Pela primeira vez desde que assumiu o Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro demonstrou publicamente divergência em relação a posicionamento do filósofo Olavo de Carvalho, apontado como seu guru intelectual. Em tom moderado, por meio de nota, o presidente disse que as críticas do escritor a militares "não contribuem" com o governo.
No último sábado (20), um vídeo que mostrava Olavo tecendo críticas a aliados de Bolsonaro, principalmente militares, foi publicado no canal oficial do chefe do Executivo no YouTube e divulgado depois pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um dos filhos do presidente. O vídeo foi apagado no domingo (21) após repercussão negativa.
Críticas a deputados do PSL
Em meados de janeiro, o escritor criticou a visita de uma comitiva de deputados do PSL à China para conhecer um sistema de reconhecimento facial desenvolvido no país. Olavo disse que os integrantes do partido do presidente da República estavam “entregando o Brasil à China". O filósofo salientou que a empresa que seria responsável pelo convite aos deputados é a Huawei, que teve representantes presos na Polônia e no Canadá — neste último caso, a pedido dos Estados Unidos.
— O que vocês sabem do sistema chinês? Vocês estão fazendo uma loucura, entregando o Brasil à China — afirmou na ocasião.
Pedido a alunos
Olavo de Carvalho orientou, em março, seus alunos que ganharam cargos na gestão Bolsonaro a deixarem o governo. Em publicação nas redes sociais, ele disse que a equipe de Bolsonaro está cheia de inimigos do próprio presidente e do povo. Na ocasião, o filósofo subiu o tom contra o vice-presidente Hamilton Mourão, afirmando que “o maior erro de minha vida de eleitor foi apoiar o General Mourão". "Não cessarei de pedir desculpas por essa burrada”, escreveu.
Embates no MEC
O Ministério da Educação (MEC) foi palco de conflito interno entre os chamados "olavistas", militares e técnicos em cargos comissionados na pasta. Após uma série de demissões, o então titular do MEC, Ricardo Vélez Rodríguez, acabou caindo. Vélez Rodríguez é apontado como uma das indicações de Olavo por o primeiro escalão de Bolsonaro. Na época, Olavo “aprovou” algumas exonerações, principalmente de militares.
Embate com ala evangélica
Olavo abriu frente de batalha contra um grupo visto como aliado natural do presidente, o evangélico. O escritor endereçou uma mensagem ao pastor Silas Malafaia após o líder religioso criticar a ideia "simplesmente ridícula" de que Olavo teria mais peso na vitória de Bolsonaro do que os evangélicos.
O brasileiro radicado nos Estados Unidos disse que é preciso ressaltar que igrejas desse quinhão religioso chegaram atrasadas na luta contra um dos maiores bichos-papões da nova administração, o petismo.
Guedes irritado
Ainda em março, o ministro da Economia, Paulo Guedes, usou o jantar em homenagem ao presidente Jair Bolsonaro, em Washington, para questionar diretamente o escritor Olavo de Carvalho sobre as críticas recentes que ele fez o governo.
Guedes ficou incomodado com a crítica de Olavo à gestão Bolsonaro, expressa a jornalistas após sessão que exibiu um filme sobre a vida e a obra do escritor, no Trump International Hotel. O evento foi organizado pelo ex-estrategista do presidente Donald Trump, Steve Bannon. Na época, Olavo chamou Mourão de idiota.
Novo ataque a militares
No último sábado (20), o canal oficial de Bolsonaro publicou vídeo no qual Olavo fazia críticas a aliados de Bolsonaro, sobretudo militares. Na gravação, o escritor questiona a contribuição das escolas militares para o país e diz que o regime militar "destruiu os políticos de direita". O ataque do filósofo gerou desconforto dentro do governo. Mourão disse que o presidente não deve ter assistido ao vídeo antes da publicação e afirmou que o discurso de Olavo demonstra seu "total desconhecimento" sobre como funciona o ensino militar. O vice também destacou que o escritor “deve se limitar à função que desempenha bem, que é de astrólogo”.