Em negociação desde o fim da consultoria do Sírio-Libanês, a locação do prédio do Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre, pela Associação Beneficência São Miguel, que administra a casa de saúde de Gramado, está em tratativas finais. Representantes das duas instituições se reúnem nos próximos dias, na sede do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), para definir os detalhes do contrato.
A informação é do presidente do Simers, Paulo de Argollo Mendes. A entidade acompanha a situação desde o ano passado. Com a locação para outra instituição de saúde, a atual mantenedora do Beneficência poderá quitar, aos poucos, as dívidas do hospital – estimadas em cerca de R$ 80 milhões.
Um dos entraves para deslanchar a negociação é o passivo trabalhista. Atualmente, o Beneficência está comprometido com R$ 150 mil mensais à Justiça do Trabalho. Estima-se que o hospital responda a mais de 700 processos trabalhistas. Por conta disso, uma reunião com a presidência do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4) foi realizada nesta quarta-feira (27). A intenção é mediar um acordo que permita a manutenção dos atendimentos no hospital, mas também preserve os direitos dos trabalhadores lesados.
Com a reunião de quarta e o encontro dos próximos dias, a proposta de locação será avaliada pelo Conselho da Associação Portuguesa de Beneficência, atual mantenedora da casa de saúde.
Instituição interessada
A Associação Beneficência São Miguel é a mesma que assumiu o comando do hospital de Gramado a partir da intervenção da prefeitura realizada em fevereiro de 2016 – até então, a casa de saúde era mantida pela Associação Franciscana de Assistência à Saúde. O mesmo grupo teria assinado contrato de locação com o Hospital Parque Belém, na zona sul de Porto Alegre, fechado desde 24 de maio de 2017. Procurado pela reportagem, o presidente da Associação Sanatório Belém, Luiz Augusto Pereira, confirmou mudanças na casa de saúde, mas não detalhou quais seriam devido ao sigilo de contrato. O mesmo administrador do São Miguel também participou do processo da prefeitura de Porto Alegre para a escolha do novo gestor do Hospital da Restinga – a concorrência foi vencida pela Associação Hospitalar Vila Nova.
Entenda o caso
Fundado em 1870, o Beneficência Portuguesa de Porto Alegre enfrenta uma das piores crises da sua história. A falta de recursos – gerada pela combinação de diversos fatores, entre problemas de gestão, ruptura de contratos e recusa de financiamentos – levou à quase total inutilização dos 201 leitos e impactou nos atendimentos, que reduziram de forma drástica. Com isso, a prefeitura de Porto Alegre rescindiu o contrato mensal de 116 leitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Desde meados de 2017, a atual mantenedora não paga os salários dos funcionários. Para tentar encontrar uma solução, a força-tarefa em prol do Beneficência conseguiu apoio do Ministério da Saúde, que destinou o Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, para realizar uma consultoria à instituição.