Atualmente, um dique fixo de concreto armado protege a área central de Porto Alegre da possibilidade de invasão das águas do Guaíba em tempos de cheia. Trata-se do Muro da Mauá, que possui três metros de altura e outros três metros abaixo do nível do solo. Construído entre 1971 e 1974 e com extensão de quase 2,7 mil metros, o muro integra o chamado Sistema de Proteção Contra Cheias, que conta com 68 quilômetros de diques, 14 comportas e 19 casas de bombas, mas deixará de existir com a implantação do novo projeto do Cais Mauá.
Para evitar situações como a grande enchente ocorrida em Porto Alegre em 1941, quando o Guaíba avançou sobre vários locais do Centro Histórico, chegando até a Rua da Praia e espraiando-se até a metade da quadra entre a General Câmara (Ladeira) e a Uruguai, alternativas para proteção da cidade estão sendo discutidas. Um mecanismo retrátil proposto pelo Consórcio Revitaliza, autor da modelagem da revitalização do Cais Mauá ao lado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é a sugestão, por enquanto, referencial. O motivo é que a futura concessionária que ficar responsável por desenvolver um plano de defesa contra enchentes poderá apresentar outra opção, que precisará passar pelo crivo dos governos estadual e municipal.
A barreira costuma ser alvo de contestação por parte da população da Capital, sob a alegação de separar as pessoas do Guaíba. Em 1997, a Câmara Municipal chegou a autorizar a demolição do muro, mas uma emenda de última hora determinou que isso só poderia ser concretizado quando houvesse um novo sistema de proteção em atividade. Agora, a polêmica sobre manter ou derrubar o muro está novamente em debate. O motivo é justamente a revitalização do Cais Mauá, que nos próximos anos deverá transformar significativamente essa área do Centro Histórico.
A proposta do Consórcio Revitaliza, denominada de Sistema de Contenção Perimetral (SCP), apresenta quatro soluções técnicas possíveis, chamadas de Aquadam, Aquabarrier, Aquafence e Inero (entenda cada uma delas mais abaixo). Seriam estruturas móveis implantadas em um trecho específico de 2,3 mil metros de comprimento, entre a doca próxima da estação da Trensurb, localizada na rodoviária, e o limite da área do Gasômetro.
Como seguiria um trajeto não linear das docas e do cais no limite com o Guaíba, a extensão do sistema de proteção precisaria ser maior dos que os 2,7 mil metros do muro, alcançando 3,1 mil metros. Outra particularidade é que no meio do caminho há uma área específica reservada ao Corpo de Bombeiros. Nesse trecho, não haveria a estrutura removível e seria feito um muro anti-inundação de três metros de altura.
Já o piso entre os armazéns do Cais Mauá e o Guaíba seria elevado em 1,26 metro, na faixa de extensão ao longo da orla. Essa elevação teria a forma de uma arquibancada, com degraus para as pessoas poderem aproveitar momentos de lazer. E acima dessa elevação, o sistema de proteção seria completado com o dique móvel de proteção contra inundações (veja detalhes no infográfico abaixo). Com os diques móveis em funcionamento, a altura total de proteção seria a mesma do Muro da Mauá.
Na proposta do consórcio, foram apresentadas duas estruturas do tipo dique móvel temporário (tubos infláveis com água com os nomes comerciais Aquadam e Aquabarrier). Outras duas sugestões podem ser consideradas tanto como diques móveis temporários quanto desmontáveis (o sistema estaiado Aquafence e o modular Inero).
Esses sistemas removíveis para controle de cheias já foram utilizados em algumas localidades, como o Brooklyn (bairro de Nova York), Massachusetts e New Jersey (Estados norte-americanos), Metropolis (cidade do Estado de Illinois), Ottawa National Wildlife Refuge (situado no Estado de Ohio), Newscastle e Fowey (cidades da Inglaterra). Confira, abaixo, como cada um funciona:
Alternativa com Aquadam
O dique temporário é formado por uma sequência de barragens interligadas que seriam preenchidas com água bombeada do Guaíba. O modelo sugerido, de 1,83 metro, atende às condições de altura, porém, exige uma base de pelo menos quatro metros de largura. Ou seja, o passeio elevado precisaria ter essa largura, além de ser perfeitamente plano e desobstruído.
A Aquadam possui uma cobertura na parte externa composta por um tecido geotêxtil de polietileno de alta resistência. Ele tem um defletor de estabilidade interna vertical, que mantém os dois tubos internos em contato e estáveis quando cheios de água. Os dois tubos flexíveis internos também são constituídos por polietileno.
Aquabarrier
De maneira similar ao anterior, o dique temporário também é formado por uma sequência de barragens conectadas que seriam preenchidas com água bombeada do Guaíba. O modelo sugerido possui 1,83 metro, atendendo às condições de altura do dique temporário. Ele também exige que a base possua ao menos quatro metros. Desse modo, assim como o tipo anterior, o passeio elevado deverá ter essa largura, além de ser plano, liso e desobstruído.
O modelo é um tubo bipartido flexível de material de PVC, reforçado com poliéster e com defletor interno e outras diferenças tecnológicas patenteadas, como a forma de junção de uma barreira com outra, orifícios especiais para enchimento e esvaziamento rápido da água, entre outros aspectos.
Aquafence
O dique temporário é composto por painéis autoportantes em formato de “L”, construídos de compensados de madeira com película impermeável e lonas de ligação (também impermeáveis). O projeto usa o peso da água para estabilizar a barreira com cabos de sustentação inclinados, dando rigidez ao conjunto do painel horizontal e vertical de cada módulo.
O modelo proposto tem 1,80 metro de altura, o que é suficiente para garantir a proteção ao ser colocado sobre o passeio elevado. Já a largura é de apenas dois metros.
Inero
O dique temporário é formado por painéis inclinados sustentados por cavaletes. Estes são ligados lado a lado por engate rápido, e sobre os cavaletes é desenrolada uma lona de polietileno impermeável. Feito de alumínio naval, em função da leveza do material, necessita de correntes pesadas como lastro para sustentação.
O modelo sugerido tem 1,70 metro de altura, mas forçaria o passeio elevado a estar 1,30 metro acima da cota do cais, e não 1,26 metro, como os demais. Quanto à largura do passeio, a exigência seria de 1,50 metro.
Como seria a implantação
Primeiramente, será preciso escolher qual dique de proteção se adapta melhor ao cais da cidade e de que fabricante será adquirido. Há dezenas espalhados pelo mundo, mas nenhum no Brasil. Após a escolha, a empresa responsável por implantá-lo deverá apresentar o plano de montagem.
O Muro da Mauá só poderá ser derrubado depois que o novo sistema de proteção estiver concluído e testado. Outro aspecto importante é saber que um dique retrátil requer mais cuidados do que um fixo, caso do atual. Isso porque o sistema de proteção retrátil ficará, na verdade, desmontado e guardado em algum lugar, sendo necessário apenas no caso de iminente risco de enchente.
Nos estudos preliminares, há a sugestão para que se realize um treinamento anual de montagem do dique móvel, em torno da data de 8 de maio, escolhida por ter sido o pico da enchente de 1941.
Na prática, o primeiro passo será começar a construção do passeio elevado, com degraus de contemplação voltados para o Guaíba. Essa arquibancada servirá de base para a montagem do dique móvel temporário quando houver necessidade, ou seja, se o Guaíba atingir o nível de 1,26 metro acima do cais.
O estudo também indica, na implantação do passeio físico, uma previsão para instalação de uma calha na parte traseira da estrutura. A função será dar conta do acúmulo de água que vazar e facilitar o seu bombeamento de volta para o Guaíba.
Um problema chamado percolação subterrânea
Um laudo foi contratado pela Patrinvest Investimento, do Consórcio Revitaliza, para analisar a proposta de dique móvel, executado pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH). Conforme os apontamentos, as propostas não abordam o problema potencial da percolação subterrânea (movimento descendente da água no interior do solo, de cima para baixo). No Muro da Mauá, por exemplo, há uma cortina de concreto de três metros de profundidade com a finalidade de barrar a percolação subterrânea das inundações.
Como o dique móvel mudaria o traçado da proteção para a orla do cais, se houver percolação, ela poderia acontecer no trecho do cais entre esse novo traçado e o alinhamento do Muro da Mauá. De qualquer maneira, as sugestões ainda são incipientes e novos estudos deverão ser feitos. A substituição da barreira de defesa contra possíveis inundações deverá ser colocada em ação apenas depois da revitalização do Cais Mauá.
O professor Fernando Dornelles, do Departamento de Hidromecânica e Hidrologia (DHH) do IPH, integrou a equipe responsável pelo estudo de viabilidade técnica para substituição da proteção contra enchentes no Cais Mauá. Ele comentou sobre uma alternativa para monitorar a percolação subterrânea, que foi destacada no laudo.
— Uma das recomendações que fizemos foi se realizar o monitoramento por perfurações que monitorem o nível da água dentro do solo na região do cais — revela.
Tirando o muro, vamos ter um grande problema, que é o barulho dos automóveis. Não vi nenhuma alternativa para reduzir a velocidade e a quantidade de veículos que passam ali
FERNANDO DORNELLES
Professor do IPH
Questionado se as quatro alternativas propostas podem funcionar para Porto Alegre, o docente afirma que essa é a ideia:
— Não tem como a gente dizer que não funciona. Os quatro fabricantes têm diversas aplicações e histórico de utilização dessas estruturas, que funcionam com as devidas ressalvas — observa.
O professor vai adiante em suas impressões sobre o que percebeu durante os estudos.
— O objetivo do nosso laudo foi abrir os olhos para a diferença de se ter uma estrutura em concreto armado, engastado no solo e que não necessita de manutenção, para uma alternativa móvel, que possui diversos complicantes — resume. — Não dá para dizer que não funciona, mas fizemos todas as ressalvas para termos o mesmo nível de proteção e buscar o mesmo nível de vulnerabilidade. Ou seja, à vulnerabilidade é somado o risco de o mecanismo falhar. Como é um mecanismo móvel, temos vários aspectos que precisam ser levados em conta. Essa é a grande preocupação, e deixamos bem explícitos os pontos que precisam serem levados em consideração. A decisão acaba não sendo técnica. Mas, se o muro está atrapalhando a parte de permeabilidade social na área do cais, e é preciso fazer sua retirada, essa é uma decisão que perpassa a parte técnica — completa.
O técnico chama atenção também sobre como ficaria o trânsito na Avenida Mauá com a retirada do muro.
— O muro protege contra as inundações do Guaíba e contra a poluição sonora que temos ali na Avenida Mauá. Tirando o muro, vamos ter um grande problema, que é o barulho dos automóveis. Não vi nenhuma alternativa para reduzir a velocidade e a quantidade de veículos que passam ali. Acredito que o muro faz uma barreira sonora e segrega o espaço, de fato. Mas acho que a forma de acessar poderia ser utilizada como um desafio pelos arquitetos. Como, por exemplo, manter o muro e fazer uma passarela, ou elevada de pedestres, saindo de perto do Mercado Público, inclusive de uma altura em que as pessoas conseguissem olhar o pôr do sol por cima dos armazéns — detalha, salientando que já pensou nessa possibilidade durante suas aulas na disciplina de Gerenciamento da Drenagem Urbana.
Enchente de 1941
Porto Alegre testemunhou barcos navegando por ruas onde passavam pessoas e bondes, entre abril e maio de 1941. A enchente, que teve duração de 22 dias, obrigou cerca de 70 mil pessoas a deixarem suas casas. Mais de 600 empresas porto-alegrenses foram invadidas pelas águas do Guaíba. Há farto registro escrito e fotográfico daquelas três semanas de incertezas.
O jornalista Rafael Guimaraens conta em seu livro A Enchente de 41, da Editora Libretos, que, um a um, os serviços públicos começaram a parar de funcionar. No cais, as águas romperam o cabo subterrâneo, deixando os guindastes inoperantes. O sistema ferroviário foi suspenso, pois o trecho entre a Capital e Santa Maria ficou submerso. Também faltou luz e o abastecimento de água foi interrompido. Havia flagelados por todos os lados. Municípios do interior do Estado foram igualmente assolados pelas chuvas. Os rios Caí, Jacuí, Sinos e Gravataí, todos que alimentam o Guaíba, transbordaram.
— É o maior trauma da história de Porto Alegre porque é uma coisa que perdura até hoje. A enchente de 1941 foi a mais intensa e dramática, pois ela resultou de uma conjunção de fatores muito raros de acontecer todos juntos — avalia o autor.
Guimaraens relata que a enchente de 1941 ultrapassou em 1,76 metro acima os três metros de altura do cais, o que fez o Guaíba invadir ruas, comércio e prédios. Naquela época, não existia o Muro da Mauá.
— Esse foi o grande trauma porque afetou o Centro, todos os serviços básicos, os Correios, a estação ferroviária, o aeroporto, que era no bairro São João, a Usina do Gasômetro, que abastecia a maior parte da região central e os bondes — cita.
A enchente de 1941 completou 80 anos em 2021. Desde então, se discutem alternativas para que o episódio não se repita na cidade.
Muro só será derrubado depois que sistema for testado, diz secretário
Secretário estadual extraordinário de Parcerias, Leonardo Busatto falou sobre os quatro modelos propostos como mecanismos de proteção contra enchentes em Porto Alegre. Confira o que o titular da pasta disse a GZH:
O que o senhor achou dos quatro modelos propostos como mecanismo de defesa contra enchentes?
A primeira questão importante é que aquelas são quatro alternativas. Não quer dizer que tenha que ser uma delas. Na concessão, a gente coloca uma exigência. O Estado impôs à concessionária fazer um sistema de contenção que tenha o mesmo nível de segurança que o muro atual. Essa é obrigação. O Estado fez uma proposta, não é obrigatório, a empresa pode apresentar uma outra nova alternativa mais moderna e diferenciada. Mas, evidentemente que a proposta que fizemos é factível, é viável, de elevar um pouco o piso do lado dos armazéns e criar um sistema móvel. Então a consultoria contratada fez pesquisa de mercado e encontrou quatro sistemas que são viáveis, tecnicamente e financeiramente, para atender. Claro que todos esses sistemas, mesmo esses que a gente propôs tanto quanto os eventuais futuros, terão de ser aprovados tanto pelo Estado quanto pelo município. E aí, sim, é que o muro poderia ser derrubado.
O senhor achou algum dos quatro mais interessante?Não tenho nem condições técnicas de avaliar. Nós fizemos uma consulta ao IPH, ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Inclusive esse estudo está disponível no site para quem quiser ver. Pedimos para que o IPH avaliasse a viabilidade técnica dessas alternativas. Ele avaliou que são viáveis. Agora, quem vai decidir qual é o melhor modelo tecnicamente vai ser a concessionária, que vai apresentar um projeto, e nós vamos aprovar. Não saberia dizer qual é o melhor. Isso vai na relação do custo-benefício da empresa, que terá de comprar o sistema e operar o mesmo por 30 anos.
Quais cidades do mundo já utilizam modelos semelhantes?
Todos esses sistemas já existem em várias cidades do mundo. Inclusive em uma das apresentações trouxemos um vídeo dele funcionando em uma cidade dos Estados Unidos. Mas todos esses sistemas têm aplicações práticas no mundo. Isso terá que ser analisado depois, dependendo da proposta que a empresa trouxer.
A maior parte dos modelos parte da base da construção de uma arquibancada de concreto de 1,26 metro entre os armazéns e a orla.
Isso é uma questão importante. Estamos discutindo isso com a prefeitura e os órgãos do Estado. Não existe um documento formal que diga que a barreira de contenção tenha que ser na altura de três metros, que é o que tem hoje o Muro da Mauá. Isso foi construído lá na década de 1970. Foi uma decisão administrativa da época, sem embasamento concreto. Qual foi a alternativa proposta para nós podermos ter uma referência para a concessionária? Vamos estabelecer um sistema que atinja os mesmos três metros. Porque a gente entende que, em tese, teremos a mesma proteção atualmente. Precisamos dar referências para a empresa, mas a solução definitiva é ela que vai estudar e propor. O Estado vai autorizar ou não, a partir de uma proposta muito mais detalhada, inclusive da que está disponível no site.
Onde ficaria guardado esse material retrátil quando estivesse desmontado?
Teremos que ter um local adequado. Vamos lembrar que o Guaíba não sobe de uma hora para outra. Existem medições e, inclusive, estamos criando um convênio com o município para dizer, por exemplo, quem determinará para a concessionária o momento em que precisa ser colocada a barreira. Isso quem vai dizer não é a concessionária. É o poder público que vai dizer. E haverá uma série de exigências que estarão no contrato dizendo que a concessionária mantenha o sistema em condições de uso, teste, faça manutenção e revisão. Onde ela vai guardar, não colocamos.
Há previsão de um pequeno espaço reservado no trajeto do sistema retrátil para um posto do Corpo de Bombeiros. O senhor tem ideia de onde ficaria localizado esse ponto?
O Corpo de Bombeiros está previsto para ficar situado no último armazém do cais, antes das docas. Todo esse armazém será para o espaço dos órgãos públicos. Mesmo neste local vai ter uma proteção. Não posso ter 10 centímetros de espaço nessa barreira, senão a água infiltra, não resolve nada e alaga a cidade.
No estudo, se fala em percolação subterrânea, que seria um problema. No Muro da Mauá, há três metros de barreira abaixo do solo, o que impede a infiltração de água. Como conseguir fazer isso naquele espaço entre os armazéns e a orla?
Certamente, os engenheiros e arquitetos que contratamos terão de fazer para baixo a mesma percolação que temos. Não tenho conhecimento técnico de engenharia para dizer exatamente como eles irão fazer.
A obrigação para a retirada do muro fica lá para o terceiro ou quarto ano, depois que a empresa apresentar um sistema aprovado e seguro para proteger a cidade de uma possível inundação
LEONARDO BUSATTO
Secretário estadual extraordinário de Parcerias
O mecanismo de defesa contra enchentes só será tratado após a revitalização do Cais Mauá?
Quando assina o contrato, a empresa tem uma série de metas que precisam serem cumpridas. Por exemplo, ela vai ter que apresentar os projetos e ter os mesmos aprovados. Então, não colocamos de maneira obrigatória a implementação desse sistema. Primeiro, temos a aprovação dos projetos. Após a aprovação, o sistema precisará ser comprado e testado, para depois ter a retirada do muro. Por isso, até pela sensibilidade do tema, ele será uma das últimas etapas para a revitalização do cais. Ela pode fazer antes? Pode, mas, como obrigação, colocamos lá na frente. Enquanto isso, ela vai fazer as obras de revitalização, urbanização, colocar árvores, bancos de passeio, toda a reforma dos armazéns. Não vai precisar esperar esse novo sistema. Claro que, se houver uma inundação, que dizem não deve ocorrer nem em mil anos, mas se houver uma como a ocorrida em 1941, talvez essa reforma tenha alguma avaria. Mas fica no risco do privado. Porque para ela é bom poder utilizar os armazéns para eventos, shows, restaurantes, comércio, tudo é receita para ela. Mas a obrigação para a retirada do muro fica lá para o terceiro ou quarto ano, depois que a empresa apresentar um sistema aprovado e seguro para proteger a cidade de uma possível inundação.
Após o laudo, qual seria o próximo passo sobre o mecanismo de proteção contra enchentes?
A primeira questão que precisamos finalizar é o convênio com o município de Porto Alegre, para definir as competências. Por exemplo: quem mensura a subida do nível do rio? Quem avisa a concessionária de que é preciso operar o sistema, e quem vai fiscalizar? Como hoje não existe um regramento, vamos estabelecer esse processo. O que acontece depois que a empresa ganha? De imediato, ela vai ter que ir atrás, seja das nossas alternativas, seja de outras, e apresentar um projeto detalhado com estudos e laudo técnico para que o Estado e o município possam avaliar esse novo sistema. Inclusive, estamos definindo a obrigação de que a empresa apresente um estudo dizendo qual é exatamente a altura necessária dessa proteção. Porque esse é o grande ponto. Hoje, temos três metros de altura, mas não há um estudo técnico que diga isso. Provavelmente, devemos estabelecer que a empresa defina o tamanho necessário para proteger a cidade de um alagamento, com um nível de certeza muito alto. Depois de definir qual é a altura, ela vai apresentar se vai fazer isso com piso elevado, ou piso elevado mais barreira móvel, ou apenas com barreira móvel. Não esperamos isso em menos de um ano porque esses estudos demoram. Depois, terá de apresentar um projeto executivo, e ainda o Estado e o município terão de aprovar. Após a aprovação, terá de executar a obra e ter o sistema funcionado. Aí, sim, derruba-se o muro. Esse é o processo que pensamos. Vai demorar uns três anos, no mínimo, para que o Muro da Mauá possa ser derrubado.