavírus. Foram realizados até agora 38 mil análises. Por isso, muitas das amostras ainda estão guardadas nos freezers.
— Não precisamos guardar todas as amostras negativas. Podemos fazer uma triagem e manter as positivas e um certo número das negativas, para abrir espaço para vacina — diz Ilma, que integra o comitê científico que auxilia o Piratini no enfrentamento da pandemia.
Os ultrafreezers precisam ficar salas também refrigeradas com aparelhos de ar-condicionado. Em breve, o instituto deve receber um sistema de monitoramento de temperatura, que permite acompanhamento, em tempo real, do funcionamento correto dos aparelhos. Caso haja queda de energia ou aumento da temperatura do recinto ou no interior dos ultrafreezers, um alerta soa nos celulares dos pesquisadores. Para melhor controle, no caso de armazenamento da vacina, a professora sugere que todos os aparelhos da universidade sejam reunidos no mesmo prédio.
_ O controle é muito importante, especialmente em Porto Alegre, que passa por intempéries frequentes no verão. Aqui no prédio, temos ainda um gerador _ explica.
O professor Simões salienta que o levantamento ainda está sendo realizado, e a capacidade da UFRGS de abrigar vacinas pode aumentar. Outros centros acadêmicos gaúchos também estão reunindo dados sobre seus ultrafreezers.
— Essa terá de ser uma ação de cooperação de todas as universidades do Rio Grande do Sul — afirma.