Ganharam força, na última semana, os embates entre o escritor Olavo de Carvalho e a ala militar do governo Jair Bolsonaro (PSL). Desta vez, as críticas do escritor se centraram no general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército e atual assessor do Gabinete de Segurança Institucional, que saiu em defesa do também general Santos Cruz, da Secretaria de Governo.
Santos Cruz foi xingado por Olavo, que criticou um cometário do general sobre redes sociais. Villas Bôas, por sua vez, disse no Twitter que Olavo não tem "princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia" e que seria um "Trotsky de direita".
Os pontos de tensão entre Olavo e militares, contudo, não são novidade. Há algumas semanas, o alvo foi o vice-presidente, general Hamilton Mourão, duramente criticado por olavistas e pelos filhos do presidente. Nesta terça (7), Bolsonaro defendeu Olavo, mas disse que esperava que o conflito chegasse ao fim.
Em perguntas e respostas, entenda a relação entre Olavo e o clã Bolsonaro e os frequentes embates entre olavistas e militares.
Qual a relação de Bolsonaro com Olavo de Carvalho?
Bolsonaro conheceu Olavo de Carvalho a partir de seus filhos, em especial o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), que são admiradores do escritor. Em março, durante a viagem presidencial aos Estados Unidos, Bolsonaro, Eduardo e Olavo estiveram em um jantar na residência oficial do embaixador do Brasil em Washington.
Ao deixar o jantar — durante o qual foi homenageado por Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump — Olavo disse ter conversado apenas quatro vezes com o presidente brasileiro e afirmou que não sabia ao certo quais eram as ideias políticas dele.
No início do mês, Bolsonaro concedeu ao escritor o mais alto grau da Ordem de Rio Branco, a Grã-Cruz, condecoração dada pelo governo do Brasil para "distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas, estimular a prática de ações e feitos dignos de honrosa menção."
Qual a influência de Olavo no governo Bolsonaro?
Apontado como guru de Bolsonaro, Olavo foi responsável pela indicação de dois ministros: Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Vélez Rodríguez, demitido do Ministério da Educação (MEC) no início de abril. Seu sucessor no ministério, o economista Abraham Weintraub, foi aluno do escritor. O assessor especial do presidente para assuntos internacionais, Filipe Martins, também é seguidor de Olavo.
Até o momento não está muito claro qual o tamanho da influência do escritor nas tomadas de decisões do governo. Contudo, Olavo é apontado como o pivô de diversas demissões no MEC, e Vélez foi demitido após ter sofrido diversas críticas do escritor.
Qual a origem dos conflitos entre Olavo e militares?
Olavo tem feito críticas públicas à atuação dos militares no governo Bolsonaro, o que inclui o vice-presidente, Hamilton Mourão, e já pediu a seus ex-alunos que deixem o governo. As críticas a Mourão tiveram início na relação do vice com a imprensa. O escritor é um crítico da imprensa e defende que a gestão Bolsonaro não mantenha um bom relacionamento com jornalistas e empresas de mídia.
Além disso, a disputa entre olavistas e membros das Forças Armadas chegou a travar as atividades do MEC. Mais de dez assessores do segundo escalão do ministério foram demitidos ao longo do mandato de Vélez Rodríguez na pasta.
Em abril, um vídeo em que Olavo criticava os militares foi postado no canal oficial de Bolsonaro no YouTube, mas a publicação foi apagada. Um dia depois, Mourão disse que Olavo deveria se limitar à "função de astrólogo", e Bolsonaro afirmou que as críticas do escritor não contribuem com o governo.
Os filhos do presidente ajudam a acirrar esse conflito? Como?
Enquanto o presidente adotou tom mais ameno sobre o conflito entre Olavo e os militares, em especial por meio do porta-voz, os filhos de Bolsonaro mantiveram tom crítico em relação a Mourão. Isso ficou mais visível nas redes sociais de Carlos Bolsonaro, um dos responsáveis por criar a estratégia de comunicação do pai na internet.
Nesta terça-feira (7), o deputado Eduardo Bolsonaro saiu em defesa de Olavo, mesmo após críticas dos militares às declarações recheadas de palavrões e ataques aos generais em publicações do escritor:
Na visão de auxiliares do presidente, o governo acaba deixando para segundo plano discussões consideradas fundamentais como a reforma da Previdência e outros projetos que estão em debate para ter de dar explicações públicas sobre o conflito entre olavistas e outros setores que apoiam Bolsonaro.
O clima de acirramento chega ao Congresso e pode atrapalhar votações?
Olavo de Carvalho já criticou lideranças do Poder Legislativo, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o que impacta diretamente na pauta de votações da Casa. É nela que tem início a tramitação de todos os projetos que são encaminhados pelo Executivo ao Congresso. As críticas de olavistas a Maia irritaram o deputado, que chegou a ameaçar deixar a articulação da reforma da Previdência, considerada fundamental pelo governo para o sucesso da pauta econômica.
Os capítulos mais recentes do embate
No último fim de semana, Olavo xingou o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, ao criticar um comentário do militar sobre redes sociais.
O ex-comandante do Exército general Villas Bôas — atualmente assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) — saiu em defesa de Santos Cruz e fez reprimendas a Olavo, a quem chamou de "Trotsky de direita". A fala foi endossada por militares das Três Forças, que veem em Villas Bôas uma liderança do grupo.
Olavo, por sua vez, disse que os militares se escondem "por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas". O ex-comandante é vítima de doença degenerativa grave.
Como o presidente tem reagido ao embate e o que esperam os militares?
Bolsonaro tem transmitido mensagens contraditórias sobre o que pensa acerca do embate entre Olavo e militares. Ao mesmo tempo em que adota tom apaziguador em entrevistas e em textos lidos pelo porta-voz da Presidência, mantém elogios públicos ao escritor por meio de postagens nas redes sociais, silenciando sobre integrantes das Forças Armadas.
Os militares demonstram insatisfação em relação à postura do presidente e veem na ambiguidade de suas manifestações públicas a ausência de defesa pública das Forças Armadas, das quais já foi membro como capitão do Exército.