Dias depois de o governo começar a rever sua polêmica estratégia de manter a economia funcionando, mesmo no auge da pandemia de covid-19, autoridades da Suécia têm vindo a público admitir o erro da tática. Desta vez, foi o rei Carl XVI Gustaf, que, durante uma entrevista na TV afirmou, de forma taxativa, que a estratégia falhou:
- Acredito que fracassamos. Muitas pessoas morreram, é terrível. É algo que nos faz sofrer.
A Suécia se tornou um país atípico na Europa em 2020: enquanto todos os demais se fecharam em maior ou menor grau, alguns com lockdown, como Espanha, França e Itália, a nação nórdica decidiu por uma tática focada essencialmente em "recomendações" e poucas medidas coercitivas.
Resultado: enquanto na maioria dos países os europeus não podia sair de casa, os suecos viviam uma vida normal, frequentando bares e restaurantes, por exemplo.
Um relatório do governo publicado na terça-feira (15) apontou que o país fracassou em proteger os idosos da covid-19. Segundo uma comissão, medidas governamentais chegaram tarde demais e foram inadequadas. A formação insuficiente das equipes de cuidados e a falta de enfermeiras e médicos no atendimento às pessoas da terceira idade teriam contribuído para o elevado número de mortes em asilos.
Nas últimas semanas, a situação piorou. São mais de 6 mil casos por dia em média, segundo dados do governo. A curva de infecções é ascendente. O número total de mortos chega a 7.802.
Na semana passada, outra autoridade do país já havia admitido que a "imunidade de rebanho" sueca (embora o governo rejeite que essa seja a estratégia) não funcionou.
- Já chega. Simplesmente não pode valer a pena tomar drinques depois do trabalho e correr para comprar presentes de Natal. As consequências são horríveis - disse na quinta-feira (10) a chefe do Serviço de Saúde de Estocolmo, Bjorn Eriksson.
Já há uma clara reversão da estratégia baseada apenas na recomendação para que não haja aglomerações. Agora, estão fechados alguns centros de ensino, estão proibidas reuniões com mais de oito pessoas e a venda de bebidas alcóolicas depois das 22h (para evitar que as pessoas permaneçam em bares e restaurantes). O governo também tenta no parlamento mais poder para impor medidas mais restritivas - a decisão sueca de não confinar a população, além de uma estratégia, também deve-se às limitações do Executivo.