O vice-presidente Hamilton Mourão tem sido alvo de constantes críticas pelo filho de Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro. O conflito, que envolve curtidas nas redes sociais, comentários no Twitter e discursos fora das redes, está acontecendo desde o dia 22 de abril e já chamou a atenção do presidente, que disse querer "colocar um ponto final" na discussão pública dos dois.
Entenda como começou a briga entre Carlos Bolsonaro e Hamilton Mourão:
Pedido de Impeachment
— Nunca antes nos primeiros cem dias de governo, um vice-presidente agiu de maneira indecorosa, indelicada, desdizendo tudo que um presidente da República diz —afirmou Feliciano em discurso no plenário da Câmara.
Um dos fatos que o deputado considerou "quebra de decoro" foi a curtida de Mourão em um tuíte da jornalista Rachel Sheherazade, no qual ela elogiava o vice e criticava Bolsonaro.
Um dos incentivadores do pedido de impeachment foi o escritor Olavo de Carvalho, que faz criticas ao vice-presidente desde o início do governo.
O polêmico vídeo de Olavo de Carvalho sobre militares
No último sábado (20), foi publicado no canal oficial de Jair Bolsonaro no YouTube um vídeo em que Olavo fazia críticas aos militares. O escritor questionou contribuição das escolas das Forças Armadas e disse que o regime havia "destruído os políticos de direita". O vídeo foi divulgado, também, na conta de Carlos Bolsonaro no Twitter. Após a repercussão negativa, o conteúdo foi apagado no domingo (21).
Mourão ataca Olavo de Carvalho
Na segunda-feira (22), o vice-presidente rebateu os comentários do escritor, dizendo que Olavo demonstra seu "total desconhecimento" sobre como funciona o ensino militar e que ele deveria se limitar à função "que desempenha bem, que é de astrólogo". Mourão ainda disse que Jair Bolsonaro provavelmente não assistiu ao vídeo antes da publicação.
— Alguém deve ter postado na rede dele — afirmou.
Carlos Bolsonaro entra na discussão
Em resposta ao vice, Olavo de Carvalho postou em seu perfil no Instagram que Mourão deveria se limitar à "única função que desempenha bem, de modelo". Uma das pessoas que curtiu o post foi Carlos Bolsonaro, que ao ser questionado rebateu com uma foto do like de Mourão no tuíte de Sheherazade.
Antes de responder ao jornal O Globo, Carlos também tuitou o print com a frase "Tirem suas conclusões".
Convite para palestra nos Estados Unidos
Na manhã do dia seguinte (23), o vereador tuitou sobre o convite recebido por Mourão, há duas semanas, para palestrar nos Estados Unidos. "Se não visse, não acreditaria que aceitou tais termos. Pronto, já que desta vez não se trata de curtida, vamos ver como alguns irão reclamar. Ainda há muito mais. O jogo está claro", escreveu Carlos na publicação.
Na tradução do convite, é escrito que "os primeiros cem dias do governo Bolsonaro foram marcados por paralisia política" e que "em meio ao barulho político, Mourão emergiu como uma voz da razão e moderação".
Duas horas depois, no Twitter, Carlos Bolsonaro criticou o vídeo do vice-presidente falando sobre a crise política e econômica na Venezuela. No trecho divulgado, ele comenta que a população "tem de estar desarmada porque senão iríamos para uma guerra civil na Venezuela, o que seria horrível para o hemisfério como um todo".
Junto ao vídeo, Carlos comentou "surgem estas pérolas que mostram muito mais do que palavras ao vento, mas algo que já acontece há muito".
O terceiro ataque do dia foi às 19h10min. Desta vez, o vereador relembrou o comentário de Mourão após Jair Bolsonaro ter sido esfaqueado. Em um print de uma matéria do portal G1, o vice diz que o presidente gravaria um vídeo no hospital, mas não "naquela situação". Carlos comenta que, enquanto seu pai "lutava pela vida", Mourão disse que "aquilo tudo era vitimização".
Outra declaração do vice-presidente que não agradou Carlos Bolsonaro foi a que ele deu após o julgamento de redução de pena do ex-presidente Lula. Depois da decisão, jornalistas questionaram Mourão sobre o assunto, e ele respondeu que "decisão do Judiciário não se comenta".
Mourão se pronuncia
Ao deixar o Palácio do Planalto, na terça-feira (23), afirmou que evitaria os conflitos.
— Todo mundo emite a sua opinião. A minha mãe sempre dizia uma coisa:"Quando um não quer, dois não brigam". Vamos manter a calma — explicou a jornalistas.
O vice ainda disse que não teve a oportunidade de conversar com o presidente sobre o tema e ressaltou que Bolsonaro tem o seu ponto de vista sobre o assunto.
— Ele tem a forma dele de pensar. Aguarda, né. Filho é filho — afirmou.
Bolsonaro tenta encerrar a discussão...
Vendo a repercussão da troca de farpas, o porta-voz do presidente, Otávio Rêgo Barros, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro deseja colocar um ponto final na discussão. Durante o pronunciamento, Rêgo Barros disse que Carlos "foi um dos grandes responsáveis pela vitória nas urnas, contra tudo e contra todos".
...mas a briga continua
Desta vez, na manhã desta quarta (24), Carlos recuperou uma fala de Mourão dita em 25 de janeiro. No comentário, o vice sugere que o ex-deputado do PSOL Jean Wyllys, que renunciou ao mandato e deixou o país, deveria ter ficado no Brasil, pois é dever do Estado protegê-lo. Jean havia relatado à Polícia Federal ameaças de morte contra si e a sua família.
Carlos postou em seu Twitter que isso era algo estranho e criticou o "alinhamento com políticos que detestam o presidente".
Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL, saiu em defesa do irmão Carlos.
— O que tem causado bastante ruído são as sucessivas declarações do vice-presidente, de maneira contrária ao presidente da República. O que parece é que, se o general conseguir cumprir a missão dele, que é substituir o presidente no caso da ausência, tudo bem. Ou as missões que o presidente der a ele. Se ele for um soldado do presidente, tudo se encaixa.
Mesmo com os pedidos do pai, relatados pelo porta-voz da Presidência, Carlos não cessou os ataques. Nesta manhã, ele também disse que não está reclamando do vice "só agora", que "são apenas informações".
Além disso, ele retuitou um vídeo no qual se refere às "ambições" de Mourão para assumir o Palácio do Planalto.
Sobrou também para Levy Fidélix, presidente do PRTB, partido de Mourão. Ao defender o vice-presidente das críticas, compartilhando o vídeo de um deputado do partido na Câmara federal, Carlos saiu ao ataque:
"Suas posturas nunca foram novidades para ninguém. Não enganam ninguém."
À tarde, Mourão afirmou que a troca de farpas entre ele e Carlos é página virada.
— O que é que falei ontem? Quando um não quer, dois não brigam, tá bom. Então, esse assunto, vira a página — disse ao chegar ao Palácio do Planalto na volta de um almoço com embaixadores da União Europeia.