Numa tentativa de amenizar a troca de farpas públicas pelas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou, por meio do porta-voz do governo, que quer colocar "um ponto final" na "pretensa discussão" entre o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ)
— De uma vez por todas o presidente gostaria de deixar claro o seguinte: quanto a seus filhos, em particular o Carlos, o presidente enfatiza que ele sempre estará a seu lado. O filho foi um dos grandes responsáveis pela vitória nas urnas, contra tudo e contra todos —afirmou o general Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidência, nesta terça-feira (23).
Ao falar sobre Carlos, segundo Rêgo Barros, o presidente disse que ele "é sangue do meu sangue".
Bolsonaro fez um afago a Mourão dizendo que ele é o subcomandante do governo e que topou o desafio das eleições, acrescentando que o vice tem dele "consideração e apreço".
Sem citar o nome do guru da direita e escritor Olavo de Carvalho, o porta-voz disse que o presidente ressaltou "de forma genérica" que quaisquer outras influências de contribuições com o governo para mudanças no Brasil "serão muito bem-vindas".
— O senhor presidente evidencia que declarações individuais publicadas em mais diversas mídias são de exclusiva responsabilidade de que as emite — afirmou.
Na manhã desta terça, Carlos criticou publicamente Mourão por ele ter aceitado um convite elogioso para palestrar nos EUA há duas semanas. Na noite desta terça, Carlos voltou à carga contra o vice-presidente.
Nas redes sociais, ele afirmou que, "se não visse, não acreditaria que (Mourão) aceitou com tais termos" a proposta feita pelo Wilson Center, tradicional ambiente de estudos e palco de palestras de diferentes campos políticos.
O convite, de 9 de abril, apontava o vice como "uma voz de razão e moderação, capaz de orientar a direção em assuntos nacionais e internacionais".
"Vamos manter a calma", diz Mourão
Mourão, ao deixar seu gabinete no Palácio do Planalto, afirmou nesta terça que tem adotado uma linha de ação de não criar um confronto e exemplificou com um ditado popular.
— Todo mundo emite a sua opinião, tal e coisa. A minha mãe sempre dizia uma coisa: 'Quando um não quer, dois não brigam'. Está certo? Então, essa é a minha linha de ação. Vamos manter a calma — disse.
O general da reserva salientou que não teve oportunidade de tratar a questão com o presidente e ressaltou que Bolsonaro tem o seu ponto de vista sobre o assunto.
— O presidente é o presidente, né. Ele tem a forma dele de pensar. Aguarda, né. Filho é filho — afirmou.
Ao longo do dia, em uma estratégia de evitar que a crise se intensificasse, Mourão evitou falar com veículos de imprensa.
Nos bastidores, ele tem tido o apoio do núcleo militar do Palácio do Planalto, que considera prejudicial ao presidente os ataques e interferências de seu filho, apelidado de "pitbull" nas redes sociais.
Como em crises anteriores, criadas por declarações do vereador carioca, o presidente tem evitado se envolver e, até o momento, não o enquadrou.
A minha mãe sempre dizia uma coisa: 'Quando um não quer, dois não brigam'. Está certo? Então, essa é a minha linha de ação. Vamos manter a calma.
HAMILTON MOURÃO
Sobre críticas de Carlos Bolsonaro
A mais recente crise entre militares e Mourão teve início no último sábado (20), um vídeo em que Olavo fazia críticas a aliados de Bolsonaro, sobretudo militares, foi publicado no canal oficial do presidente no YouTube e divulgado depois por Carlos Bolsonaro. Após repercussão negativa, o vídeo foi apagado no domingo (21).
Na gravação, o escritor questiona a contribuição das escolas militares para o país e diz que o regime militar (1964-1985) "destruiu os políticos de direita".
"Qual foi a última contribuição das escolas militares para a alta cultural nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então foi só cabelo pintado e voz empostada. Cagada, cagada. Esse pessoal subiu ao poder em 1964, destruiu os políticos de direita e sobrou o quê? Os comunistas."
Depois de apagar de suas contas o vídeo de Olavo, na segunda (22), Bolsonaro disse que as críticas do filósofo a militares "não contribuem" com o governo.
"Suas recentes declarações (de Olavo de Carvalho) contra integrantes dos poderes da República não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento de objetivos propostos em nosso projeto de governo", afirmou o presidente por meio de nota lida pelo porta-voz da Presidência na segunda.