Passada a crise que praticamente fechou as portas da instituição no final do ano passado, o Hospital Beneficência Portuguesa está finalmente de portas reabertas para o público desde as 8h desta terça-feira. O hospital na Avenida Independência, em Porto Alegre, será administrado pela Associação Beneficente São Miguel (ABSM), sediada em Gramado, e atenderá, em princípio, pacientes de pronto-atendimento e pacientes de convênios.
Ainda passando por reestruturação física, o hospital reabriu com 22 leitos no quarto andar para internação e 11 leitos de observação na unidade de pronto-socorro. Conforme os novos administradores, o esforço agora será de retomar o convênio com a prefeitura de Porto Alegre para atender pelo SUS e, aos poucos, multiplicar o número de leitos e procedimentos realizados pelo hospital. Em novembro de 2017, a prefeitura cancelou o convênio que previa 116 leitos pelo SUS em razão da não prestação de serviços superior a R$ 8 milhões.
— Já tivemos uma reunião em que a prefeitura nos apresentou uma lista de procedimentos que poderemos realizar como forma de abater a dívida. Oferecemos também outra lista de procedimentos que temos interesses de realizar, especialmente a neurocirurgia e a traumatologia de alta complexidade. Com o tempo, também queremos ser referência em aparelho digestivo — declara Ricardo Pigatto, novo diretor do Beneficência.
Conforme o diretor técnico do hospital, Chou Tsing Yi, a unidade de tratamento intensivo (UTI) está próxima de ser reaberta, mas depende da contratação de nova equipe. Atualmente, o Beneficência opera com um quadro de 115 funcionários, além de um corpo clínico de médicos terceirizados. A coordenação do pronto-socorro e da equipe clínica é do cardiologista Carlos Humberto Cereser.
Como alguns setores do hospital seguem interditados, como a cozinha, alguns serviços são provisoriamente supridos por empresas terceirizados.
Em 9 de julho, a ABSM, presidida pelo oncologista Rafael França, assinou contrato para assumir a gestão da instituição por cinco anos. Passado esse tempo, o grupo receberá o patrimônio do hospital. Segundo uma autoria realizada pelo Hospital Sírio-Libanês em maio, o Beneficência acumula dívidas que ultrapassam R$ 80 milhões. O grupo também assumirá o Hospital Parque Belém, na zona sul de Porto Alegre, fechado desde maio de 2017.
— Nosso objetivo é traçar uma linha entre o passado e mostrar que o hospital é viável e pode ser superavitário daqui pra frente, saldando dívidas do passado — declara o presidente Rafael França.
Crise e retomada
- Em setembro de 2010, a crise no Hospital Beneficência Portuguesa se torna evidente com uma greve de funcionários após o não pagamento de três meses de salário. A Justiça determina depósito dos vencimentos e os atendimentos são retomados.
- Em 2011, a crise se aprofunda com o afastamento do corpo administrativo por suspeita de irregularidades. Sob suspeita de superfaturamentos, contratos de serviços de alta complexidade são reduzidos.
- Ao longo de 2016, crise financeira se agrava, levando a novos protestos de funcionários em razão de parcelamento nos salários e falta de condições de trabalho. A direção, à época, alega atraso nos repasses do Ministério da Saúde.
- Em 2017, com mudança de governo na prefeitura, contrato com o Beneficência Portuguesa é contestado. A prefeitura afirma que repassava cerca de R$ 1,4 milhão por mês para 116 leitos exclusivos SUS, mas que atendimentos não estavam sendo realizados.
- As internações caem de 78 em agosto de 2017 para duas em outubro. Em 29 de novembro, cinco dias depois de o diretor-presidente renunciar, a prefeitura rompe o contrato frente a um passivo superior a R$ 8 milhões em serviços não prestados.
- Embora não tenha sido oficialmente fechado, em maio de 2018 o Beneficência contava com apenas três pacientes. Na madrugada do dia 6 de maio, o prédio é invadido e tem equipamentos furtados e depredados.
- Com apoio institucional do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, uma consultoria do Hospital Sírio-Libanês é realizada. Em 21 de maio, o documento estima uma dívida próxima a R$ 100 milhões (R$ 80 milhões e mais um passivo trabalhista).
- Em julho, a Associação Beneficente São Miguel (ABSM), grupo sediado em Gramado que havia tentado a compra de hospital local, faz uma proposta. Após cinco anos de gestão do hospital e das dívidas, o grupo receberia o patrimônio do Beneficência. O contrato é fechado.
- Prevista para 1º de agosto, a reinauguração é adiada diversas vezes em razão de ajustes com a vigilância sanitária. Nesta terça-feira (28), o hospital enfim reabre com 22 leitos para convênio e pronto-atendimento. O ABSM negocia com a prefeitura o pagamento do passivo por meio de atendimentos pelo SUS.