A partir do dia 1º de agosto, as portas do hospital Beneficência Portuguesa, de Porto Alegre, voltam a ficar abertas de forma definitiva. Essa foi a previsão dada na manhã desta segunda-feira (9), quando foi assinado o contrato de transferência de gestão entre a então mantenedora da casa de saúde, a Associação Portuguesa de Beneficência, e a Associação Beneficente São Miguel, que tem sede em Gramado. A partir de agora, a instituição da Serra é a responsável pelos ativos do Beneficência e por seu passivo, calculado em R$ 80 milhões.
Conforme o presidente da Associação São Miguel, o médico Rafael França, o mês de agosto marcará o reinício dos atendimentos a pacientes particulares e de planos de saúde.
— O segundo passo é retomar os atendimentos para o Sistema Único de Saúde (SUS). Já estamos em contato com a Secretaria da Saúde de Porto Alegre para chegar a um acordo de nova contratualização — detalha, ao frisar que o nome do hospital segue o mesmo.
A troca de gestão foi celebrada em cerimônia na sede do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers). A entidade lidera a força-tarefa em prol do Beneficência Portuguesa, que enfrentou uma das piores crises financeiras desde a sua fundação, em 1870. Participaram do ato o diretor-executivo do Hospital Sírio-Libanês, Fernando Torelly, o presidente do Beneficência Portuguesa, Augusto Veit, além do presidente em exercício do Conselho da Beneficência Portuguesa, André Ferreira, e o presidente do Simers, Paulo de Argollo Mendes.
O contrato concede a gestão total do hospital para a São Miguel pelo período de cinco anos. Nesse tempo, a nova gestora planeja reunir os credores e oferecer um acordo extrajudicial para o pagamento das dívidas. A partir disso, com o plano de pagamento sendo cumprido, a renovação do contrato estará vinculada ao repasse definitivo de todos os ativos do Beneficência para a associação, incluindo imóveis e bens.
Conforme Rafael França, os 104 funcionários que estão com os salários atrasados há quase um ano devem ser absorvidos pela nova administração.
— Já estamos em contato com os profissionais, apresentando a São Miguel e verificando quem tem interesse em continuar conosco — detalha, ao afirmar que a intenção é manter os vínculos. De R$ 2 milhões a R$ 3 milhões devem ser investidos imediatamente para o recomeço dos atendimentos.
Para Augusto Veit, que assumiu interinamente a presidente do hospital em dezembro do ano passado, a negociação foi uma vitória.
— Desde o início, a nossa grande luta era evitar que o hospital fechasse. A segunda grande luta era alguém que quisesse assumir o hospital. Os objetivos traçados em dezembro foram alcançados. O grande vitorioso disso é o povo gaúcho — considera.
Entenda o caso
O Beneficência passou por uma das piores crises financeiras de sua história. Com 163 anos, a casa de saúde ficou sem pagar os salários dos funcionários desde meados de 2017. A falta de recursos – gerada pela combinação de diversos fatores entre problemas de gestão, ruptura de contratos e recusa de financiamentos – também impactou nos atendimentos, que reduziram de forma drástica. Com isso, a prefeitura de Porto Alegre rescindiu o contrato mensal de 116 leitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Houve troca na gestão do hospital, com a saída do então diretor-presidente e a posse interina do presidente do Conselho da Associação Portuguesa de Beneficência, mantenedora da casa de saúde. A partir de então, o Simers e demais entidades se mobilizaram em uma força-tarefa para salvar a instituição.