Contrair o novo coronavírus pode representar um risco a mais para gestantes. Isso porque a infecção por Sars-CoV-2, vírus causador da covid-19, provoca alterações moleculares durante a gravidez, conforme uma pesquisa de cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) publicada nesta semana. Essas alterações estão associadas ao quadro de pré-eclâmpsia, uma doença caracterizada, principalmente, por um quadro de hipertensão arterial durante a gravidez.
O estudo The risk of COVID-19 for pregnant women: Evidences of molecular alterations associated with preeclampsia in SARS-CoV-2 infection, coordenado pelos professores Walter Beys da Silva, do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular da UFRGS, e Markus Berger, do Centro de Pesquisa Experimental do HCPA e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Ginecologia e Obstetrícia da UFRGS, foi publicado no último domingo (1º) na revista científica internacional Biochimica et Biophysica Acta - Molecular Basis of Disease.
Os resultados da pesquisa identificaram que em pacientes com covid-19, além de amostras experimentalmente infectadas por Sars-CoV-2, ocorre um impacto dramático na expressão gênica do hospedeiro, resultando em um quadro molecular ligado à pré-eclâmpsia e vias metabólicas associadas, tais como a desregulação da hemostasia, isquemia, sinalização inflamatória e resposta vascular.
A pré-eclâmpsia é uma doença que se caracteriza por um quadro de hipertensão gestacional que pode evoluir para situações mais graves, incluindo o aborto e a morte. A hipertensão é considerada uma das principais causas de morte durante a gravidez no Brasil. Levantamentos epidemiológicos recentes mostram que cerca de 10 milhões de mulheres desenvolvem pré-eclâmpsia e 76 mil morrem devido a essa doença e desordens hipertensivas associadas, a cada ano, no mundo. Estima-se que cerca de 500 mil bebês morrem devido à pré-eclâmpsia todos os anos.
Uma lista com mais de 30 marcadores moleculares potenciais foi apresentada no estudo e pode, além de contribuir para um maior entendimento da covid-19, servir de base para a proposição de futuras intervenções terapêuticas específicas para gestantes. Além disso, o estudo reforça a importância da prevenção à infecção pelo novo coronavírus em mulheres grávidas, que constituem um grupo de alto risco e vulnerabilidade durante a pandemia.