O Ministério da Saúde divulgou nesta sexta-feira (16), em coletiva de imprensa, uma recomendação para que mulheres brasileiras adiem a gravidez devido à nova variante do coronavírus P.1, que foi identificada como mais agressiva em gestantes e puérperas. O secretário de Atenção Primária à Saúde da pasta, Raphael Parente, também informou que o ministério orienta a vacinação contra a covid-19 de grávidas com fatores de risco.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o médico obstetra José Geraldo Lopes Ramos, membro da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), afirmou que não existe um consenso entre as sociedades médicas de que se deva recomendar o adiamento da gestação, mas que a decisão se torna algo lógico, considerando que o sistema hospitalar está pressionado e que as novas cepas têm infectado pacientes mais jovens – o que torna mais frequente os casos entre grávidas.
Para ilustrar o aumento do número de casos entre gestantes, o médico relatou dados de um monitoramento realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). De acordo com ele, no segundo semestre de 2020, a frequência de gestantes com covid-19 assintomáticas era em torno de 3%, enquanto nos primeiros meses deste ano, com a presença da nova cepa no Estado, esse número mais do que dobrou. Em relação às pacientes sintomáticas, a porcentagem foi de 30% para 70%:
— Praticamente triplicamos o número de gestantes que estão com covid-19 e são assintomáticas. A doença ficou mais grave, mais frequente e, em alguns Estados brasileiros, a mortalidade brasileira também aumentou muito. Então, se for possível realmente postergar o plano de uma gestação por um ou dois anos, isso é lógico.
Vacinação de gestantes
Em relação à decisão do Ministério da Saúde de vacinar as gestantes que tenham alguma comorbidade do grupo de risco, Ramos enfatizou que a medida segue uma tendência das sociedades médicas, que recomendam a imunização contra a covid-19 para todas as gestantes, justamente pela taxa de mortalidade das mães ser maior do que a da população em geral.
A fim de tranquilizar a população, o médico explicou também que as tecnologias empregadas, especialmente nos dois tipos de vacinas que estão disponíveis no Brasil, já são utilizadas em outros imunizantes aplicados em gestantes há muito tempo. Além disso, afirmou que, mesmo se fossem produtos que utilizam algum tipo de vírus atenuado, não haveria risco de transmissão materno-fetal, pois casos assim são bastante raros.
— São vacinas já conhecidas, que até hoje não tiveram nenhum tipo de evento adverso específico para gestantes, então são imunizantes com uma segurança que a gente acredita que seja muito boa — destacou.
O médico ressaltou ainda que a ideia entre os obstetras é de que as gestantes sejam consideradas como grupo de risco e sejam todas vacinadas. Para ele, a orientação do Ministério da Saúde foi o primeiro passo para isso e um avanço em relação a essas pacientes.
Paralelo com outras doenças
De acordo com Ramos, a pandemia de covid-19 e a epidemia de zika vírus no Brasil são situações diferentes, considerando que a segunda ocasionava mais problemas ao feto do que à gestante, algo que chamou muito a atenção das pessoas. Por isso, ponderou que talvez a população tenha ficado mais propensa a se proteger do zika vírus do que do coronavírus.
Para fazer uma comparação, o médico falou sobre a H1N1, doença pela qual muitas gestantes morreram. Segundo ele, as grávidas foram o primeiro grupo a ser vacinado contra a doença no Brasil, e isso foi superimportante, pois até hoje elas continuam sendo consideradas do grupo de risco:
— Conseguimos diminuir muito a taxa de morbidade pela H1N1 em gestantes e a vacina contra a covid-19 para elas provavelmente vai ter uma influência muito semelhante à que houve na H1N1. Então, com as grávidas entrando no grupo de risco e sendo vacinadas de maneira adequada, a gente deve reduzir, e muito, a taxa de mortalidade que está ocorrendo no Brasil.
Além disso, Ramos afirmou que a vacinação desse grupo certamente influenciará em uma diminuição expressiva nos números de infecção por coronavírus.