Em uma coletiva de imprensa realizada na manhã desta quarta-feira (19), o diretor científico da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), César Eduardo Fernandes, e a presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Luciana Rodrigues Silva, apresentaram os resultados de uma pesquisa realizada entre 1.525 ginecologistas-obstetras e pediatras sobre suas percepções a respeito dos pacientes em meio à pandemia de coronavírus.
O estudo foi feito com 951 pediatras e 574 ginecologistas entre 20 de julho e 16 de agosto de 2020. Ao analisar o impacto da pandemia para as grávidas, foram apresentadas suas maiores preocupações sobre o acompanhamento pré-natal em relação à saúde delas próprias, à evolução da gestação e à saúde dos bebês.
57% sentem medo de contaminação e transmissão vertical; 23% temem as consequências para o feto, como malformações, prematuridade e morte fetal; 11% relatam medo da falta de assistência e receio de ir às consultas; 5% sentem falta de informação e ansiedade; 2% têm dúvidas quanto a ir trabalhar e ao isolamento social e 2% não tiveram nenhuma preocupação específica.
Sobre estes dados, César destacou que, apesar de mais da metade das grávidas se preocuparem com a transmissão vertical, que acontece quando uma infecção passa do organismo da mãe diretamente para o feto, não existe nenhum caso deste tipo documentado com o coronavírus. Ele ainda refletiu que o medo pode ter relação com a memória recente do zika vírus, que apresentava este tipo de transmissão.
Também de acordo com os números, é possível concluir que as gestantes, de um modo geral, se preocupam em primeiro lugar com a saúde do feto em detrimento de sua própria. Porém, de acordo com o médico, elas deveriam atentar mais para seu bem-estar, já que, no Brasil, o índice de mortalidade materna por covid é 3,5 vezes maior do que em outros países.
— Não existe nenhum caso documentado de transmissão vertical. À luz dos conhecimentos atuais, ao que esse sabe, não existe transmissão vertical de coronavírus, então esse medo é infundado, e é negligenciado o risco que elas têm consigo próprias. No Brasil, por exemplo, nós temos um índice de mortalidade materna por covid assustador. Os nossos números são dramáticos, são 3,5 vezes maior do que em outros países. Não é por um determinismo étnico, não é uma maldade da natureza com os brasileiros, é certamente pela assistência inadequada que nós temos para as grávidas de um modo geral, por isso que elas estão falecendo mais — ressalta César.
Os riscos de complicações por covid em mulheres grávidas são maiores principalmente em razão da dificuldade que elas apresentam com a respiração assistida.
— Os cuidados respiratórios com a mulher grávida, mesmo na respiração assistida, mecânica, através de respiradores, é muito mais difícil. A postura da grávida para a respiração mecânica, inclusive, tem que ser feita, na maioria de vezes, de bruços, porque ela tem um abdômen volumoso, e quanto maior é a idade gestacional, maior a dificuldade respiratória. Então, as grávidas têm um risco maior de complicação, de agravamento e de mortalidade por essas doenças, essas síndromes agudas respiratórias — destaca.
Ainda sobre as gestantes, a pesquisa mostra que, de acordo com a percepção dos médicos, 46% das mulheres continuam realizando os exames pré-natal no tempo correto. Porém, outras 46% apresentam dificuldade para realizar os exames dentro do prazo e 8% não estão realizando os exames.
Para César, esse dado é preocupante. Como exemplo, ele citou a sífilis congênita, que aumentou mais de 1000% dos anos 2000 até hoje, de acordo com ele, e que pode causar danos se diagnosticada após 14 semanas de gestação.
— Você tem que fazer esse diagnóstico antes de 14 semanas de gestação, para que você possa fazer um tratamento apropriado. Depois de 14 semanas de gestação, você pode considerar que, se a mãe tem sífilis, na sua classe secundária, quando os sintomas são pobres, os danos já estão feitos. É muito importante não perder a oportunidade de realizar os exames no tempo correto. E veja que, se somarmos 46% com 8%, dá 54% de pacientes ou que não fizeram os exames, ou que tiveram dificuldade para fazer. Estou falando da sífilis, mas não é só ela, tem várias outras questões — pontuou.